23.8.09

OPINIÃO: Solidariedade com os trabalhadores da "Granitos Maceira, SA" e "Singranova", de Alpalhão

“Navegando a Alma” Kemal Tufan (Turquia) -Esta obra situa-se entre a vila de Alpalhão e a Igreja de Nª Srª da Redonda
É uma vergonha o que o Senhor Comendador Francisco Ramos e respectiva família estão a fazer, com a cobertura do governo, nas suas empresas de exploração de granito, vulgo pedreiras, em Alpalhão, ao não pagarem alguns subsídios e mantendo alguns meses de salários em atraso que só não atingem maiores proporções devido à intervenção do sindicato. As empresas são a "Granitos Maceira, SA" e a Singranova.
São mais duas empresas em que tudo está a ser feito para abrir falência. Apesar de não pagarem os salários a quem trabalha, Comendador e filho sempre que se deslocam às instalações da empresa fazem-no em luxuosos veículos topo de gama e lá vão mantendo o seu iatezito para uns passeios marítimos.
Os políticos que compareceram nas cerimónias de inauguração das empresas que foram apresentadas ao país como salvadoras da economia da região e nas bienais da pedra e que clamavam belos discursos prenhes de loas ao Senhor Comendador, agora esquecem-se de defender os trabalhadores que trabalham e não recebem.
Entretanto, o Estado fez o senhor Francisco Ramos, Comendador; a Câmara Municipal de Nisa homenageou-o com o nome e monumento numa rotunda da vila alpalhoense e o povo trabalhador, simples e humilde guardou-lhe o respeito que sempre revela para com aqueles que lhe dão trabalho e salário.
Senhor Comendador, respeite este povo e cumpra para com ele as suas obrigações: pague-lhes o que deve.
Se não o pode fazer e como parece que até há muito trabalho e a produção tem saída, abandone as empresas e deixe a gerência aos trabalhadores.
Afinal já o Zeca cantava: "dêem as pipas ao povo / só ele sabe guardá-las".
Jaime Crespo

9.8.09

A triste entrada norte no Alentejo




A PEN(HA) DO TEJO
Albergaria Penha do Tejo, com vista panorâmica para a Barragem do Fratel, foi inaugurada, numa primeira fase, em 1997, como forma de dinamizar uma das gargantas do Rio Tejo. Apesar de, em tempos já ter tido uma "grande adesão" e de ter sido um complexo turístico, actualmente encontra-se perdida no tempo e é caracterizada por um ambiente degradado e ignorado pelos olhares dos que lá passam.
Onde o Alentejo dá lugar à Beira Baixa, centenas de viaturas percorrem os quilómetros do IP2 à procura de um destino. Do outro lado da via, as águas da Barragem do Fratel, uma das gargantas do Rio Tejo, assumem uma calmaria e serenidade que confrontam o movimento agitado da estrada. As colinas verdejantes e as aves que voam no ar lá ao longe pintam o quadro da paisagem. O sol e o céu azul chamam por descanso e sossego.
Situada entre o IP2 e a Barragem do Fratel está contemplada a Albergaria Penha do Tejo. Uma infra-estrutura que partiu da iniciativa da Comissão Coordenadora Regional (CCR), que foi criada, numa primeira fase em 1997, pela Câmara Municipal de Nisa, com José Manuel Basso no Executivo e inaugurada por Victor Cabrita Neto, secretário de Estado do Turismo, no XIII governo constitucional, em que António Guterres assumia o cargo de primeiro-ministro.
Naquele ano, o empreendimento teve um financiamento de cerca de 250 mil contos e foi apoiado pelo Segundo Quadro Comunitário de Apoio (FEDER), através da Acção Integrada do Norte Alentejano (AINA). 10 era o número total de funcionários que possuía.
Em entrevista ao DP, José Manuel Basso, antigo presidente da Câmara Municipal de Nisa, explicou que “inicialmente, o projecto, que se considerava interessante, foi aprovado para a dinamização da Barragem do Fratel”, acrescentando que este era “um negócio concorrencial”.
De acordo com o antigo presidente da Câmara Municipal de Nisa, depois da primeira infra-estrutura estar inaugurada, avançou-se imediatamente com uma segunda fase, terminada em 2001 e apetrechada com a área de alojamento e uma piscina, para dar resposta a “muitas procuras”. Contudo, a segunda fase da obra nunca entrou em funcionamento. O total do empreendimento contava com cerca de 50 quartos.
Ainda na segunda fase do projecto estava prevista a implementação de equipamentos relacionados com actividades desportivas e náuticas, elo de ligação entre a Albergaria e a Barragem da Penha do Tejo.
"O programa de trabalhos foi apresentado à União Europeia e se o empreendimento tivesse sido continuado nesta fase já estariam implementados os desportos náuticos e o rio já estaria completamente dinamizado", afirmou o médico.
A beleza circundante choca com o cenário de degradação da Albergaria Penha do Tejo. Uma infra-estrutura deixada ao abandono.
Degradação da estalagem
O ambiente de sossego e de conforto da hospedaria deu lugar à degradação e a um cenário deplorável e sombrio.
Cá dentro, as suites, distribuídas em fila indiana, sem portas, deixaram de ter a sua privacidade, só restando, em cada uma delas, um armário, uma banheira e um lavatório. No corredor onde se encontram as suites, o chão é ornamentado por vidros estilhaçados. Das paredes brancas interiores do edifício, saem fios de electricidade danificados. O Hall de entrada que dá acesso ao mini bar é caracterizado por lixeira e por actos de vandalismo. Junto ao restaurante panorâmico e ao bar, transformado em retalhos, restam pinturas de paisagens que guardam lembranças e recordações. A sala de reuniões e de festas resumiu-se ao nada.
Lá fora a serenidade da Barragem do Fratel contrasta com o abandono e a renúncia de piscina, rodeada por mato que teima em trepar cada vez mais os céus alentejanos, esquecendo o relvado fresco de outrora. Ainda lá fora, um parque de diversões, colocado ao abandono, guarda momentos de divertimento que, noutro tempo, faziam as delícias dos mais novos.
O campo gimnodesportivo, destinado a actividades ao ar livre, ainda se encontra intacto à espera que façam uso das funções para que foi construído.
O vandalismo a que a estalagem começou a estar habituada destruiu uma das realidades que poderia vir a ser um marco para o desenvolvimento turístico da região.
"Fiquei preocupado e horrorizado como cidadão." Foi desta forma que José Manuel Basso se sentiu quando confrontado com o estado de abandono e de degradação da Albergaria. Segundo disse, este era "um projecto da Região de Turismo, do município e das gentes do Alentejo e da Beira", lamentando que "quando um processo é parado obviamente que deixa de ter sentido".
Aquando se encontrava ainda no Executivo, José Manuel Basso e a Câmara de Nisa abriram um concurso público para a concessão da exploração do projecto. "Enquanto fui presidente da autarquia, a porta da Albergaria abria todos os dias e eu próprio a frequentava com alguma assiduidade, acompanhando as propostas que haviam para o futuro daquele empreendimento".
Para o antigo presidente, a actual Câmara "tratou o empreendimento como um enteado enjeitado. Quem está no cargo deve ter a responsabilidade de zelar pelo seu património". José Manuel Basso referiu ainda que "há uma concepção que foi desprezada por aquilo que foi abandonado que, sob o ponto de vista político e civil, é condenável".
Esperança
Ao que o DP conseguiu apurar, um grupo de pessoas defensoras da Albergaria está a ultimar uma acção judicial contra a Câmara que se encontra actualmente no Executivo de Nisa, por delação de património.
O DP tentou contactar a presidente da Câmara Municipal de Nisa, Maria Gabriela Tsukamoto, mas até ao momento não foi possível.
José Manuel Basso tem esperança no renascer de um empreendimento que foi morrendo aos poucos. "Sinto-me triste. Precisa-se de um investimento público e de vontade". Contudo, o antigo presidente da autarquia de Nisa tem esperança "que surjam mecanismos por parte dos cidadãos, pois nessa via de intervenção será uma questão de tempo para que hajam formas de gestão para que a infra-estrutura volte a funcionar eficazmente", concluiu.
A Albergaria Penha do Tejo é actualmente local de passeio para animais e caracterizada por um ambiente esquecido, perdido no tempo e ignorado pelos olhares dos que lá passam, à espera que alguém lhe dê um novo rumo.
Ana Pires "O Distrito de Portalegre", 06/08/2009