25.12.10

OPINIÃO- Crato e Nisa: Dois exemplos na defesa das populações

A Câmara Municipal do Crato aprovou, por unanimidade, uma proposta de moção do seu presidente, visando o protesto contra o encerramento do Serviço Local de Segurança Social de Gáfete, anunciado para o ano de 2011.
Considera a proposta, aprovada pelos eleitos da CDU e do PS que o encerramento daquele serviço, a funcionar há dezenas de anos, iria prejudicar a população daquela laboriosa freguesia.
Em Nisa, e no ano da graça do senhor de 2010, o Serviço de Internamento do Centro de Saúde foi encerrado, sem apelo nem agravo, nem tão pouco com o aviso prévio à população. Desapareceu, extinguiu-se, de um dia para o outro, um serviço notável de apoio aos habitantes do concelho e que funcionava desde há mais de 50 anos.
O autor da “proeza” não poderia ter escolhido data mais simbólica: o ano do quinquagésimo (50º) aniversário da inauguração oficial (26/4/1960) do Hospital da Misericórdia de Nisa (Hospital Sub-Regional).
A extinção do Serviço de Internamento, que estaria prevista só após a entrada em funcionamento do novo Centro de Saúde, teve como consequência, para além da perda de uma unidade de prestação de cuidados de saúde de inquestionável valor, a redução drástica do número de profissionais do sector, desde enfermeiros, a pessoal auxiliar e administrativo, levando alguns ao pedido de aposentação e outros a terem de “viajar”, diariamente, para concelhos vizinhos (Crato e Portalegre).
A Câmara, de maioria CDU, tal como a do Crato, perante tal situação e outras, lesivas da qualidade da prestação dos cuidados de saúde à população do concelho, não tugiu nem mugiu. Calou-se, num silêncio aterrador e cúmplice, no que foi acompanhada pela Assembleia Municipal.
Na última sessão deste órgão, no entanto, algo de inverosímil aconteceu. À falta de um protesto e tomada de posição fundamentada sobre tão grave situação, o director do Centro de Saúde achou-se no direito de se apresentar na sessão, não para dar esclarecimentos sobre a estrutura que dirige e os problemas que têm surgido, mas para questionar um dos eleitos acerca de afirmações que terá feito e que terão desagradado ao ilustre funcionário da ARS que as classificou de “gratuitas” e “desadequadas”.
Não conheço o actual director do Centro de Saúde de Nisa. Conheci vários ao longo de dezenas de anos, cada qual com o seu perfil e métodos de actuação. O que sei é que nenhum dos anteriores pôs em causa o Serviço de Internamento e, dentro das suas capacidades, contribuíram para que o mesmo funcionasse como um apoio às populações do concelho, revelando uma profunda sensibilidade sobre o contexto social e económico em que o mesmo se insere.
Se o eleito da Assembleia Municipal e presidente da Junta de Freguesia do Espírito Santo teceu, nessa qualidade, considerações e críticas sobre a insuficiência dos cuidados de saúde prestados à população, essa atitude só o enobrece e deveria ter sido acompanhado por outros eleitos de freguesia e municipais numa tomada de posição mais forte, mais abrangente e, sobretudo, mais solidária, porque justa.
No Crato, eleitos no executivo camarário puseram de parte as “cores” partidárias e uniram-se para clamar por justiça e contra o encerramento de um serviço essencial para a população de uma freguesia.
Em Nisa, pelo contrário, uma iniciativa gravosa para toda a população do concelho, não merece da Câmara ou da Assembleia, o veemente protesto de que era credora, sendo caricato que, a única voz que se ergueu para dizer que “o rei vai nu”, ainda seja, no próprio órgão onde é eleito, alvo da tentativa de censura por parte de quem deveria ser censurado.
Por essas e por outras, é que ainda há que defenda, a pés juntos, que a Coreia do Norte é uma democracia e que o seu “exemplo” futebolístico deva ser seguido com desmedida atenção.
Para bom entendedor...
Mário Mendes

5.12.10

MEMÓRIA: HÁ 190 ANOS UM NATAL DIFERENTE

(Uma lição da História)
Em 15 de Junho de 1821 o Diário da Regência, orgão oficial do Governo, publicava a seguinte Portaria: « Sendo presente á Regencia do Reino em Consulta da Meza do Desembargo do Paço datada em 2 do corrente, que quinhentas a seiscentas pessoas da Villa de Niza, e algumas outras das Villas, da Povoa, e Castello de Vide, concitados em tumulto, e assuada forão ao Matto Real da Povoa no dia 25 de Dezembro do anno proximo passado, quando o seu fructo ainda pertencia aos Rendeiros delle, Francisco Nununes Vizeu, e Companhia; e introduzindo gados de diversos donos, consumirão, e roubarão a lande, e boleta que ainda existia no dito Matto: que passando dahi á herdade do Pai Joanes, no termo da Villa de Niza, no mesmo tumulto e assuada entrárão em huns montados, os quaes igualmente pertencião aos ditos Rendeiros, consumindo com gados, e levando em bestas, e carros o fructo, que estava reservado, e guardado: que violentamente forão expulsos daquelles montados os porcos dos Rendeiros, a quem elles pertencião, sendo conduzidos alguns delles para a Villa de Niza como em segurança das Coimas, a que sugeitarão todos: que nestes violentos, e escandalosos factos, se demorarão os tumultuosos do dia 25 de Dezembro para o dia 26, e continuarão em maior, ou menor numero nos seguintes, destruindo arvores, para sustentar grandes fogueiras, até de todo extinguirem a lande, e boleta, que tudo isto foi praticado principalmente pelo Povo de Niza, havendo-se retirado ás primeiras vozes do Guarda dos mesmos Montados as pessoas das Villas da Povoa, e Castello de Vide, que solicitadas na vespera por Manoel Bernardo, e Francisco Carita, havião tambem concorrido: comportando-se o Povo com tal (...) absoluta nestes tumultuosos movimentos, que foi derribado do Cavallo, em que andava, e ameaçado de morte o Guarda dos montados, proferindo-se iguaes ameaças contra os Rendeiros se alli os apanhassem; que para taes procedimentos pretende ainda a Camara da Villa de Niza achar fundamento; procurando sustentar em sua resposta o bom Direito do Povo, para disfructar aquelles montados, que aliás por documento existentes no Arquivo da mesma Canara se mostrão de diverso dominio daquelle proprietario, que constantemente os tem disfructado por si, ou seus Rendeiros até o anno proximo passado; sendo que o Juiz de Fóra da mesma Villa, não authorisára, mas procurára socegar o Povo, e por pregões fizera declarar ainda quando o tumulto, e roubo continuava nas herdades de Pay Joannes, que ninguem voltasse a ella. E parecendo á Meza que huma verdadeira assuada o ajuntamento da gente, que praticou os factos, que causarão aos Supplicantes os damnos de que se queixão, se deve na fórma da Lei proceder a devassa, para se conhecer dos que dos que a convocárão, e praticarão, a fim de serem nos Juizos competentes condemnados nas penas da Lei, e no reçarcimento dos prejuizos, que se liquidar haverem causado aos Supplicantes; podendo ser Juiz da mencionada devassa o Corregedor da Comarca de Portalegre, que já tinha informado para a dita Consulta, o qual poderia ser juntamente encarregado de reprehender no Real Nome de Sua Magestade a Camara da Villa de Niza pelas falças razões, e motivos, com que pretende escusar os mencionados factos, e de igualmente a obrigar a retituir as Coimas, que injustamente houve do gado dos Supplicantes, por terem entrado na herdade de que erão Rendeiros: A Regencia do Reino tomando em consideração o referido, e tudo o mais que consta da referida Consulta: Manda em Nome d’El Rei o Senhor D. João VI, que a Meza faça proceder na conformidade do seu parecer: E pela Repartição dos Negocio da Guerra, se expede Ordem ao Governador das Armas da Provincia, para pôr à disposição do dito Corregedor trinta homens de Cavallaria, quando elle os pedir, participando-se a este, que se acompanhe delles, durante a diligencia: Manda outro sim que sejão riscados da Governança os nomes dos Membros da Camara, que infuirão, e sustentão o procedimento arbitrario, e tumultuoso do Povo, dando a Meza a este respeito a necessaria providencia, para que sejão substituidos convenientemente. O que tudo se participa á sobredita Meza, para sua inteligencia e execução. Palacio da Regencia em 15 de Junho de 1821. = Conde de Sampayo. = S. Luiz. = Carvalho. = Cunha. = Oliveira.»
Ficamos, assim, a saber que no dia de Natal de 1820, várias centenas de pessoas de Nisa, Póvoa e Castelo de Vide se juntaram em assuada e invadiram o Mato da Póvoa e a herdade de Pai Anes. Assuada é um termo que deriva do árabe onde tinha o sentido de protesto, passando para o português com esse significado, mas com o duplo-sentido de vaiar ou reclamar. Nos dias de hoje chamamos às assuadas manifestações. Esta manifestação de protesto das gentes de Nisa, Póvoa e Castelo de Vide parece ter sido preparada ao pormenor. Ainda mal se tinham extinguido os ecos da Revolução de Agosto desse ano e já a Câmara de Nisa, aproveitando o balanço da onda liberal que varria o País de Norte a Sul, organizava uma ocupação simbólica de terras pelo povo. O dia foi criteriosamente escolhido por ser Natal e, logo, haver menor capacidade de reacção dos proprietários, rendeiros ou das autoridades. O gado dos rendeiros foi expulso e apresado para pagamento de coimas, pretendendo, a Câmara, com este gesto, inverter, ainda que simbolicamente, o direito de propriedade daquelas terras.
Se a organização da assuada foi da responsabilidade da Câmara de Nisa, fica claro, pelo relato dos factos, que as câmaras da Póvoa e Castelo de Vide também colaboraram, pelo menos de início. Aliás aquelas terras diziam mais respeito ao povo destas duas vilas que, propriamente ao povo de Nisa, pois faziam parte do Morgado da Póvoa e eram os seus lavradores que, mediante foros, nelas trabalhavam. Há um facto referido na Portaria que descreve os acontecimentos que deixa perceber uma participação organizada e, de certo modo, diferenciada das gentes da Póvoa. Diz-se, a dado passo, que as pessoas da Póvoa e Castelo de Vide se retiraram às primeiras ‘vozes’ do guarda. Ora conseguir impôr uma tal disciplina a uma centena ou mais de pessoas amotinadas no meio de mais quinhentas ou seicentas, só com uma organização bem preparada e liderada, já que não foi, seguramente, o medo que originou a retirada, tanto mais que o pobre do guarda ainda foi derrubado do cavalo e ameaçado de morte.
Alguém estava, portanto, a orientar a participação dos povoenses na ocupação das terras e decidiu, no momoento, que considerou oportuno, demarcar-se do desenrolar das acções. De facto, era evidente para todos que, mais cedo ou mais tarde, a situação seria reposta a favor dos rendeiros, um extremar de posições acabaria por ser prejudicial, especialmente para quem teria que lidar o resto da vida com os proprietários e rendeiros. Como vimos o resultado final foi a condenação da Câmara de Nisa e a proibição dos seus membros poderem voltar á ‘governação’. Quem estava por detrás da participação das pessoas da Póvoa no movimento de protesto era alguém que considerava, por um lado, vantajosa a accção de protesto, mas, por outro, pretendia guardar uma certa distanciação que permitisse prosseguir uma estratégia autónoma. O envio às Cortes de uma petição sobre o conflito de interesses entre o proprietário e rendeiros do morgado da Póvoa e os lavradores da terra, apenas dois dias após a publicação da Portaria, deixa claro que o ou autores da petição era ou eram os mesmos que lideravam o movimento das pessoas da Póvoa.
José Carrilho Pereira é quem assina a referida petição na qualidade de Juíz Ordinário do Concelho de Póvoa e Meadas. Os juizes ordinários eram eleitos pelo povo dos concelhos, de acordo com o estabelecido nas Ordenações Filipinas, o juíz deveria ser o vereador mais velho. O juíz ordinário exercia a função judicial sendo-lhe apresentados, em primeira instância, todos os factos ocorridos na área do Concelho. Quanto à jurisdição cível, tinha alçada, sem apelo nem agravo, até 1000 reis nos bens móveis e 400 reis nos bens de raíz, em concelhos com mais de 200 vizinhos, nos outros a alçada para os bens móveis ia somente até aos 600 reis, o que devia ser o caso da Póvoa, por essa altura. No que diz respeito à jurisdição crime, julgava os casos de injúrias verbais, almoçataria e furto de escravos, também sem apelo nem agravo, sendo a alçada de 6000 reis para os primeiros casos e de 400 reis para o furto de escravos. Não há notícia de escravos, nesta época, na Póvoa, pelo que a acção de José Carrilho Pereira se limitaria aos pequenos conflitos, naturais entre habitantes da mesma terra.
Ao contrário do Juíz de Fora, nomeado pelo rei, que não podia execer na própria terra, nem nela ter quaisquer laços de parentesco, o Juíz Ordinário era um habitante da terra e, supõe-se que com prestígio, pois exercia o cargo por eleição. Como símbolo da sua autoridade o Juiz Ordinário possuía uma vara que, de acordo com o Código Filipino, devia empunhar sempre que andasse pela vila, em serviço a pé ou a cavalo, sob pena de uma multa de 500 reis.
Como membro do Concelho da vila, o juíz acabava também por participar nas acções de defesa dos direitos dos moradores do Concelho e, é nesse papel que vamos encontrar o Juíz Carrilho Pereira em 1821. Em 17 de Junho desse ano assina a seguinte petição às Cortes:
«Senhor,
O Soberano e Augusto Congresso da Nação que tão disveladamente tem solicitado os interesses d’ella e que tão sobejas provas tem dado de zelo e amor patriotico nas sabias decizoens que, admirando o mundo, vão pôr Portugal ao rival das naçoens mais illustradas, fazendo-lhe recuperar o lugar que o espirito do despotismo lhe havia feito perder, não pode deixar de lançar suas vistas de justiça e beneficencia sobre os infelizes habitantes d’esta villa que tiverão a disgraça de pertencer em sorte a hum donatario que por si e seus rendeiros não tem cessado de opprimilos. Este povo que vive de lavouras e criaçoens acha se reduzido a hum estado de mizeria de que só a mão poderosa de Vossa Magestade pode livralo.
Não contente o Donatario Marquez de Loulé de receber desta villa os muitos direitos que o foral lhe concede, elle os tem feito estender a medida da sua ambição, valendo-se da ignorancia e rusticidade deste povo. Que importa que o foral de que juntão copia authentica só permetta ao Donatario receber na Miada aos de fora renda das ervagens se o marquez a tem constantemente recebido dos mesmos da terra? Que importa que elles tenhão o direito de apascentar seus gados e cortar na defeza do Soveral em todo o tempo (porque isto só he prohibido aos de Castelo de Vide, nos tres mezes indicados no mesmo foral), se elles não gozão de similhante prerrogativa, são considerados como os de fora e pagão a lande se a precizão? De modo que a unica regalia que este povo conservava, de preferir aos de fora na compra da lande para conservação das criaçoens a que particularmente deve este destricto a sua subsistencia, foi acabada de annaquilar pelo actual rendeiro Manoel de São Thiago que, arrendando parte de montado aos de fora do termo e utilizando-se elle da outra parte, pôz os disgraçados criadores na triste necessidade de venderem seus porcos. Que importa que o Carvalho seja baldio para o povo se o mesmo rendeiro principia a espolialos da sua regalia?
Parece impossivel que este povo tenha athe agora vivido tão alucinado e ignorante dos seus deveres para com o donatario e tenha sido para com elle tão condescendente! Mas senhor, sendo este povo todo agricola, onde he rarissima a pessoa que saiba ler e onde ninguem possue os mais leves conhecimentos, facilmente se sugeita e he conduzido pelos rendeiros e feitores do Marquez, homens ardilosos e que só tem em vista o locupletarem-se e a seu amo. Hum povo composto de gente desta ordem, e em geral muito pobre, não podia disputar com o Marquez de Loulé, gentil homem da Camera e valido do Soberano, ainda que elle tivesse bem conhecido a extensão dos direitos do seu donatario, principalmente sendo como he dos rendeiros ou feitores a distribuição das terras em que devem lavrar porque todo o que ouzasse alçar a voz ficaria sem terras e sem ellas que faria? Quantas vezes os rendeiros fazem calar com ameaças na distribuição das terras qualquer que se oppoe, ainda que justamente, a suas pertenções ou extorssões?
Senhor, o povo desta villa tem vivido n’hua rigorosa escravidão: seus moradores pagão o 6º do pão que lavrão, e o 8º de linho e vinho; pagão ervagens sem as deverem; não são mantidos nas regalias que lhes permitte o foral, e são opprimidos por todos os modos.
A vista do que fica exposto e do foral, pertende este povo que Vossa Magestade lhe declare se em execução do decreto sobre direitos banaes deve ou não continuar a pagar os 3 alqueires de trigo que lhe manda o foral; se deve ser obrigado ao pagamento das ervagens na Meada, se deve ser conservado no uzo e posse de ser baldio o Carvalhal e que a distribuição das terras aos lavradores seja feita pela Camera que milhor do que ninguem conhece a necessidade de cada hum e a extensão de suas lavouras e finalmente se devem utilizar-se da defeza do Soveral. »

Pelo enunciado de queixas contido na petição percebe-se que os lavradores da Póvoa tinham razões de sobra para terem participado na assuada e que tal movimentação serviu de suporte ás reivindicações que decidiram apresentar ás Cortes.
A resposta à petição só chegou a 28 de Fevereiro de 1822, assinada por dois membros da Assembleia, com a indicação de que esta não considerava que o assunto devesse ser tratado pelas Cortes. Apesar desta resposta a Câmara da Póvoa enviou em Setembro desse ano uma carta de felicitações às Cortes e que ficou registada em acta na sessão de 28 de Setembro de 1822.
A 7 de Outubro de 1822, aproveitando a publicação da Lei dos Forais de 3 de Junho desse ano, a Câmara da Póvoa volta a enviar uma petição às Cortes centrada em dois pontos:
a) pagamento da renda de ervagens na Meada
b) pagamento de três alqueires de trigo, que ou devia ser abolido ou reduzido a metade, consoante a interpretação que fosse dada a esse direito do donatário.
A resposta foi ainda mais lacónica do que a anterior, reduzida a uma nota à margem, assinada por um tal Passanha.
Gostaríamos de saber mais sobre este juíz José Carrilho Pereira que, parece, seria um dos rarissímos povoenses que, na altura, saberiam ler e escrever. Infelizmente não é poosível adiantar mais sobre a sua personalidade a não ser a capacidade de liderança da comunidade que se deduz do facto de ter sido eleito para o cargo que exerceu e pela iniciativa de defesa dos direitos dos lavradores da Póvoa.
Quanto ao donatário, Marquêz de Loulé, de nome Agostinho Domingos de Mendonça, sabemos que entrou no senhorio de Póvoa e Meadas por herança de seu pai, José Maria de Mendonça e Moura, 7º Conde de Vale de Reis. Em 1801 combateu ao lado das tropas francesas e espanholas que invadiram Portugal, ao seviço de Napoleão. Por isso, foi preso e condenado à morte em 1811, no entanto, conseguiu fugir para o Brasil, acabando por obter o perdão em 1818, no Rio de Janeiro. Regressou a Portugal e acabou por ser assassinado em Salvaterra de Magos em 1824.
Como se pode constatar pelo teor das petições dos lavradores, o senhorio e o seu rendeiro Manuel de Santiago, visavam alcançar dois objectivos essenciais: a concentração da posse das terras e o aumento das rendas em dinheiro, pois que, à época, a simples posse da terra começava a não ser suficiente para a manutenção do estatuto de nobreza, cada vez mais o dinheiro se tornava fundamental. Para atingir os seus objectivos tomaram as seguintes medidas atentórias dos direitos dos lavradores: aumentaram de forma ilícita as rendas em dinheiro; expulsaram os camponeses que detinham direitos de exploração de determinadas terras para os poder substituir por outros que, sem direitos, pudessem ser obrigados a pagar rendas e apropriaram-se indevidamente de terras que constituíam baldios.
Apesar da derrota, inevitável, dada a desproporção de forças dos contendores e a indiferença do poder, há que realçar a coragem dos lavradores da Póvoa, liderados por José Carrilho Pereira, que ousaram enfrentar os seus opressores e puseram a nu a hipocrisia do poder, que se afirmava liberal e revolucionário. A luta dos lavradores da Póvoa acabou por trazer uma pequena mudança nas suas relações com os rendeiros. Na petição é claro que o principal visado pelas queixas é Manuel de Santiago, enquanto que, na portaria, se indica que os rendeiros são Francisco Nunes Vizeu e Companhia. Este último terá sub-arrendado as terras a Manuel de Santiago e esta sucessão de gente a pretender retirar rendimentos do trabalho dos lavradores: Marquês de Loulé, Francisco Nunes Vizeu e Manuel de Santiago é, em parte, responsável pelos abusos do rendeiro que se terão tornado um problema e que terão levado Francisco Nunes Vizeu a desfazer a sociedade com Manuel de Santiago de que deu conta em 21 de Outubro de 1823 em anúncio publicado na Gazeta de Lisboa.
A forma como o novo regime liberal saído da Revolução de 1820 encarou a questão agrária, afrontando simultãneamente os detentores da terra e os camponeses, visando criar as condições para um sistema de exploração agrícola moderno e liberto das peias dos morgadios, dos forais, dos pastos comuns, etc., acabaria por empurrar a grande maioria do mundo rural para uma posição reacionária à qual se juntaria também o clero e que apenas esperava quem se apresentasse como paladino da luta em defesa do Trono, do Altar e da Nação. D. Miguel, qual Arcanjo do mesmo nome, qual novo D. Sebastião, encarna o papel de redentor da Pátria e em 27 de Maio de 1823 encabeça a revolta absolutista conhecida por Vilafrancada, pois partiu de Vila Franca de Xira. A região de Portalegre aderiu em massa à causa de D. Miguel que, entre 2 e 4 de Junho de 1823 foi aclamado rei no Gavião, Nisa, Montalvão, Póvoa, Meadas, Castelo de Vide, Arez, Vila Flor, Alpalhão, Arronches, Elvas e Portalegre. Apenas nesta cidade terá havido alguma oposição por parte dos constitucionalistas liberais. A revolta não foi totalmente vitoriosa porque D. João VI decidiu recuperar a iniciativa e restaurou o absolutismo, mas mais moderado do que o que desejava D. Miguel e sua mãe D. Carlota Joaquina. Porém, menos de um ano depois, em 30 de Abrl de 1824, o partido de D. Miguel e D. Carlota iniciam nova revolta, conhecida por Abrilada, com vista ao derrube de D. João VI e à implantação total do regime absolutista. D. Miguel foi mais uma vez derrotado e exilado em Viena, mas haveria de voltar em 1828 e fazer-se aclamar rei. Estalou, então uma guerra civil que só terminaria em 1834 com a vitória definitiva do Liberalismo.
No decurso da guerra o lado absolutista utilizou todos os meios para obter formas de financiamento para o esforço de guerra, desde requisições de animais, especialmente cavalos, requisições de víveres, impostos especiais e donativos mais ou menos voluntários. Os povoenses não perdoaram a forma como haviam sido ignorados pelo regime vintista e apoiaram abertamente o miguelismo, contribuindo com donativos para o exército. Os primeiros de que há conhecimento foram, em 1829, António Correia Faustino que ofereceu um recibo de trinta e seis mil reis, que lhe eram devidos por uma égua, vendida em 1809 para o exécito e António Barreiros, o Velho, que ofereceu três recibos de valores que lhe eram devidos por vários géneros fornecidos ao exército em 1820 e 1827. No ano seguinte aparecem o Capitão João Marcelino com 12$000 reis e Manoel Rodrigues Miguel com 1$000 reis que, em conjunto com outros, totalizaram a quantia de 39$440 reis a que há a juntar 70 alqueires de trigo. Alguns anos mais tarde o apoio dos povoenses é ainda mais evidente e substtancial. No início do ano de 1832 há uma campanha para angariação de donativos entre os moradores da Póvoa, organizada pelo Vigário da Vara João Carrilho Semedo que doou 2.400 reis tendo os restantes contribuintes entregue a quantia de 3.140 reis. Em Setembro do mesmo ano há nova campanha de angariação de donativos que rendeu 58 alqueires de trigo, 23 alqueires de centeio, 12 alqueires de cevada e ainda um vale com a importãncia de 25,5 alqueires de trigo e 24 de centeio. Da lista de contribuintes consta José Carrilho Pereira, sem mais indicação do que a oferta de 1 alqueire de tigo e 1 de cevada. Em 1833 aparece, de novo, o Vigário João Carrilho Semedo com o donativo de 10 panos de linho da terra, o Capitão de Ordenanças João Marcello da Costa com 6 panos de estopa e João Domingos com 11 e ainda José Carrilho Faustino com uma manta ou um cobertor.
Para que conste a Gente da nossa Terra que apoiou então o regresso de D. Miguel foi, para além dos já nomeados, a seguinte:
Este episódio ilustra bem o resultado prático que advém da desilusão dos povos relativamente aos governos que, apregoando princípios progressistas, acabam por enveredar por políticas de sentido contrário. Como vimos, o povo da Póvoa, passou de uma posição de entusiástico apoio à Revolução de 1820 para uma posição de seguidismo do primeiro ‘Salvador da Pátria’. No nosso tempo já assistimos à vitória de Salazar, apesar de morto e enterrado, num concurso televisivo. Pode bem ser um sinal dos tempos e, os que se avizinham, não prometem nada de bom para o povo português.
Jorge Rosa

1.12.10

1 DE DEZEMBRO: Dia Mundial Contra a SIDA

Vive-se muito preocupado
Com a doença da SIDA
Por esta já ter tirado
A muitas centenas, a vida

Há razão para temer
Doença tão perigosa
Apesar de não cancerosa
Seres humanos faz sofrer
E muitos já fez morrer
Aquele mal tão malvado
Que traz o doente desanimado
E a viver com amargura
Mas como aquilo não tem cura
Vive-se muito preocupado

Não podemos desanimar
Nem perder a esperança
Se a malvada doença
Um dia se vai curar
Portanto, vamos esperar
Fazendo a nossa vida
Não pensando na despedida
Para não desanimar
E muito menos preocupar
Com a doença da SIDA

Vamos encarar com paciência
Aquela doença malina
Confiar na medicina
E na sua competência
Porque a sua experiência
Doentes tem conformado
E muitos a tem curado
Ao longo da nossa vida
Não queira pensar na Sida
Só por que a vida tem tirado.

Dizem que a sua evolução
Foi o acto sexual
Portanto se receia o mal
Àquele preste atenção
E não aproveite a ocasião
Da mulher desconhecida
Procure evitar a Sida
E tenha muito cuidado
Porque ela já tem tirado
A muitas centenas, a vida.
J. Tremoceiro - Poeta Popular

22.11.10

PEDRO BAPTISTA: Filho ilustre de Pé da Serra

Pedro Batista, o cientista que está estudando e construindo um fígado, assunto amplamente divulgado, por toda a imprensa mundial, é descendente do Pé da Serra.
Seus pais e avós, residem na freguesia de São Simão, no Pé da Serra.
Seus avós, foram pequenos comerciantes e agricultores.
Seu pai está aposentado do Ministério das Finanças e sua mãe aposentada do Ministério da Educação.
A comunidade Pé da Serrense, espalhada pelos quatro cantos do mundo, está orgulhosa do filho ilustre que tem, o qual está desenvolvendo um trabalho notável e pioneiro na criação de fígados.
Rapaz inteligente, pacato, como é próprio das grandes personalidades, tem sempre mantido uma estreita ligação às suas origens.
Temos a certeza, que o seu nome ficará para sempre, indelevelmente ligado ao enorme avanço que toda a sua acção nesta matéria causará na evolução da medicina.
Na próxima época natalícia, não vai ter tempo para receber tantos abraços e parabéns dos familiares e amigos do ´Pé da Serra. Aqui lhe deixo já um convite muito especial, ir à lenha para o lume do Natal.
José Hilário

10.11.10

NISA: Cientista com origem no concelho brilha nos EUA

Os bons fígados de Pedro Baptista: De Portalegre à Carolina do Norte para criar células hepáticas
Joseph Ernest Renan, filósofo e historiador francês, dissera: “Em todas as coisas humanas, são sobretudo dignas de estudo as origens”. Pé da Serra, a oito quilómetros de Nisa, em Portalegre, só conheceu os caminhos do progresso após o 25 de Abril, segundo os registos e talvez por ter sido calcetada pelo inconformismo durante tanto tempo.
Pedro Baptista – o jovem cientista português de 33 anos, que desenvolveu células hepáticas em laboratório, no Instituto de Medicina Regenerativa do Centro Médico Baptista da Universidade de Wake Forest, em Winston-Salem, na Carolina do Norte (E.U.A), uma espécie de ‘mini-fígados’ – revelou-se tenazmente contra a resignação e diz agora que não arredará o pé dali “enquanto não tentar o transplante”.
Este investigador, que frisa ser “um alentejano de gema”, tem percurso marcadamente lusitano e revelou ao «Ciência Hoje» (CH) que, após conseguir aquilo que se propõe [o transplante de um órgão completo], almeja que o futuro seja igualmente em terras lusas. Mudou-se para os Estados Unidos em 2004 para realizar o doutoramento e é um elemento do extinto programa de Biomedicina da Gulbenkian.
“Lembro-me perfeitamente do momento em que quis seguir esta área”, disse. E acrescentou que ao longo da constituição do ano académico, aquando de um dos temas dos seminários sobre Biologia do Desenvolvimento e Células Estaminais "foi quando o interesse se fixou”. “É isto, aquilo que realmente quero fazer”, exclamou.
Células hepáticas criadas em laboratório
O empenho aumentou com a procura de um laboratório onde pudesse criar um novo tecido ou órgão. Pedro Baptista licenciou-se em Farmácia, na Universidade de Lisboa e, como tal, desenvolver um fígado ou uma plataforma que o permitisse realizar novos testes farmacológicos ou toxicológicos (testar químicos usados na alimentação) são uma ambição crescente. Contudo, existem “muitas barreiras para conseguir recriar o órgão na sua totalidade, como o número de células necessárias (milhares de milhões),por falta de tecnologia”, sublinhou.
A actual alternativa é “obter hepatócitos [células encontradas no fígado capazes de sintetizar proteínas, usadas tanto para exportação como para sua própria manutenção] de alguns destes órgãos recolhidos para transplante – e já usados em terapias celulares – ou criar esta ‘bio- engineering’ do fígado”, sustentou ao CH.
Vantagens das células adultas
Para o cientista alentejano, a grande vantagem destas células humanas adultas, por serem maduras, é superior em relação às embrionárias, que são progenitoras. Estes avanços têm inúmeras aplicações para doenças metabólicas e hepáticas. “Nestes casos, as terapêuticas celulares são a maior solução”, revela.
Em situações de cirrose crónica, Pedro Baptista explicou que “o transplante é a única solução e terá ser um órgão saudável novo ou criado em laboratório”. Ainda, usar o modelo 'bio-engeneering’ no desenvolvimento de embriões humanos ou para estudos sobre o cancro, tal como já está a fazer com metástases do cólon, são outras possibilidades.
Entretanto, os mini-fígados têm 2,5 centímetros de diâmetro e pesam menos de seis gramas. Para serem utilizáveis, deveriam pesar pelo menos meio quilo e “uma vez transplantados, estes órgãos conservam a suas funções iniciais e vão ganhando outras à medida que se desenvolvem”. Depois de conseguir, “não sei a quem é que este trabalho poderá interessar”, mas “existem excelentes institutos em Portugal”, revelou. E não conteve de frisar algumas das suas preferências como: “o Instituto de Medicina Molecular, que tem medicina regenerativa; a própria Gulbenkian, em Biologia do Desenvolvimento; o Instituto Nacional de Engenharia Biomédica ou ainda os 3 B’s da Universidade do Minho”, concluiu. O estudo já foi publicado no jornal «Hepatology».
Marlene Moura in “Ciência Hoje” - www.cienciahoje.pt

3.11.10

NISA: Bodas de Ouro Matrimoniais

O casal Joaquim Maria Delfino e Catarina da Graça Matias, comemorou no passado dia 29 de Agosto, 50 Anos de Matrimónio.
O casamento realizado na Igreja Matriz de Nisa em 29 de Agosto de 1960 foi agora evocado numa festa familiar que juntou filhos e netos num restaurante da Nazaré onde se deslocaram em passeio para comemorar tão feliz efeméride.
Ao casal Joaquim Delfino e Catarina Matias, os nossos parabéns e votos de uma longa vida.

22.10.10

JOAQUIM MAURÍCIO: Um justo reconhecimento

Bombeiro de Nisa condecorado com Medalha de Mérito pelo Ministro da Administração Interna
O bombeiro Joaquim da Conceição Marques Maurício, do Corpo de Bombeiros de Nisa vai ser condecorado no dia 22 de Outubro na sede da Autoridade Nacional de Protecção Civil, em Carnaxide, numa cerimónia presidida pelo Ministro da Administração Interna, Rui Pereira. Joaquim Maurício vai receber a Medalha de Mérito de Protecção e Socorro, no Grau Cobre e Distintivo Azul por ter sido o bombeiro que em 2009 cumpriu mais horas de serviço operacional no distrito de Portalegre.
No despacho de atribuição das condecorações a 18 bombeiros de todo o país, o Presidente da Autoridade Nacional de Protecção Civil, Arnaldo Cruz, refere:
“ Durante o ano de 2009 dezoito bombeiros desempenharam, em regime de voluntariado nos vários corpos de bombeiros a que pertencem e em função das inúmeras missões que lhes estão cometidas, um conjunto de serviços excedendo largamente o limite mínimo de horas previsto no diploma que regula o cumprimento do “Serviço Operacional”.
Além da elevada dedicação e empenho que colocaram no trabalho desenvolvido, revelaram assinaláveis qualidades de competência, sentido de responsabilidade, rigor e total abnegação.
O profissionalismo destes voluntários, aliado à sua disponibilidade e entrega à causa pública, fazem deles um exemplo a seguir e uma mais -valia para qualquer organização no sector da protecção e socorro prestigiando, com a sua acção, as Associações a que pertencem e a própria Autoridade Nacional de Protecção Civil.”

12.10.10

NISA: Ex-Combatentes homenageiam camarada falecido






Foi no passado Sábado, 9 de Outubro, que os ex-Combatentes da “3ª Companhia de Alunos Pára-Quedistas da Comissão de Serviço do Ultramar - Moçambique/Angola” se reuniram no seu convívio anual, sendo Nisa o local de eleição.
Sob o lema “Famosa Gente, à Guerra Usada” os companheiros do ex-Ultramar, juntamente com os seus familiares, iniciaram o dia comemorativo pelas 9h30 no auditório da Biblioteca Municipal com uma pequena palestra moderada pelo nisense João Polido que organizou o encontro deste ano, havendo a oferta de lembranças do Município de Nisa, ao qual a organização agradece também a cedência do auditório. O grande momento deste encontro foi a homenagem póstuma no cemitério de Nisa aos antigos Combatentes, em especial ao nisense pára-quedista nº 1183/73 José Maria Pereira Mendes (José Galucho) com a colocação de uma coroa de flores e de uma placa de homenagem na sua campa.
O convívio culminou com os 120 participantes, vindos de todo o país, num almoço em Gáfete servido pelo restaurante “O Lagarteiro”, acompanhado pela animação musical dos “Domingos & Dias Santos” e que se prolongou pela tarde fora. Espera-se assim que se repita por muitos anos este convívio anual de confraternização e de reencontro entre os antigos companheiros da Guerra Colonial.
Nuno Cebola

28.9.10

Passeio a pé pela toponímia nisense (III)

A PORTA DA VILA
Prosseguimos o nosso passeio a pé pelas ruas e topónimos de Nisa.
Um passeio no qual revisitamos lugares, viajamos no tempo e sentimos o pulsar de cada artéria, largo ou ruela.
As ruas tal como as pessoas têm a sua história. Histórias onde entram muitas outras, mais pequenas, pedaços de épocas tão diferentes.
Histórias nas quais se entrecruzam a tristeza e a alegria, a dor e a festa, a guerra e a paz, o individual e o colectivo.
As ruas, tal como as pessoas também têm um nome: nomes que podem dizer muito, quase tudo, ou que nada significam.
Algumas até, tiveram já vários baptismos, no bom estilo “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” sofreram atentados e amputações, “viram” desaparecer um riquíssimo património histórico-cultural.
As ruas, as terras, são um pouco do que nós somos e, fazendo parte da nossa memória colectiva, da nossa identidade sócio-cultural merecem que olhemos para elas com consideração e respeito.
Deixemos o alerta e caminhemos...
Começámos esta série de textos pela Rua Direita, parámos na Praça e voltamos, hoje, ao ponto de partida: a Porta da Vila, principal entrada da primitiva Nisa e que D. Dinis mandou edificar.
Ao espaçoso largo defronte, o mais central e monumental de Nisa, foi posto em 1919 o nome de Serpa Pinto. Não percebemos porquê, mas os edis da altura terão tido as suas razões. É inegável que os feitos do explorador luso desbravando o sertão africano seriam dignos de registo toponímico, mas outras artérias estariam mais “receptivas” a essa função. Este largo, não!
Em 1981, novo baptismo. Por deliberação da Assembleia Municipal e no âmbito das comemorações dos 700 anos da fundação da vila, pretendeu-se homenagear o Dr. António Granja, ilustre médico, homem simples e dedicado ao bem comum, adversário do regime salazarista, republicano convicto, dando ao largo o seu nome.
A decisão do executivo municipal, não correspondeu, no entanto, nem à letra nem ao espírito da proposta.
O nome do insigne médico deveria ir para uma nova rua, das diversas que na altura se abriram. Nunca ao principal largo de Nisa.
Pior ainda foi feito com o busto do Dr. António Granja.
A solução arquitectónica de conjunto poderá encher de júbilo aqueles que o projectaram e fizeram (e, certamente, de algum proveito), mas está em oposição ao carácter do homem e do espírito social que foi o do Dr. Granja.
Um busto simples num espaço ajardinado no centro, como aquele que existia (apesar de pensarmos que um busto de D. Dinis estaria mais a propósito no largo monumental) ficaria mais a condizer com o viver simples e o cidadão de corpo inteiro que foi o Dr. Granja.
Quanto ao largo, por muitas voltas que a terra dê e por muitas designações que lhe ponham há-de ser sempre o da “Porta da Vila”.
Porta da Vila, entrada no “Japão” e na “Vila”, um espaço de memórias e vivências que toca, bem no fundo, a cada um dos nisenses.
A Porta da Vila era o “centro do mundo”. Um rodopio de gente a entrar e a sair, as inúmeras lojas de mercearias e salsicharia, padaria, de venda de frutas e hortaliças, sapateiros, barbeiros, farmácia e até, pasme-se, de electrodomésticos.
O primeiro café de Nisa “nasceu” ali, em Dezembro de 1945 e chamava-se “Restauração”, situado nos baixos da casa do senhor Carmona. Havia também, mais antigo e com o pomposo nome de Cervejaria (e casa de chá), o estabelecimento do senhor António Alberto, uma simpatia, e da senhora Joana, frequentada, sobretudo, pelos professores primários. Era ali que se compravam os “bolinhos da poupinha” e os rebuçados de meio tostão e nos sujeitávamos, por mais um rebuçado, a um “carolo” brincalhão do senhor António Alberto.
A Porta da Vila era um espaço de vida e de liberdade acorrentada. Por ali passavam inúmeras vezes, principalmente á noite, os guardas-republicanos, na sua farda azul escura com laivos verdes, vigiando o largo e as pessoas, “promovendo” a manutenção da boa ordem social.
Ao menor sinal de reunião de três ou mais pessoas surgia logo o aviso: “Toca a dispersar!”. Tempos tenebrosos, esses, em que a brincadeira de crianças ou a conversa entre adultos eram motivo de suspeita, de incriminação e, quantas vezes, de ida ao posto.
Hoje, está vazio o largo. Vazio de gente, de iluminação, de vida, de alegria. Mete dó, o principal largo histórico da minha terra. Há ali floreiras sem flores, casas sem gente, degradadas, a necessitarem de cara lavada e reparação urgente.
Noutras terras, a edilidade preocupa-se com estas coisas. Aqui, para ser diferente, cria entraves, coloca barreiras, instala burocracias que estimulam o desleixo e o abandono.
Na Porta da Vila começa o “centro histórico” de Nisa. Nome pomposo para a zona habitacional mais degradada da vila e para a qual têm “chovido” projectos e intenções nunca concretizados.
Vou caminhando, o largo fica para trás e a ele voltarei. Recupero a imagem de bonomia do senhor António Alberto, a dinâmica e o frenesim do dr. Aniceto, a alma boa e generosa da senhora Josefa Cebolais, o aprumo e a arrumação da mercearia do senhor António Jorge e lanço ainda um último olhar para o local onde esteve a sapataria na qual meu pai ganhava o pão.
Mário Mendes

26.9.10

OPINIÃO: O Outono da República

O azul do céu, dá lugar ao escuro e sombrio das nuvens carregadas, o calor ao frio da brisa leve que sopra de Norte, as folhas já caducas das árvores abatam-se no chão cobrindo como um manto castanho toda uma extensão em seu redor, e os homens lançam à terra as primeiras sementes, enfim chega o Outono, que para uns é sinónimo de fim de ciclo e para outros como o inicio de tudo…
Tal como hoje à cem anos atrás, a sociedade vivia tempos outonais, com o fim de um ciclo politico e inicio de uma nova fase, que se pretendia de esperança e progresso no futuro. E entretanto as folhas já caíram mais de cem vezes das árvores e os homens já fizeram muitas sementeiras, mas a classe política continua a mesma, sem vontade de construir novos rumos para esta sociedade de fim de ciclo.
A 5 de Outubro, celebra-se a República, que em Portugal teve a sua implantação no ano de 1910, como todos sabemos, por esta altura a vida era muito difícil no nosso país, muita pobreza e fome, mais de 80% da população era analfabeta e trabalhava a maioria do sector primário sem condições mínimas, a roçar em alguns casos a escravatura.
E hoje o que temos, Cem anos depois? Que valores ficaram deste século que findou à uma década, e que teve pelo meio um regime autoritário e ditatorial, que durou tempo demais e nos fez um povo mais dependente, menos participativo e mais auto-excluído da sociedade.
Olhando para o passado, damo-nos conta que a participação era uma forma de intervenção clara na construção dos novos caminhos que se queriam traçar, e o nosso distrito teve algumas figuras (poucas), que se destacaram por essa altura, e uma dessas personagens foi uma mulher, que a meu ver assume o papel de mãe da República no distrito de Portalegre, Adelaide de Jesus Damas Brazão Cabete conhecida como Adelaide Cabete (Alcáçovas, Elvas, 25 de Janeiro de 1867 — Lisboa, 14 de Setembro de 1935) filha de Ezequiel Duarte Brazão e de Balbina dos Remédios Damas, foi uma das principais feministas portuguesas do século XX. Republicana convicta, foi médica obstetra, ginecologista, professora, maçom, publicista, benemérita, pacifista, abolicionista, defensora dos animais e humanista portuguesa. E acrescentamos ainda que das suas mãos saiu o bordado da primeira bandeira da República Portuguesa. A figura é tão fascinante que não se pode imaginar o seu vasto percurso politico e de vida, à luz daqueles tempos em que a mulher não tinha os mesmos direitos que os homens e que uma simples e pobre órfão alentejana agarra todas as oportunidades que a vida lhe dá para e se enriquecer de conhecimentos (estudando) e lutar pelas suas convicções e que ainda hoje são válidas – “Protecção à Mulher Grávida” e “A Luta Anti-Alcoólica nas Escolas”, manifestou-se contra a violência nas touradas, o uso de brinquedos bélicos e outros assuntos que se revelariam temas vanguardistas para a época, temas esses que ainda mantêm a sua actualidade.
É neste contexto que devemos valorizar e enaltecer o percurso de vida de figuras, naturais do nosso distrito, e que se bateram por ideais bem concretos e válidos nesta República de cidadãos.
Espero que o distrito de Portalegre, saiba tirar partido destas comemorações dos cem anos da República e dê a conhecer as suas figuras ilustres que estão para além dos salões nobres.
JOSÉ LEANDRO LOPES SEMEDO

23.9.10

NISA: Subsídios para a história do Cine Teatro (1)

Fundação
Em fins do ano de 1929, teve-se conhecimento em Nisa que ia ser arrematado, em hasta pública, no tribunal desta comarca, o velho Teatro Nisense, cuja reconstrução em 1918-1919 ficara em meio.
Vindo a Nisa por essa ocasião, Manuel Granchinho e encontrando-se com José Vieira da Fonseca, acordam em fundar uma sociedade com o fim de arrematar e acabar a construção do dito Teatro. Como Manuel Granchinho não tivesse em Nisa a sua residência reconheceram ser indispensável procurar mais alguns elementos para a Direcção da futura Sociedade, deliberando convidar então para esta, ou iniciação dos trabalhos, o dr. José Augusto Fraústo Basso e passados alguns dias mais, António Paralta, este por manifestar uma grande vontade de trabalhar por este empreendimento.
Ambos aceitaram da melhor vontade. »»»» continua No mês de Setembro de 1934, o Cine Teatro de Nisa exibiu quatro filmes, a que assitiram 1577 espectadores, o que corresponde a uma média de 394 espectadores por filme. Os preços dos bilhetes eram os seguintes:
Camarotes»»» 12$50
Balcão »»» 3$50
1ª Plateia »»»2$00
2ª Plateia »»» 1$50
2ª Plateia (filas da frente) »»» $50
Refira-se que segundo os Censos de 1930, o concelho de Nisa tinha 16.782 habitantes, dos quais 4.701 moravam na vila de Nisa ( Espírito Santo= 3.485; Nª Srª da Graça = 1216).
In "Conta de Exploração do Teatro" - Empresa do Teatro Nisense Lda

19.9.10

IN MEMORIAN: A Joana tinha um sorriso...

....Aberto, franco, imenso, sincero, do tamanho do mundo que a rodeava.
Tinha um sorriso, a Joana, que “desarmava” qualquer um e mostrava a sua infinita bondade, a sua imensa alegria, que a todos contagiava.
A Joana tinha um sorriso, que, aos poucos se foi desvanecendo, corroído por doença incurável.
A Joana tinha um sorriso, um sorriso que não morreu, na hora em que se despediu de todos aqueles a quem amava e que a adoravam. E foram tantos, tantos, um mar de gente, de olhar triste, cabisbaixo, dorido, sentido no adeus precoce à Joana.
Partiu nova, a Joana, no alvor dos seus quarenta anos. Quantos trabalhos e canseiras, quanta dor e determinação para que as luzinhas dos seus olhos pudessem, um dia e sempre, continuar a sorrir como ela.
A Joana tem um sorriso. Terno, meigo, alegre, amigo que continuará a brilhar, lá no alto, no etéreo descanso em que repousa.
Um sorriso, o da Joana, que jamais se apagará e há-de iluminar, com o brilho intenso da esperança, todos aqueles que tiveram, um dia, todos os dias, o privilégio de a ver sorrir...
Mário Mendes

13.9.10

MONTALVÃO: Romaria da Senhora dos Remédios





Realizou-se no passado dia 8, em Montalvão, a tradicional romaria de Nossa Senhora dos Remédios, integrada nas festas populares.
Apesar do calor e de ser um dia normal de trabalho, muitos foram os romeiros que ocorreram até à Senhora dos Remédios, à procura não apenas dos "remédios" para os males da alma, mas de um franco e fraternal convívio, que todos os anos se renova.
As fotos são do "artilheiro e quinto" João Carrilho, a quem agradecemos.

9.9.10

NISA: O cinema de regresso ao Cine Teatro

No próximo fim de semana, o Cine Teatro de Nisa reabre as suas portas e a exibição de filmes, mês e meio depois da última projecção cinematográfica.
Em Agosto não houve filmes para ninguém e se se aceita como justificação o facto de ser um mês muito preenchido com festas, romarias, encontros, convívios e outras iniciativas não é menos verdade que, noutros concelhos vizinhos, o "pico" do Verão não impediu a normal exibição de filmes, apresentando os mesmos com mais uma oferta de cultura e lazer não apenas para os residentes como também para aqueles que nos visitam.
Em Nisa tal não aconteceu e, estou certo, muitos ausentes teriam, certamente, uma oportunidade para revisitarem o "velho-novo" Cine Teatro e ao mesmo tempo aproveitarem o visionamento de um ou outro filme, para mais estando de férias e com maior disponibilidade para o lazer e o ócio. Acresce que a nossa sala possui excelentes condições de conforto e climatéricas, 0 que outrora não se verificava.
A "ausência" de exibição de filmes fez alimentar algumas dúvidas não só sobre a situação financeira da Câmara, que é conhecida, mas, sobretudo, sobre os prejuízos decorrentes da actividade cinematográfica e da falta atempada de pagamentos o que, segundo alguns "conhecedores", teria levado à interrupção do fornecimento de filmes por parte das empresas distribuidoras.
O cinema em Nisa dá prejuízo. É incontestável. Não só em Nisa como em todos os concelhos do interior ( e até em muitos do litoral) onde essa actividade foi "agarrada", para não morrer, pelas autarquias. É mais um serviço cultural que prestam aos munícipes e que de outra forma não seria possível.
Tem custos elevados, é certo, mas não é menos certo que, sem esta actividade, semanal e regular, o Cine Teatro não teria justificado o forte investimento que foi feito e, por outro lado, caminharia, a passos largos para a sua degradação e decadência.
Sou do tempo, ainda, em que o Cine Teatro Nisense exibia filmes com lotação esgotada, às vezes com dose dupla e tripla. Para além da bola, aos domingos, não havia mais nada como divertimento. Sobravam as tabernas e os cafés. Hoje, o audiovisual, qual tsunami, tomou conta de todas as esferas de comunicação. Os filmes chegam em poucos dias a um qualquer canal de televisão ou são "copiados" enquanto diabo esfrega um olho. Perdeu-se o interesse pela Sétima Arte, grande parte das pessoas têm o cinema em casa, no aconchego da sala.
Filmes como o "Invictus" exibido em Nisa e a que assisti, não teve mais do que 30 espectadores. A outros bons filmes que têm passado pela nossa sala de espectáculos o número de assistentes não é muito diferente. A média de espectadores, por filme, é capaz de ser um pouco mais baixa.
Por que não vão os nisenses ao cinema? São os preços caros? A divulgação é mal feita? A escolha dos filmes deixa muito a desejar?
Por mim, que cresci vendo os filmes da Castello Lopes, as superproduções como "Os Dez Mandamentos", "A Queda do Império Romano", Sansão e Dalila", "Ben-Hur" e tantos, tantos outros, o verdadeiro lugar da exibição e fruição do prazer que um filme nos provoca é, e será sempre, a sala de cinema.
Isto, apesar de não ser tão assíduo frequentador como gostaria.
Mário Mendes

5.9.10

OPINIÃO: Recordar é Viver

Foi numa quente noite neste mês de Agosto de 2010 que ao fazer mais uma caminhada pela aldeia de Amieira Do Tejo, onde tentava esticar os “ossos” e fazer mais rápida a digestão que me deparei em pleno largo frente á Junta de Freguesia com um grupo de senhores que ali estavam a apanhar o fresquinho da noite, todos eles rondavam os seus 60/70 anos, caras essas que já bem conheço ali da aldeia. Não resisti juntar-me a eles, pois apesar dos meus singelos 34 anos sempre gostei de ouvir e de falar com pessoas mais velhas, pois para mim é nos mais velhos que encontramos a verdadeira sabedoria da vida através das vivencias que já tiveram, são eles os mais “velhos” que nos dão a verdadeira visão de como era e de como está o nosso país, de como era a vida outrora, e isto deixa-nos a pensar…
E foi o que aconteceu comigo nesta noite. Daquelas bocas sábias só ouvi testemunhos de verdadeiros sábios da vida onde o maior sentimento que ali reinava era o de saudade dos tempos que passaram e não sentem mais, sentem sim, uma grande falta de sinceridade, amizade e respeito entre os outros.
Nestes nossos dias muito se ganhou, mas… muito mais se perdeu! Perdeu-se contudo o respeito, a inter-ajuda e a falta de humanismo, é simplesmente um salve-se que puder!
Houve contudo no meio de tanta troca de palavras e recordações uma frase que me marcou e jamais irei esquecer, essa frase foi verbalizada por um senhor que terá os seus 74 anos, mais coisa menos coisa, de seu nome Álvaro Lino Bernardo, e essa frase foi a seguinte: - O nosso mundo já acabou, nós agora vivemos num mundo novo!
E eu ao ouvir este senhor pronunciar esta frase senti que o seu sentimento era saudosista, e eu senti tristeza por ele e por mim, pois o seu mundo parecia muito mais real, puro e honesto do que o meu!
Falou-se de muitas coisa entre as quais do que era o ensino escolar do “antigamente” e do que é hoje, e eu mais uma vez ali estava extasiada a olhar e a ouvir o que aqueles senhores iam dizendo… e fiquei fascinada com a maneira que todos eles falavam do ensino do seu tempo, fiquei ainda encantada e fascinada com a capacidade que esta gente conseguiu memorizar tanta coisa e ainda hoje se lembram, desde fazer contas das mais complicadas de cabeça, dizer a tabuada de cor e salteado bem como verbalizar certos textos que marcaram a sua meninice nos tempos da primária.
E se recordar é viver, foi o que mais uma vez aconteceu ao senhor, Álvaro Lino Bernardo que ao pronunciar um dos textos do livro da 3ª classe antiga, deixou-me boquiaberta pela sua capacidade de memória com que pronunciou o texto que a seguir vou passar a citar, pois não poderia deixar de o partilhar com tantos que já o conhecem mas se bem calha já dele não se lembram, mas acima de tudo quero partilha-lo com os da minha idade e com os mais novos pois acho que este texto é de uma verdade e ternura imensa, e o senhor Álvaro pronunciou tão bem, e isto só mostra realmente como os tempos eram outros!

P.S: Aqui fica então em jeito de recordação este lindo texto que me foi pronunciado pelo senhor, Álvaro Lino Bernardo, e desde já um Bem Haja a todos os que tiveram nestes tempos esta grande qualidade de ensino que a meu ver não foi em vão, pois os resultados estão à vista através de testemunhos vivos, e eu tive e vou tendo o privilégio de os ouvir através destes grandes sábios e poetas do povo que vivem no anonimato e a quem são apelidados de “velhos”, mas nunca se esqueçam que são eles que têm a verdadeira essência e a verdade sobre a vida, e Deus queira que nós os mais novos cheguemos à idade daqueles a quem chamam de “velhos”.
Eis então o texto:
A velhinha
Uma vez uma velhinha
Quási cega, coitadinha,
E já mal podendo andar,
Encostada ao seu bordão,
Sempre olhando para o chão,
ia na estrada a passar.

Ouvindo um cão, que ladrou,
a pobrezinha parou,
olhando em roda, assustada.
Quis fugir, não conseguiu,
tentou correr, mas caiu
a pobrezinha, coitada!

Nisto surge uma menina,
viva, formosa, ladina,
que, ao vê-la cair no chão,
correu logo pressurosa,
condoída e carinhosa,
e á velhinha deu a mão.

_ Eu a levanto, avozinha,
e a levo à sua casinha.
Onde lhe dói? O que tem?
Diga, que eu vou buscar
qualquer coisa para a curar,
vou pedir à minha mãe…

_ Não foi nada, meu amor,
tu és um anjo, uma flor
Ajuda-me só a andar.
Deus pague a tua bondade,
com muita felicidade!
Disse a velhinha a chorar.
* Este texto foi-me facultado pelo senhor Álvaro Lino Bernardo, a quem desde já agradeço, sem mais me despeço deixando um cumprimento para todos e um até breve.
Ana Paula Mendes Nunes da Conceição Horta

28.8.10

MEMÓRIA: Os 700 anos da Vila de Nisa (1)

1981 foi ano de comemorações dos 700 anos da Vila de Nisa. Um programa cultural recheado e diversificado teve o seu ponto alto com a visita do primeiro Presidente da República pós 25 de Abril, o general Ramalho Eanes, que homenageou publicamente o Dr. António Granja com o descerramento do busto em sua memória no largo da Porta da Vila.

26.8.10

ALPALHÃO: Artilheiros/as de 1954 em convívio




Os "artilheiros" e as "Artilheiras" de 1954, nascidos em Alpalhão, promoveram no passado dia 8 de Agosto mais uma jornada de convívio e de confraternização.
O almoço anual teve lugar no restaurante "Regata" e da alegria e animação entre os artilheiros/as de 1954 "falam" as fotos que publicamos.
Aos 56 anos sabe bem recordar tantas e tantas histórias e emoções, reproduzindo-as num encontro que é também, todos os anos, de reencontro.

21.8.10

75 Anos do Sport Nisa e Benfica (II)

O Sport Nisa e Benfica completa no próximo dia 1 de Outubro, 75 anos de existência.
Em 1985 e a propósito das comemorações das Bodas de Ouro (50 anos), o jornal Fonte Nova editou um destacável sobre a efeméride (edição nº 46 - 9/10/1985), no qual tive o gosto de colaborar. Hoje, recordamos aqui a capa do suplemento e a mensagem da direcção, na altura liderada por José Maria Sales Ferreira Pereira.

Mensagem da Direcção
O Sport Nisa e Benfica “velhinha” colectividade fundada com o nome de Sport Lisboa e Nisa, perfaz em 1 de Outubro, 50 anos de vida.
São 50 anos de trabalho, esforço e dedicação constante em prol do desporto, do engrandecimento da nossa vila e concelho, que sucessivas gerações de nisenses tomaram em suas mãos, dando sempre o melhor de si, numa demonstração de amor clubista ao Nisa e Benfica.
Ao longo destes 50 anos através do Sport Nisa e Benfica formaram-se, contribuindo para o seu rico historial, centenas e centenas de atletas, muitos deles de excelente nível técnico e que ganharam, inclusive, projecção a nível nacional tendo, noutras colectividades, sabido elevar bem alto o nome de Nisa e do seu clube de origem: o Nisa e Benfica.
Nesta data em que comemoramos 50 anos de existência, como colectividade desportiva que sempre soube dignificar o desporto, é com grande orgulho e elevada satisfação que a Direcção do Sport Nisa e Benfica recorda a plêiade de várias gerações de nisenses (ou a Nisa ligados) que souberam com a sua dedicação, desportivismo e abnegação, criar e desenvolver uma colectividade que honra Nisa, os nisenses e o seu concelho.
Uma palavra de saudação também para todos os sócios e adeptos do Desporto em geral, que ao longo dos anos nunca regatearam esforços para o engrandecimento do seu clube.

18.8.10

Evocação de Cruz Malpique (III)

Arabescos em Água Corrente – PICASSO
O casamento e a mortalha no céu se talha.
E parece que a vocação também. É como se no ventre materno já estivesse definida, com minguadas ou largas perspectivas. A mão de Picasso, dizia-lhe, em menino, acompanhando-o nas suas actividades, as concretas e as dos espírito: “ se fores soldado, a minha profecia é que acabarás em general. E se fores frade, acabarás em Papa”.
Poderia, ele, então, perguntar: E se manejar o lápis, o pincel ou o cinzel?
Se tal acontecer, serás... Picasso. O único. O inconfundível. O inimitável. O implagiável.
A intuição materna deu no vinte.
CRUZ MALPIQUE

12.8.10

NISA: No rastro da memória

Nisa, 1985, ano de eleições autárquicas. José Manuel Basso e a APU tentavam a renovação da presidência da Câmara Municipal. Pela primeira vez, PS e PSD concorriam em lista única sob a sigla do PS, encabeçada por José Luís Tomás Bruno. O PRD apresentava como cabeça de lista à Câmara, o último presidente socialista (1979-1982), Carlos Bento Correia.
A APU venceu com maioria absoluta e a campanha eleitoral registou a visita a Nisa de históricos dirigentes partidários. Entre estes, Álvaro Cunhal, na foto, que foi capa de edição de "O Diário".
Vinte e cinco anos depois e atentando na foto, vêem-se ali muitas caras conhecidas e algumas pessoas já desaparecidas do nosso convívio.

NISA: Feliz aniversário D. Lurdes







Maria de Lurdes Marques completou no passado dia 4 de Agosto, 80 risonhos anos.
Natural de Nisa e casada com João Castanho Paralta, o casal teve honras de notícia no Jornal de Nisa, por ocasião do cinquentenário do seu matrimónio.
O dia da festa de aniversário, começou com um almoço em família com o marido João Castanho Paralta e a filha Zárita (nome familiar) e o genro Henrique no restaurante "Regata" em Alpalhão, mas devido ao imenso calor que se fazia sentir não puderam viajar para outros sítios mais frescos e de de eleição, como é a zona da Portagem e Castelo de Vide.
Ao entardecer, já o sol se escondia e o calor já não apertava tanto, a família Paralta decidiu fazer a "festinha familiar", com primos, vizinhos, sobrinhos e amigos no jardim da casa.Para completar este ambiente festivo só faltou mesmo os dois filhos, noras, netos e bisneto que, por motivo de férias estavam ausentes.
Apesar da doença do casal, "é bom tê-los connosco e poder proporcionar-lhes momentos únicos e felizes que ficarão para SEMPRE", confessa, comovida, a filha Zarita.
Parabéns, D. Lurdes e mantenha, sempre, esse sorriso!