27.7.11

OPINIÃO: Evocação de Diogo Pires Mimoso

DIOGO PIRES,..HONRA E GLÓRIA PARA NISA,... UM NISENSE BEATIFICADO SANTO E MÁRTIR, santificado seja para sempre o seu nome; da necessidade de celebrar e venerar a sua memória a 17 de Julho de cada ano.... "A oração. é o modo do ser humano franquear as fronteiras da sua humanidade para entrar, de algum modo no domínio do divino”, cfr frei Herculano Alves in "Bíblica", ano 57, Julho/Agosto, nº 335, pg. 26.)
A evangelização do Brasil levou os Jesuítas em 1570 a organizar um grupo de missionação e evangelização.
Compunham um grupo de 40 jesuítas (jovens entre 20 e 30 anos), 32 portugueses e oito espanhóis, destinados à missão, 2 eram sacerdotes, dois diáconos, 23 estudantes e catorze irmãos, sob a liderança do padre Inácio de Azevedo.
A preparação dos missionários, padres, irmãos e estudantes para a missão de evangelização realizou-se na Costa da Caparica (Portugal), na Quinta do Vale do Rosal., hoje Quinta dos Quarenta Mártires (...e porque não aproveitar a estada na Costa da Caparica para uma romagem de homenagem e veneração emocionante à memória deste santo mártir de Nisa ,e ajoelhar perante tanta luz profunda, mesmo sem entender).
Roçando a ilha da Madeira , a 12 de Junho de 1570, para consertar as embarcações, descansar e recolher mantimentos, seguiram na nau Santiago 39 companheiros com Inácio de Azevedo.
Ao cabo de alguns dias de viagem, era o dia 15 de Julho de 1570, faz agora precisamente 441 anos, “davam já a volta para a cidade da Palma, de que distavam duas ou três léguas”.
A pouca distância de Tazacorte ( La Palma) avistaram a vela de uma grande nau e depois mais três, de modo que, inicialmente, chegaram a pensar tratar-se da armada de D. Luís de Vasconcellos, mas tal não se veio a confirmar.
Foram surpreendidos por um navio francês comandado pelo calvinista Jacques Sourie.
Os calvinistas abordaram a nau com enorme alarido, praguejando e ameaçando de morte os missionários.
Como referido tratava-se de Jacques de Sória, corsário calvinista francês, conhecido pelo seu ódio de morte aos católicos e entre estes, muito especialmente, aos jesuítas.
Acompanhavam Sória perto de meio milhar de soldados, todos eles animados pelo mesmo furor contra a igreja e fé católicas.
Seguiu-se grande carnificina e ordens para lançar ao mar os sagrados mártires.
Cumpre pois divulgar a vida e história desses mártires, e nomeadamente do nisense Diogo Pires, convidando-se os jovens das áreas científicas competentes a embrenharem-se na respectiva investigação histórica e correlatas, elegendo em concreto a história do percurso pessoal deste jovem e projectando a imagem do santo mártir.
Beatificados pelo Papa Pio XI, em 11 de Maio de 1854, as actividades desenvolvidas na causa da canonização não deixarão de trazer grande contributo a trabalho rigoroso sobre o nosso santo conterrâneo, sujeito a tão grande martírio.
A festa litúrgica destes mártires é celebrada em 17 de Julho , como acima.
Honra e glória pois para Nisa ao ter no seu universo e seio espiritual ,moral ,social e ,religioso, quem tão generosamente partira para afinal tão grande martírio, mas para lograr chegar ainda jovem...tão alto ...à glória dos altares, patamar que acolhe e confirma a aquisição do glorioso e definitivo título de Filho de Deus.
Santificado seja pois para sempre o seu nome.
Todos foram ali mortos e feridos, à excepção do irmão João Sanches, que os calvinistas aproveitaram para cozinheiro.
Todos foram lançados ao mar, uns já mortos, outros em agonia e outros ainda vivos.
Lista dos mártires:1. Inácio de Azevedo, padre português e líder da missão (n. Porto, Portugal),2. Diogo de Andrade, padre, (n. Pedrógão Grande, Portugal),3. Bento de Castro, irmão, estudante (n. Chacim, Macedo de Cavaleiros, Portugal),4. António Soares, irmão, estudante (n. Trancoso da Beira, Portugal),5. Manuel Álvares, irmão, coadjutor (n. Estremoz, Portugal),6. Francisco Álvares, irmão, coadjutor (n. Covilhã, Portugal),7. Domingos Fernandes , irmão, estudante (n. Borba, Portugal),8. João Fernandes, irmão, estudante (n. Braga, Portugal).9. João Fernandes, irmão, estudante (n. Lisboa, Portugal),10. António Correia, irmão, estudante (n. Porto, Portugal),11. Francisco de Magalhães, irmão, estudante (n. Alcácer do Sal, Portugal),12. Marcos Caldeira, irmão, (n. Vila da Feira, Portugal),13. Amaro Vaz, irmão, coadjutor (n. Benviver, Marco de Canavezes, Portugal),14. Juan de Mayorga, irmão, coadjutor (n. Saint-Jean-Pied-de-Port, Navarra, hoje França),15. Alonso de Baena, irmão, coadjutor (n. Villatobas, Toledo, Espanha),16. Esteban de Zuraire, irmão, coadjutor (n. Amescoa, Biscaia, Espanha),17. Juan de San Martín, irmão, estudante (n. Yuncos, Toledo, Espanha),18. Juan de Zafra, irmão, coadjutor (n. Jerez de Badajoz, Espanha),19. Francisco Pérez Godói, irmão, estudante (n. Torrijos, Toledo, Espanha),20. Gregório Escribano, irmão, coadjutor (n. Viguera, Logroño, Espanha),21. Fernán Sanchez, irmão, estudante (n.Castela a Velha, Espanha),22. Gonçalo Henriques, irmão, estudante (n. Porto, Portugal),23. Álvaro Mendes Borralho, irmão, estudante (N. Elvas, Portugal),24. Pero Nunes, irmão, estudante (n. Fronteira, Portugal),25. Manuel Rodrigues, irmão, estudante (n. Alcochete, Portugal),26. Nicolau Diniz, irmão, estudante (n. Bragança, Portugal),27. Luís Correia, irmão, estudante (n. Évora, Portugal),28. Diogo Pires (Mimoso), irmão, estudante (n. Nisa, Portugal),29. Aleixo Delgado, irmão, estudante (n. Elvas, Portugal),30. Brás Ribeiro, irmão, coadjutor (n. Braga, Portugal),31. Luís Rodrigues, irmão, estudante (n. Évora, Portugal),32. André Gonçalves, irmão, estudante (n. Viana do Alentejo, Portugal),33. Gaspar Álvares, irmão, estudante (n. Porto, Portugal),34. Manuel Fernandes, irmão, estudante (n. Celorico da Beira, Portugal),35. Manuel Pacheco, irmão, estudante (n. Ceuta, Espanha),36. Pedro Fontoura, irmão, coadjutor (n. Chaves, Portugal),37. António Fernandes, irmão, coadjutor (n. Montemor-o-Novo, Portugal),38. Simão da Costa, irmão, coadjutor (n. Porto, Portugal),39. Simão Lopes, irmão, estudante (n. Ourém, Portugal),40. João Adaucto, acompanhante (n. Entre Douro e Minho, Portugal),Não possui Nisa infelizmente qualquer imagem deste santo mártir.
Refere-se-lhe respeitosamente um nosso ilustre e piedoso conterrâneo, e santo pároco ,que o foi da Costa da Caparica , Padre Baltasar Dinis, tido por aquela comunidade como saudoso pároco, em carta escrita em
25 de Julho de 1939 ,um nome também a fixar desse rico universo cultural e espiritual e moral de Nisa.
Não tenho dados para por ex. bordar a ouro o retrato de D. Ana uma vez que pouco privei pessoalmente com a Senhora ( embora a adorasse), mas sei que num encontro de viúvas minha mãe, a minha querida, no seu sentido de justiça que lhe era peculiar, ao cumprimentá-la nesse encontro, lhe terá dito...não sou nada comparando-me com a senhora... a senhora é da Acção Católica, mas da Autêntica,.. da Verdadeira, e a D.Ana ( Machado ) na sua simpática e serena simplicidade ter-lhe-à dito...D. Maria Augusta não é bem assim,..... abraçaram-se e choraram naquela solene reunião).
E ainda há quem pense que não?
Não digas não, diz sim...porque estamos em Nisa (e a Nisa ...”eu iria arrancar estrelas/ delas fazia um colar/ para te por ao pescoço...Se num perfeito segundo/ o sol fosse apenas meu/ eu dava-Te o sol também/ arrefeceria o mundo /mas o sol seria Teu/ Teu e de mais ninguém. “ in Omnipotência, Manuel de Almeida , Fado) e Alto Alentejo, terra sagrada.
João Castanho

22.7.11

NISA: Direccão dos Bombeiros Voluntários apreensiva

“REDUÇÃO DRÁSTICA DO TRANSPORTE DE DOENTES PODE LEVAR AO DESPEDIMENTO DE PROFISSIONAIS”
- José Isabel, presidente da direcção dos Bombeiros de Nisa
A direcção dos Bombeiros Voluntários de Nisa está indignada com a redução drástica dos serviços de transporte de doentes prestados pelos bombeiros, resultante da aplicação do Despacho 19264 de 29 de Dezembro de 2010 do Ministério da Saúde e pela voz do seu presidente da direcção, José Perfeito Isabel não cala a revolta.
“Um dos grandes serviços que os bombeiros prestam à população do concelho é o transporte de doentes. Tem sido a prestação desses serviços, para os quais investimos na formação de motoristas e maqueiros, que vinham garantindo à Corporação, os meios financeiros que permitiam o equilíbrio das contas.
Desde o princípio do ano houve uma redução drástica do número de serviços prestados pelos Bombeiros, a nosso ver, pela execução cega das orientações contidas no referido despacho e que não salvaguardam, sequer, as situações de excepção.
A redução dos serviços prestados no transporte de doentes chegou a 80 por cento e em Maio, por exemplo, foram passadas apenas três credenciais.”
Para José Isabel, esta situação é “muito grave, não apenas para os Bombeiros, mas sobretudo para as populações, principalmente aquelas de mais fracos recursos e que ficam sem acesso aos elementares cuidados de saúde”.
Tal facto reside, segundo o presidente da direcção dos Bombeiros de Nisa, numa “obstinada atitude de negação de passagem de credenciais para transporte, mesmo em casos em que a situação de carência económica e social dos doentes a tal obrigaria”.
Se a situação se mantiver, alerta José Isabel, “vamos ter que pensar seriamente em reduzir o número de profissionais, pois não conseguimos fazer face às despesas.
“Nós temos um fundo de maneio par acudir a algumas situações de emergência e que neste momento está quase descapitalizado. Por outro lado, comprometemo-nos com uma candidatura para aquisição de um carro de combate a fogos urbanos, um investimento de mais de duzentos mil euros e não queremos desistir desse projecto.”
A direcção dos Bombeiros Voluntários de Nisa já analisou a situação e pela voz do seu presidente considera que” o serviço de saúde é o ganha-pão e que não havendo esses serviço não há dinheiro”, uma vez que “só para incêndios não precisávamos de tantos profissionais”.
São 18 os profissionais pagos pelos Bombeiros, alguns com mais de 20 anos de trabalho permanente. Dezoito famílias que dependem do funcionamento da prestação de serviços de saúde por parte dos Bombeiros.
“Nós temos despesas de fardamento, pagamento de salários, férias, segurança social, aquisição de equipamentos, ferramentas, reparações de veículos. Vivemos do trabalho e se este nos continuar a ser tirado, como poderemos manter estes homens que têm sido de uma dedicação, a todos os títulos, excepcional?”, questiona José Isabel.
Com uma frota de 9 ambulâncias, uma das quais do INEM, os Bombeiros de Nisa tinham previsto a colocação de mais dois profissionais, para uma melhor prestação de serviços.
Agora, a direcção está apreensiva e indignada com estas decisões do Ministério da Saúde, directrizes que, consideram, “vai pôr em causa o socorro à população do concelho e restringir, dramaticamente, o acesso aos cuidados de saúde”.
José Isabel lembra que “alguns serviços que temos efectuado, têm sido por intermédio de outras Corporações, como a de Portalegre e de Gavião. De contrário, a situação seria ainda bem pior.”
A terminar, o presidente dos Bombeiros de Nisa deixa um apelo às entidades públicas do concelho e da região.
“Esta situação é prejudicial para os Bombeiros, mas, acima de tudo para as pessoas que têm mais necessidades e que não tem meios nem posses para se deslocarem. Não é justo empurrarem para cima dos Bombeiros, uma situação negativa sobre a qual os mesmos não têm qualquer responsabilidade. Não é assim, de um dia para o outro, que se corta a torto e a direito, cegamente, sem atender às situações dos doentes”
Mário Mendes in "Alto Alentejo" - 20/7/11

Mini-Preço inaugura novas instalações em Nisa

A cadeia de supermercados Mini-Preço passou a contar desde a passada sexta-feira com novas e modernas instalações comerciais em Nisa.
Com gerência do casal José e Manuela Pires, que constituíram para o efeito a empresa Visconde, o novo centro comercial está situado na rua Dr. Sidónio Pais (Devesa de Traz), a dois passos do centro da vila e dispõe de um parque de estacionamento com 19 lugares, dois dos quais destinados a pessoas deficientes.
A superfície comercial tem uma área coberta de 940 metros quadrados e integra além do supermercado Mini Preço, mais quatro lojas.
Para José Pires, um dos gerentes, a abertura deste supermercado era “uma necessidade, pois nas instalações da Fonte da Pipa tínhamos um espaço muito acanhado e não podíamos servir os clientes como desejávamos”.
O investimento avultado, como referiu José Pires sem querer adiantar números, vai “proporcionar a criação de mais 6 postos de trabalho e uma maior diversidade e qualidade de produtos, o que permitirá servir melhor os nossos clientes”.
Como novidades na nova superfície comercial, José Pires aponta o bar, a padaria, “com pão quente a qualquer hora”, a secção de talho separada da charcutaria, um espaço bastante amplo para a exposição dos produtos e a circulação dos clientes.
José e Manuela Pires mostram-se satisfeitos com o movimento dos primeiros dias das novas instalações e consideram estas a “realização de um sonho de alguns anos” e que a muito custo conseguiram concretizar.
Tutti Lar aproveitou a mudança
Bruno Lobo, proprietário da TuttiLar uma das lojas do centro comercial, acompanhou a mudança do Mini Preço do Largo da Fonte da Pipa para a Devesa e está confiante de que seja bem sucedida.
“Com estas novas instalações, tenho esperança que venha mais gente e que o negócio se mantenha pelo menos com os mesmo clientes que tinha na loja da Fonte da Pipa.”
No seu estabelecimento, como o nome indica, há de tudo para o lar, no que respeita a roupas, atoalhados, camisas, robes, colchas, etc.
É um ramo de comércio no qual se estabeleceu há alguns anos e conta com uma clientela certa, que espera manter e, se possível, aumentar.
O tempo dirá se fez a escolha certa.
Mário Mendes in "Alto Alentejo" - 20/7/11

12.7.11

CRÓNICAS DA TABANCA: Lembras-te do Zé da Silva?

Foi com esta pergunta que um amigo me abordou, há dias.
O Zé da Silva? Claro que me lembrava do Zé da Silva.
A memória recuou, dez, vinte, trinta anos e lá estávamos nós em Montalvão, na Salavessa, em Nisa, em todas as terras do concelho e outras do distrito, nos tempos de utopia e criação revolucionária, que se seguiram ao 25 de Abril.
O José da Silva Costa no auge da irreverência dos seus 18 anos, cabeleira loura, espessa e longa, “à beatle”, queria, tal como todos nós, “mudar o mundo”, fazer a revolução socialista, expressa em palavras de ordem como “ a terra a quem a trabalha” e tantas outras.
A dureza do trabalho nos campos e a magreza dos salários do trabalhador rural, a emigração para França, a guerra colonial, era a realidade de uma terra, a sua, onde se ouviam histórias intermináveis, sobre a odisseia do contrabando, os relatos dramáticos da guerra civil espanhola, com o ribombar dos canhões, a ouvirem-se, ali bem perto, do outro lado do Sever, a perseguição e o exílio dos republicanos, dos “rojos”, muitos deles acolhidos nas povoações da raia.
Não foi, por isso, difícil, antes, natural, ao Zé da Silva, fazer a sua opção política, ainda bastante jovem e no tempo de todas as ideias e inquietações.
Um tractor, um coreto, escada ou pequena elevação onde pudesse sobressair a “voz dos oradores” tudo servia para, nesses tempos de febril agitação, falar às pessoas e tentar passar-lhes a mensagem política e incutir-lhes a ideia de participação na “coisa pública”.
Sem estudos por aí além, mas já imbuído do gosto e do prazer pela leitura, o Zé da Silva, surpreendia-nos, amiúde, pelas tiradas filosóficas e pelo arrojo da argumentação, ainda que, o seu espírito militante, fosse orientado noutras direcções.
De um momento para outro, deixei de ver o Zé da Silva. Como muitos jovens deste concelho e país, não esperou para ver o futuro acontecer. Partiu, foi à procura dele. Soube que estivera nos EUA, que de quando em vez vinha a Montalvão, mas há muitos, muitos anos, que o não via.
Até que… Lembraste do Zé da Silva? Claro que lembrava. Ali estava ele, trinta anos depois, à minha frente, primeiro, na plateia dos “opositores” (o único, por sinal) ao titular da cadeira do concurso da RTP “Um contra todos”.
Era ele, sem dúvida. O mesmo ar sereno, as ideias amadurecidas, a dialéctica sempre actuante e as respostas a surgirem, certeiras e precisas.
Era fácil adivinhar – conhecendo o Zé da Silva -, onde aquilo iria terminar. Vinte e seis perguntas, sem um trunfo ou uma falha, sequer. Algumas, de domínios do saber que, especialistas, provavelmente, não acertariam. Mas, o Zé da Silva, serena e desconcertantemente, assim como que a dizer que não estava ali, ia falando do seu Alentejo, das suas vivências e das suas raízes, perante a admiração, quase embevecida, do José Carlos Malato.
Foi, pois, sem surpresa, que se sentou na cadeira de concorrente e de onde, com a mesma calma e descontracção, “viajou” até à memória dos seus pais e avós, às histórias que ouvira sobre a “Raia dos Medos”, e daí, com desassombro, elogiou os trabalhos para a televisão de Moita Flores, numa crítica, directa e implícita à própria RTP.
O Zé da Silva venceu o concurso. Não me perguntem, quantos mil euros, levou para casa.
Por mim, fiquei feliz, por revisitá-lo, mesmo através da televisão. Não tanto pelo dinheiro que ganhou, mas, apenas, por saber que, trinta anos depois, aquele “bichinho” que se introduziu em nós e chamado utopia, continua bem vivo.
E que, ali, perante uma imensa plateia, que é o “país televisivo”, o Zé da Silva mais não fez do que ser igual a si próprio: um cidadão do mundo e alentejano da raia, do Sever, já sem fantasmas nem medos e, hoje, um traço de união.
João da Cruz - Jornal de Nisa nº 222 - Jan.2007

9.7.11

À FLOR DA PELE - Bombos de Nisa: A "bombar" é que a gente se entende!

Mais de 200 actuações e 150 executantes em 6 anos de existência
Nasceram há seis anos, através de dois amigos, José Maria Martins e Marco Rodrigues. O desafio era entrar numa iniciativa de Carnaval. A surpresa e o impacto que causaram funcionou como a rampa de lançamento para uma actividade intensa que até hoje não mais parou. O grupo de Bombos de Nisa, nados e criados em Fevereiro de 2006, são um grupo de música popular sem “mãos a medir”, nem ânimo a refrear, para irem satisfazendo os inúmeros pedidos de actuações que lhes chegam de todo o país. José Maria Martins, um dos principais impulsionadores do Grupo conta como foi.
Bombos no Carnaval de Nisa
“Começou por ser uma brincadeira, com 12 elementos, no Carnaval de 2006, em Nisa. A surpresa e o apoio das pessoas foi de tal ordem que houve logo muita gente a querer integrar o grupo e chegámos rapidamente aos 30 elementos. Este é o número certo, pois garantir instrumentos e deslocações para mais pessoas, é difícil.
Para nos apresentarmos no desfile, tivemos que arranjar bombos. Fomos falar com um construtor artesanal de bombos ao Alcaide (Fundão). O preço era muito alto para as nossas possibilidades e trouxemos menos material. Voltámos lá, com o meu cunhado “Passarinho” que tinha muito jeito para o artesanato, ele observou como o homem trabalhava e a partir daí foi ele que começou a construir os bombos.”
Refeitos do impacto que provocaram e com a adesão de muitos jovens, o grupo conseguiu um local para ensaios, num espaço cedido pela Junta de Freguesia de Nossa Senhora da Graça.
“Foi um apoio importante, para mais fora da vila, onde podíamos “bombar” à vontade e sem incomodar ninguém. Mas o que nós queríamos mesmo era um espaço nosso e foi a pensar nisso e em termos alguma autonomia que em 2008 resolvemos constituir-nos em associação cultural e recreativa, com estatutos próprios. Actualmente, ensaiamos num espaço cedido pela ADN, com melhores condições”.
Mais de 200 actuações seis anos
Poucos grupos de música popular terão uma vida tão intensa como a dos Bombos de Nisa.
De Fevereiro de 2006 a Junho deste ano, o grupo contabilizou mais de 200 actuações, não só no próprio concelho, onde actuaram em todas as freguesias, mas por todo o distrito de Portalegre, Castelo Branco, Vila Velha de Ródão, Elvas, Rio Maior, Cedillo (Espanha), e muitas outras localidades.
“Não esperávamos, de facto, uma actividade como a que temos tido e nem sempre podemos responder aos convites que nos fazem, pois já temos recusado alguns, por falta de transporte.
A Câmara Municipal de Nisa tem apoiado, de acordo com as possibilidades, por vezes temos que nos desenrascar com transportes próprios e de amigos. Em todas as terras onde vamos temos sido muito bem recebidos, com grande apoio e carinho, e se em todas as festas damos o nosso melhor, temos de destacar, como grandes manifestações de motivação, as duas participações no festival “Portugal a Rufar”, uma iniciativa impressionante e única em Portugal, com 700 bombos a tocar, e a Festa do Avante, pelo entusiasmo com que nos receberam, mas acima de tudo por podermos “bombar” durante o desfile, para milhares de pessoas.”
“Cuidado com as Peles”
Os Bombos de Nisa são um grupo misto. Conta com trinta elementos, homens, mulheres e crianças, há, até, uma família inteira, que se integram numa família maior que é a amizade reinante no Grupo. Nem sempre podem ir todos, mas, em cada espectáculo, actuam, no mínimo, vinte elementos que tocam bombos, caixas e timbalões (os bombos mais pequenos).
Não se pense que é uma tarefa fácil, a de tocar bombo. Para além do peso do instrumento e da maçaneta, é o esforço de caminhar com um peso às costas, muitas vezes num percurso extenso e nem sempre suave.
Os Bombos de Nisa ensaiam nos fins-de-semana, em que não têm actuações. É quando se juntam e durante hora e meia, passam em “revista”, acertando este ou aquele toque ou tempo de entrada, as diversas peças (rufos) que integram o seu repertório.
Com o tempo e a experiência adquirida, aprenderam noções básicas de como desfilar e como galvanizar o público.
“ Nós não queremos crescer a todo o custo”, garante-nos, José Maria. “Vamos devagar, subindo cada degrau. O que nos motiva, para além de levarmos bem longe o nome de Nisa e de nos divertirmos, é que as contas estejam em dia e posso dizer que todo o material que temos está pago.”
Todo o material, são seis caixas e seis timbalões que custam, em média, 150 euros cada e ainda trinta bombos, ao preço de 200 euros a unidade, sem falar nas maçanetas.
Neste aspecto, os Bombos de Nisa nem sequer se podem queixar. Há alguns amigos que tomaram a iniciativa de lhes ofertarem um destes instrumentos e os Bombeiros emprestaram duas “caixas”.
Por isso, as palavras distintivas dos Bombos na fase inicial “Cuidados com as Peles!” deixaram de fazer sentido.
Aquisição de duas carrinhas
No princípio os Bombos actuavam, tendo como retribuição uma quantia simbólica. Hoje não é muito diferente, embora José Maria Martins, não deixe de apontar os inúmeros encargos do Grupo.
“Os gastos com transportes são cada vez maiores. O meu cunhado faleceu e temos que periodicamente, renovar o material, sujeito a grande desgaste.
Gostávamos de ter o nosso espaço próprio, para os ensaios e podermos recebermos as pessoas amigas, para verem como é que funcionamos. Um dos meus sonhos era criar uma “Escola de Bombos” que pudesse motivar as crianças. Uma das nossas grandes carências está parcialmente resolvida. Comprámos duas carrinhas, em segunda mão, uma de nove lugares e outra para transporte de material, já é uma grande ajuda, mas ainda insuficiente.”
José Maria fala com um brilhozinho nos olhos dos “seus” Bombos. Vê-se que é uma actividade que o entusiasma e à qual se tem dedicado intensamente nos últimos 6 anos.
“ Onde quer que vamos somos bem recebidos e encontramos sempre gente do concelho. Recebemos convites de todo o país, mas é impossível, todos os elementos trabalham e há o problema das deslocações. Como está nos nossos estatutos, somos um grupo sem fins lucrativos. Ninguém recebe um tostão que seja e todos tocam por amor à camisola. O que recebemos pelas actuações destinam-se, exclusivamente, à compra ou à reparação de instrumentos e também na aquisição de uma vestimenta própria. As camisolas, felizmente, muitos têm sido os patrocinadores que as têm oferecido e aos quais aqui agradecemos publicamente. Aproveitamos também para agradecer o apoio dado pela Inijovem e pelo Rancho Típico das Cantarinhas, fundamentais para o arranque da nossa actividade.
Posso adiantar, que em Setembro iremos animar a Festa Rural, em Azay-le-Rideau (França) e levar “aquele abraço” aos nossos conterrâneos e compatriotas.
A todas as pessoas de Nisa, associações e de outras localidades, o nosso muito obrigado. Os Bombos de Nisa existem, também, graças a elas. E, por elas, vamos continuar, com redobrado estímulo. É a “bombar” que a gente se entende. “
Quem quiser contactar os Bombos de Nisa pode fazê-lo através de TLMs 964430552 / 918746508
ou de e-mail osbombosdenisa@gmail.com
Lembrança do “Passarinho”, construtor de bombos
José Maria Carrasco Bizarro, o “Passarinho”, foi um dos primeiros elementos dos Bombos de Nisa e um dos mais interessados na arte de construir instrumentos. Em Alcaide e noutras aldeias do concelho do Fundão, onde ainda persiste esta arte tradicional, o Passarinho aprendeu a fazer os “ninhos” que foram os primeiros bombos de tantos e tantos instrumentistas do grupo.
As peles vinham de Alcanena ou de particulares que as ofereciam. José Bizarro, com uma paciência de passarinho, fazia a estrutura, em madeira ou outros materiais recicláveis, aplicava-lhe, com mestria as peles, conhecendo, por experiência própria, os batimentos a que iriam ser sujeitas.
O “Passarinho” ainda novo, faleceu, após doença prolongada, mas a lembrança da dedicação aos Bombos permanece bem viva na memória de todos aqueles para quem o Grupo é uma autêntica escola, não apenas de música tradicional, mas de convívio e fraternidade, onde o canto dos “passarinhos” nunca deixa de ecoar.
Mário Mendes in "Alto Alentejo" - 6/7/2011

6.7.11

Sikharuli e Sepé Tiaraju brilharam em Nisa


Foi uma noite de brilho e um espectáculo musical memorável aquele que os grupos SIKHARULI (Geórgia) e SEPÉ TIARAJU (Brasil) ofereceram às dezenas de pessoas que acorreram ao Cine Teatro de Nisa, na noite segunda-feira, 4 de Julho.
De países e continentes tão diferentes, georgianos e brasileiros mostraram todo o virtuosismo das suas danças, o colorido e a magia dos seus trajes, o encanto e a simpatia com que puseram em palco o esplendor das suas tradições.
O público, por vezes tão avaro no reconhecimento dos artistas, esteve, desta vez, ao nível do espectáculo, tributando calorosos e sentidos aplausos, premiando com a sua presença e incitamento, o desempenho de tão singulares embaixadores da cultura.
Os dois grupos actuam esta noite, quarta-feira no CAEP em Portalegre. Quem puder vá assistir a este espectáculo, na certeza de presenciar a exibição de artistas de alto nível e de passar uma noite de puro deleite.

2.7.11

OPINIÃO: Nisa em números – Censos 2011

O Instituto Nacional de Estatística acaba de apresentar os primeiros dados referentes aos últimos censos (2011), ainda em forma de resumo preliminar, mas de onde já se podem abordar algumas informações valiosas, para nos ajudarem a compreender a realidade desta região, em especial do nosso Concelho (Nisa), que para o caso é o que nos interessa tratar.
E neste primeiros resultados, o que verificamos não é mais do que a confirmação, infelizmente, da lenta e longa agonia da desertificação humana, e estes dados não se mostram nada animadores, mas estou em crer que a não se verificar uma intervenção politica, no sentido de estancar esta sangria, mais uns anos e este será um território fantasma, com casas e sem gente, e é isso para que estes números apontam, um caminho para o precipício.
Dos quatro grupos (População, Famílias, Alojamento e Edifícios), os dois primeiros são os que nos preocupam mais, o concelho de Nisa, vê nestes últimos dez anos a sua população reduzir uns significativos 14,3% (menos 1.235 habitantes), eram em 2001 8.585 Habitantes, e agora em 2011 apenas 7.350 Habitantes.
No que concerne ao grupo Famílias, o sentido vai no mesmo do anterior, com uma queda de 11,5% , com menos 425 famílias, no período destes dez anos. Em 2001 eram 3.674 famílias e em 2011 são 3.250 famílias.
Nos outros dois quadros (Alojamentos e Edifícios), os dados parecem ser mais animadores, e até mesmo de um contra censo, já que apesar de haver cada vez menos habitantes existe um maior número de infra-estruturas. Portanto temos um aumento de 7,3% tanto no Alojamento (mais 500 unidades), como nos Edifícios (mais 471 unidades). E daqui ainda podemos analisar a importância vital do sector da construção civil, face á realidade da economia local, nestes dez anos (2001-2011).
E nesta primeira análise com base neste dados preliminares, podemos continuar a afirmar de forma clara, que o futuro da nossa terra (Concelho de Nisa), está cada vez mais sombrio, por isso é urgente voltar a repovoar estas regiões, este sim devia ser um desígnio Nacional e Patriótico de quem nos governa.
José Leandro Lopes Semedo