31.12.15

NISA: Memória(s) da Corrida de S. Silvestre (1)




Num desfolhar de livros e papéis, alguns bastante antigos e que teimamos em guardar, encontram-se, por vezes, algumas preciosidades (para muitos sem qualquer valor) mas que ajudam a reconstituir um pouco da história de Nisa e do concelho, em diversas áreas.
Esses programas e recortes de jornais - que não deixam de ser documentos - aqui disponibilizados dizem respeito a iniciativas de carácter desportivo, concretamente, à popular Corrida de S. Silvestre.
De entre o espólio que estamos a tratar, outros documentos verão a luz do dia (outra vez) depois da sua utilização inicial. Servem, por um lado, como elementos de ajuda para reconstituir a história local e por outro, para termos noção de que ainda não há muitos anos, a vila e o concelho tinham vida própria, iniciativas e dinamismo, muito para além daquilo a que se convencionou chamar "apoio institucional", apoio e colaboração que, sendo útil e indispensável, não deve substituir, nem muito menos submeter, as organizações populares de base.

30.12.15

NISA: 200 atletas são esperados hoje na Corrida de S. Silvestre

A vila de Nisa recebe hoje, dia 30,  a tradicional Corrida de São Silvestre, prova de atletismo que começou a ser disputada nesta localidade no início dos anos 70 e cuja última edição remonta a 1992.
A prova de atletismo Corrida de S. Silvestre é organizada pelo Sporting Clube de Nisa e conta com o apoio técnico da Associação de Atletismo de Portalegre e institucional da Câmara Municipal de Nisa e União das Freguesias do Espírito Santo, Nossa Senhora da Graça e S. Simão.
Luís Costa, atleta consagrado e que representou, entre outros clubes, o Sporting, Benfica, Vitória de Setúbal, O Elvas - El Cristo e o extinto Pallés - Clube de Atletismo de Portalegre, onde se iniciou em competição, é o padrinho da prova, homenagem justa a quem durante tantos anos divulgou a região, pelo país e em Espanha, e que, ainda em criança, correu pela primeira vez na S. Silvestre de Nisa, prova que manteve sempre o cunho tradicional e popular, sendo realizada na última noite do ano.
Hoje, a partir das 20,30h as ruas da vila "bordada de encantos" vão encher-se de animação e a organização espera a participação de cerca de duzentos atletas de todas as idades, uma vez que a prova é aberta e inclui o escalão de benjamins para atletas a partir dos dez anos.
A principal corrida será disputada num circuito urbano de 2.650 metros e num total de 8. 000 metros, o que equivale a três voltas ao circuito estabelecido.

26.12.15

Bombeiros de Nisa organizam Passeio Todo o Terreno


Poesia social do Alentejo (2)

A Enxada
Fui nova, cortante enxada,
Desbravei, cavei o chão;
Fui sucata abandonada,
Agora ando num canhão.

Quase me lembro de ser
A pedra de mineral,
E lembro a luta fatal
Do braço para me colher.
Levaram-me a derreter,
Fui em ferro transformada,
Fui, depois, à martelada,
Numa bigorna estendida,
Deram-me a força devida,
Fui nova, cortante enxada.

Comprou-me um moço possante,
Pôs-me um cabo de madeira,
E lá vou na segunda-feira
Nos braços desse gigante.
Desde esse dia em diante
Foi a minha profissão
Desbravar terras de pão,
Relvas, vinhas, olivais.
Vinte anos, talvez mais,
Desbravei, cavei o chão.

Começava de manhã,
Sempre em luta vigorosa,
Mesmo em terra pedregosa
Cada vez com mais afã.
Resisti, enquanto sã,
A poder ser consertada.
Já rasinha e dilatada,
Deixei de ser ferramenta,
Fui para o canto, ferrugenta,
Fui sucata abandonada.

Passei anos sem valor,
Com velhos ferros como eu,
Até que um dia apareceu
Lá por casa um comprador.
Meteram-me num vapor,
Fui a nova fundição.
Por meu destino ou condão
Nunca mais cavei na terra;
Mandaram-me para a guerra,
Agora ando num canhão.
Manuel António Castro

22.12.15

OPINIÃO: O Pólis de Nisa e o que há por (re)fazer

A Câmara de Beja, segundo notícia do "Público" de 15 de Dezembro, "continua a corrigir intervenções do Programa Polis”. A edilidade bejense meteu ombros a obras de correcção de um Programa que terminou há dez anos e ficou assinalado em todo o país por intervenções urbanísticas de grande envergadura, muitas delas, no mínimo bizarras e grotescas, para não dizermos que constituíram verdadeiros crimes de lesa património e atentados à memória colectiva dos habitantes dessas vila e cidades onde as mesmas tiveram lugar.
Nisa não escapou à veia modernista, à febre requalificadora e ao vendaval de obras que, como o artigo denuncia foram levadas por diante sem a participação, mínima, dos seus pretensos destinatários: as populações. Era preciso arrancar a todo o gás, cumprir os prazos porque o calendário eleitoral não podia esperar. Esventrou-se o solo, arrancaram-se árvores frondosas e de antiga idade; fizeram-se promessas em cartazes gigantescos da construção de um novo paraíso. Implantaram-se estruturas metálicas de ferro ferrugento, barreiras urbanísticas a divulgar a arquitectura de vanguarda. Destruiu-se um jardim romântico, dos mais belos do Alentejo, espaço de vivências e memórias, com a mentira do aumento da área verde.
As incoerências e contradições do projecto foram desmascaradas com argumentos de senso comum, a que os técnicos e mentores políticos da obra não souberam dar resposta capaz e condigna.
As obras avançaram, não podiam parar perante a oposição de meia dúzia de lunáticos ou "velhos do Restelo" como foram, na altura, apelidados. Orgulho-me de ter pertencido a esse reduzido núcleo que alertou e denunciou os verdadeiros atentados ao nosso património e à nossa história colectiva.
Erros de palmatória estavam à vista de todos, mas não quiseram ver, não quiseram admitir a razão e o bom senso. Impuseram-nos a sua visão "requalificadora", o uso maciço da pedra, muita dela importada de outras regiões. Não sei quem ganhou com o negócio, mas os nisenses não foram, de certeza.
As fotografias do "Pólis de Nisa" estão à vista de todos. Mesas e bancos de pedra em sítios sem sombra; uma rotunda que é um calvário para os automobilistas, principalmente para os de veículos pesados; um jardim destruído; a ferrugem metálica a separar a Alameda da estrada nacional; a ausência de estacionamento para autocarros; a famigerada requalificação da Rua Júlio Basso, tão vergonhosa como inútil, de tal modo que necessita, urgentemente, de intervenção. Junte-se a isto, a redução da área do jardim, a transformação dos passeios públicos em áreas de esplanada; a redução das vias de circulação automóvel; o desmantelamento das belíssimas escadas de acesso ao jardim em granito, substituídas por outras sem qualquer protecção.
Não sinto nenhuma satisfação especial por ter tido razão há dez anos e de outros, com responsabilidades, terem optado pelo silêncio.
A Câmara de Beja com as intervenções que está a fazer mostra que, afinal, não há obras e projectos perfeitos e imutáveis. Umas e outros são passíveis de correcção, não por vaidade pessoal de mudar só para se dizer que se fez diferente, mas em favor do interesse colectivo. A Câmara de Nisa, também percebeu a necessidade de correcção de muito do que foi (mal) feito. Sem grandes gastos arranjou espaço para estacionamento de autocarros. Implantou mesas e bancos em local apropriado e mais poderá instalar nessa zona da Alameda. Arrancou as estruturas ferrugentas e aproveitou-as (numa intervenção com que não concordo, pela sua inestética) na instalação de abrigo para os taxistas.
Das latas e canteiros ferrugentos da Rua Júlio Basso já pouco resta. A realidade sobrepôs-se à ficção. A rua carece de intervenção séria e participada com os moradores e comerciantes.
As obras do Pólis em Nisa,  há 10 anos mostraram o que não deve fazer um executivo municipal. Planear e agir deve envolver, sempre, os munícipes. Envolvimento e participação, não como figura de retórica, mas como um elemento activo da gestão da coisa pública.
Os milhões de euros de há 10 anos, são agora migalhas para o que é necessário refazer. Não teremos, jamais, o nosso belo jardim público, a "árvore da mentira", as frondosas tílias, o lago próximo do coreto. Às vezes, pergunto-me como é que o coreto, ao contrário da fonte, conseguiu escapar a tão "belas" intenções requalificadoras...
Cometeram-se crimes de lesa memória e lesa património. Ninguém - como é habitual - teve culpa ou será responsabilizado. Foi tudo a bem do povo e da nação. Honras lhes sejam feitas. Só espero que não venham, com novas "cantigas do bandido", tentar estragar aquilo que não conseguiram...
Mário Mendes

20.12.15

PORTAL DE NISA deseja-vos Boas Festas e um Feliz Natal

Votos de um Feliz Natal e um Novo Ano de 2016 com muita Saúde, Paz, Alegria e Prosperidade (se esta última não for possível, que se mantenham e reforcem, as anteriores) a todos os visitantes do "Portal de Nisa".

19.12.15

NISA: Ainda as primeiras Eleições Autárquicas (12 Dez. 1976)


 No primeiro artigo sobre as eleições autárquicas de 1976 tínhamos prometido trazer mais alguns dados que considerássemos relevantes sobre o assunto, desde logo em mente a lista de todos os presidentes de Junta de Freguesia eleitos no concelho de Nisa.
Antes, porém, queremos penitenciar-nos de um erro cometido e aproveitar para a sua correcção.
A FEPU - Frente Eleitoral Povo Unido que integrava o PCP, MDP/CDE e FSP não conquistou a presidência da Junta de Freguesia de S. Simão. Esta foi eleita em Plenário de Eleitores, o que desde logo, mostrava a contradição com o que escrevemos.
O Presidente da Junta de Freguesia de S. Simão, eleito em Plenário de Cidadãos Eleitores, foi o cidadão Francisco Carrilho de Almeida. Este foi, de facto, o primeiro presidente eleito da Junta de Freguesia de S. Simão, nas primeiras eleições em democracia para os órgãos do poder local (12 de Dezembro de 1976). 
Os primeiros Presidentes de Junta de Freguesia eleitos
ALPALHÃO: Joaquim Lemos Loução (PS)
AMIEIRA DO TEJO: Luís Constâncio da Cruz (PS)
AREZ: Francisco Jorge da Rosa (PS)
ESPÍRITO SANTO: José Dinis Martins (PS)
MONTALVÃO: João Belo Dias (FEPU)
NOSSA SENHORA DA GRAÇA: José das Neves Bonito (PS)
SANTANA: Olívio Mendes Ramalhete (PS)
S. MATIAS: José Dinis da Cruz (PS)
S. SIMÃO: Francisco Carrilho de Almeida (Plenário de Cidadãos Eleitores)
TOLOSA: Nuno Enes de Oliveira (XIV – Lista independente).
Anexos: Documentos da CNE (Comissão Nacional de Eleições) e Lista de candidatos da FEPU - concelho de Nisa

ALPALHÃO: Presépio Vivo recupera a essência do Natal

Cerca de 30 figurantes vão encenar a 8ª edição do Presépio Vivo de Alpalhão, que vai decorrer a 25 de dezembro na praça de touros daquela freguesia do concelho de Nisa.
A iniciativa do Movimento Teresiano de Apostolado (MTA) de Alpalhão espera, à semelhança de edições anteriores, receber cerca de duzentos visitantes oriundos de toda a região.
Em declarações à Rádio Portalegre Mariana Duarte, do MTA, explicou que o objetivo do evento passa por recuperar a essência do Natal, recriando a verdadeira história desta quadra festiva.
O espaço começa a ser decorado esta sexta-feira pelos jovens deste movimento que contam também com a colaboração de várias instituições locais.
Personagens, trajes, tendas e animais vão contar a história bíblica desde a aparição do Anjo Gabriel a Maria em Nazaré até ao nascimento de Jesus em Belém.
O Presépio Vivo vai estar em cena entre as 16h e as 17:30h de 25 de dezembro na praça de Touros de Alpalhão.
Carla Aguiã in “Rádio Portalegre”

18.12.15

NISA: António Mesquita Trigueiros é o novo Director do Agrupamento de Escolas


Em nota, hoje, dia 18 de Dezembro, publicada no site do Agrupamento de Escolas de Nisa, o Conselho Geral daquela instituição de ensino dá conta de que "procedeu à discussão e apreciação do Relatório de Avaliação das candidaturas ao cargo de Director" tendo realizado a eleição para a escolha do Director, sendo escolhido com 16 votos, António Mesquita Trigueiros.
O Agrupamento de Escolas de Nisa passa, assim, a estar plenamente dotada dos seus órgãos directivos, mais de quatro meses após o falecimento do antigo director, José Luís Tomás Bruno.
Ao novo director do Agrupamento de Escolas endereçamos os votos de um trabalho profícuo em prol de uma Escola renovada e de um projecto educativo que melhore os índices de aproveitamento e desenvolvimento escolar que têm andado um pouco arredados do concelho e da região.

17.12.15

TRADIÇÕES: A Matança do porco em Santana (Nisa)

Terminada a apanha da azeitona, os lagares em plena laboração e muitas pessoas já com o novo azeite em casa, era o tempo dos grandes frios, e os porcos já estavam bem crescidos. Família e vizinhos juntavam-se e, no dia combinado, para a tradicional matança. Este ritual também ainda acontece hoje em dia, cada vez mais raro e com as devidas diferenças, pois mudam-se os tempos…
A matança não era só o dia em que era morto o porco mas também os dias seguintes, até à feitura total dos diversos enchidos, passando pelo salgar das carnes e cura dos presuntos e chispes.
O dia da matança começava com a junção de homens e/ou rapazes (4 ou mais) e normalmente pelo menos uma mulher, que munida dum alguidar já com um punhado de sal. Nesta altura era oferecido um cálice de aguardente, (para aquecer e dar genica). Outras vezes, era apenas depois de o porco acabar de sangrar e ser deixado pronto para chamuscar que era oferecida a aguardente.
A aldeia era acordada com o"gosiar" (?)) do animal a ser morto. O matador segurava uma das patas dianteiras e espetava a faca entre ela e o pescoço, de modo a atingir uma das artérias ou veias principais do bicho, próximo do coração, fazendo-o sangrar até à exaustão. O sangue era aparado no alguidar e continuamente mexido para não coagular de imediato. Iria mais tarde servir para as morcelas e sopa de cachola.
O animal esperneava violentamente, pelo que tinha de ser bem seguro, pelas patas, orelhas e rabo. Depois de morto (esticar o pernil), passava-se à fase de chamuscar e lavar. Com a ajuda de carqueja a arder, era queimado o pêlo e arrancadas as unhas e a ponta do focinho. (Hoje usa-se o maçarico a gás). De seguida, era bem raspado, esfregado e lavado, com a ajuda de facas afiadas, carqueja verde, ou um pedaço de telha. Por vezes, as “cerdas” era aproveitadas pelos sapateiros, para aponta das linhas de cozer o calçado.
De seguida, era colocado o chambaril nos tendões das patas pendurado, de cabeça para
Baixo e era então aberto pela barriga, retiradas as tripas e separadas as restantes vísceras. Ficava depois algumas horas a escorrer os restos de sangue ou água para um recipiente e arrefecia completamente.
As mulheres iam ao ribeiro, para lavarem as tripas. Bem lavadas e esfregadas com sal e casca e sumo de laranja, que seriam depois aproveitadas para fazer os diversos enchidos. Enquanto isso, os homens aproveitarem o tempo para uma pausa, e provarem o “taimeiro”.
Para o almoço do dia da matança era muitas vezes logo feita a sopa de cachola e ao jantar as couves de laburdo. No final do dia eram feitos os primeiros enchidos, as morcelas.Com agilidade, as tripas eram enchidas, com a ajuda de uma enchedeira, cosidas com linha ou fio grosso e cortadas à maneira! Depois eram fervidas em água e postas nas varas do fumeiro, com lume constante durante vários dias.
No início dessa mesma noite ou no dia seguinte, o porco era descido do chambaril e desmanchado, separando as carnes a salgar -toucinho, presuntos, chispes, cabeça, pés- da carne para consumo fresco ou que iria ser usada nos restantes enchidos. Assim, a carne magra servia para fazer os chouriços magros, paios, painhos e lombos e a mais com sangue era para os mouros, e cacholeiras. usava-se junco verde para cobrir o chão onde se executavam estas tarefas.

Os enchidos eram feitos dois dias depois. As carnes ficavam migadas em alguidares onde eram temperadas com condimentos (sal, colorau, alho, cominhos, vinho, etc.) e eram provadas, grelhadas no espeto até afinar o tempero.
Das tripas do intestino grosso faziam-se os paios e painhos; do delgado, as morcelas, linguiças e chouriços.
As farinheiras eram as últimas, à base de banhas, carne gorda e toucinho, a qual era misturada com farinha. Por isso, também eram feitas em maior quantidade que os outros enchidos e duravam para (quase) todo o ano.
Por vezes, havia ainda quem aproveitasse restos de massa das farinheiras, juntasse um pouco mais de carne e fizesse “caçarrapos” que eram fritos às colheradas e comidos ainda quentes.
Como não havia arcas frigoríficas a maior parte da carne era salgada e guardada na salgadeira. Febras e costelas eram conservadas em toucinho derretido (banha), durante algumas semanas até ser totalmente consumida.
* Joaquim Marques - Texto publicado in "O Montesinho" - Dezembro de 2010

14.12.15

SAÚDE: Infecções respiratórias

As infeções agudas das vias aéreas são a causa mais frequente de consulta nos serviços de atendimento médico pediátrico, sendo uma causa de morbilidade importante em todo o mundo, acarretando custos elevados, pelo absentismo que implicam e com muito maior frequência no período de Outono e Inverno.
 A sua etiologia é, em mais de 80% dos casos, viral.
Existem vários vírus responsáveis (rinovírus, coronavírus, vírus sincicial respiratório, coxsackie, influenza, parainfluenza, adenovírus e outros), sendo a criança tanto mais vulnerável quanto mais jovem, pela sua imaturidade imunológica.
As manifestações clinicas são várias: coriza, obstrução nasal, espirros, rinorreia, dor de garganta, cefaleias, febre, tosse seca, mialgias, calafrios, podendo provocar choro, irritabilidade, recusa alimentar e vómitos nos lactentes.
O seu diagnóstico é essencialmente clinico e a identificação do vírus é desnecessária, salvo nalgumas situações mais graves ou por razões de importância epidémica.
O tratamento é totalmente sintomático, estando contraindicado o uso de antibióticos, que deverão ser reservados para as complicações bacterianas que eventualmente possam ocorrer.
 Medidas gerais como repouso no período febril, hidratação com ingestão de líquidos e dieta conforme aceitação, a desobstrução nasal com soro fisiológico e humidificação do ambiente, devem ser tomadas.
Podem utilizar-se medicamentos antipiréticos e analgésicos, anti-inflamatórios, descongestionantes nasais, com moderação e por períodos curtos, antitússicos e anti-histamínicos, estes últimos apenas por indicação médica.
O prognóstico é bom, dado serem doenças autolimitadas, em crianças sem problemas imunológicos.
As complicações mais frequentes são as infeções bacterianas, onde se devem utilizar os antibióticos, sempre por prescrição médica, e nunca como prevenção dessas complicações, pela sua inutilidade e poderem causar efeitos adversos e aumento da resistência aos antibióticos.
Recentemente surgiu no mercado nacional uma alternativa, um medicamento à base de plantas, que demonstrou em vários ensaios clínicos e meta-análises, ter um efeito antiviral e citoprotector, propriedades antibacterianas e secretomotoras, o que permite encurtar o período de doença com recuperação mais rápida, diminuir a intensidade dos sintomas e prevenir as infeções bacterianas, sendo seguro, dado não estarem descritos efeitos adversos graves.
Medidas preventivas devem ser tomadas procurando limitar a propagação destas infeções, como a lavagem de mãos frequente, evitar o contacto com pessoas infetadas, espirrar ou tossir colocando o antebraço em frente do nariz e boca, não apertar a mão ao cumprimentar, não dar beijos, evitar espaços fechados e mal arejados, que facilitam a propagação destas infeções.
Os doentes alérgicos, com rinite e/ou asma, devem dobrar de cuidados, dado estas infeções poderem desencadear exacerbações da doença e estarem mais dispostos às suas complicações.
Em conclusão, as infeções respiratórias agudas são muito frequentes e o principal motivo de consulta no período do Inverno, o seu diagnóstico é essencialmente clinico, devendo evitar-se exames auxiliares de diagnóstico dispensáveis e medidas terapêuticas desnecessárias e sem benefício, procurando uma prevenção eficaz.
* Libério Ribeiro, Pediatra e Presidente da Sociedade Portuguesa de Alergologia Pediátrica

13.12.15

DO ALTO DO TALEFE (4) – O meu menino é de ouro

 Ó meu menino da rua
Só, com uma chave na mão:
Quem é que brinca contigo?
Quem é que pede perdão?
O meu menino é de ouro. Pai, mãe, avó ou avô para cada um o seu menino é de ouro.
Quando nasce, aquele choro lindo, aquele sorriso lindo.
Quando gatinha, que lindo é. Quando palra, que lindo é o menino.
Quando faz tem-tem, e dá os primeiros passos que lindo é o menino.
E o menino cresce. Vai à escola o nosso menino, que lindo é o menino.
Que emoções desperta, na mãe que o adora, no pai que nele se revê, na avó e no avô que choram só de olhar para o seu menino.
Quando for grande o nosso menino vai ser... porque o nosso menino é de ouro.
Que emoções desperta o menino adolescente, que até há quem dele se apaixone.
Desperta emoções o menino. Mas, e as suas emoções?
O menino, os nossos meninos têm emoções, e crescem com elas, e constroem-se com elas.
As suas emoções surgem em cada instante, no contacto com os familiares e com o mundo que o rodeia. Mundo que começa por ser o berço e o colo da sua mãe, mas que rapidamente se alarga a um espaço muito para além da casa, da rua, da vila, da cidade.
Porque gosto disto ou daquilo? Porque me sensibilizo a ver isto? Porque me irrito ao presenciar aquilo? Porque me culpabilizo? Emoções, não se aprendem na escola. Mas quando reagimos desta ou daquele maneira, são as emoções que nos comandam.
Quando os meninos crescem e se tornam homens e mulheres, lá continuam as emoções a surgirem e a mostrarem-se em atitudes sensíveis ou insensíveis muitas vezes não controladas pelo lado racional, socializado pela vida em colectivo.
O nosso menino é de ouro mas vive num mundo de lata, que lhe desperta as mais desencontradas emoções.
A lata que nos dá a informação do mundo, mostra-nos diariamente cenas de guerra depois de discursos falando de paz e bem-estar.
A lata que nos mostra o mundo diz-nos que a vida colectiva deve ser solidária. Mas mostra-nos que a sociedade que vende em supermercados latas de comida para cães e gatos é a mesma sociedade que convive com gente que morre de fome e doença.
As latas que nos mostram o mundo, dizem-nos que milhões de meninos e de homens que não puderam ser meninos vivem do lixo, ao mesmo tempo que outros milhares correm para estádios para aplaudir méis dúzia de homens ou mulheres que fazendo algumas habilidades ganham fortunas.
As latas que nos mostram o mundo, exibem despudoradamente o lado feio da vida dos meninos de ouro sem nada, ao mesmo tempo que mostra o lado bonito de outros meninos de ouro com tudo.
As latas que nos mostram o mundo, apresentam concurso em que a ignorância é recompensada com carros, ouro e milhares de contos e depois informa que quem estudou está desempregado.
As latas que mostram o mundo, exibem festas de gente habilidosa que engana, trapaceia, ludibria e enriquece e a seguir mostra-nos bairros desgraçados com meninos a brincar em esgotos.
As latas que nos mostram o mundo, mostram alarvemente carnes apetitosas de mulheres, depois das moscas pousadas nos lábios de meninos a morrerem à fome e antes de cenas de matanças de homens esventrados e decepados.
As latas que mostram o mundo, mostram tudo isto à hora das refeições. Com a família reunida. Com os nossos meninos de ouro à mesa.
Que emoções despertam?
Todos nós temos ou tivemos os nossos meninos de ouro, que cresceram com as suas emoções.
Uns aprendem a conviver com as emoções, outros não.
E, quando alguns meninos não racionalizam as suas emoções e se tornam uma ameaça para a sociedade, lá estão as latas que mostram o mundo a fazer discursos sobre o porquê, depois de uns anúncios de detergentes e antes de um filme violento com direito a bola vermelha no canto superior direito.
Os nossos meninos de ouro têm emoções e nós também.
Saibamos viver com elas na sociedade que, para o bem e para o mal, vamos construindo...
Zé de Nisa – Jornal de Nisa – nº 73 – 20 Dez. 2000

POESIA SOCIAL DO ALENTEJO (1)

Os bêbados (1908)  
Os bêbados passam cantando nas ruas
Desertas da aldeia;
Recebem contentes, ao sábado, as jornas
E vão derretê-las à boca das dornas,
De noite, nas tascas, à luz da candeia.

Em chusmas, unidos, é vê-los no escuro
- Que até fazem dó! –
Espectros da fome, sair das tavernas,
Borrachos, cantando, cambadas as pernas,
Os olhos mortiços e as bocas em ó...

Um canta em voz alta; respondem-lhe os outros,
E cresce, enche o ar
Um coro arrastados, soturno, indolente,
E a alma do povo, parece que a gente
A sente cá dentro do peito a chorar!

Trabalham, mourejam de dia, e à noite,
Coitados, lá vão,
Fugidos à gleba, libertos do ancinho,
Embora haja fome, beber, porque o vinho
Alegra e é por isso melhor do que o pão.

Nas praças desertas abraçam-se em grupos,
Meu Deus, que tristeza!
E os braços lhes pesam mais leves nos ombros,
Que o lenho das dores, por esses escombros
Dos rudes calvários, nos ombros lhes pesa.

Os bêbados choram nas noites caladas,
Cantando em segundas,
As queixas doridas, os ais e os lamentos
Que às vezes se escutam na leva dos ventos,
Na voz, no marulho das águas profundas.

O génio das coisas soluça naquelas
Tristezas ocultas,
E os tristes borrachos, cantando nas praças,
Sugerem tragédias, acordam desgraças
Que, ó génio das coisas, na treva sepultas!

Um canta em voz alta; respondem-lhe os outros,
E cresce, enche o ar
Um coro arrastados, soturno, indolente,
E a alma do povo, parece que a gente
A sente cá dentro do peito a chorar!
Conde de Monsaraz
(Musa Alentejana, Lisboa, 1908)
Pintura "Os Bêbados" - José Malhoa - 1907

12.12.15

NISA: As primeira eleições autárquicas (Dezembro 1976)

Em 12 de Dezembro de 1976 realizaram-se as primeiras eleições para as Autarquias Locais (Câmaras, Assembleias Municipais e Assembleias de Freguesia) após o derrube do regime fascista e a instauração da democracia.
A nível nacional, no distrito de Portalegre e em Nisa, o Partido Socialista foi o grande vencedor, tendo conquistado, no que respeita ao agora designado Norte Alentejano, a presidência de 12 das 15 câmaras municipais. O distrito de Portalegre foi, aliás, aquele em que os socialistas tiveram a maior expressão eleitoral, tanto em número de mandatos, votos e percentagens. 
Recordamos estas primeiras eleições para os órgãos do poder local, tanto pela efeméride (12 de Dezembro) como pelo facto de, no próximo ano se completarem 40 anos sobre a instauração da democracia local, de ano para ano e de mandato para mandato, cada vez menos democrática e cada vez mais tecnocrática e pessoal.
PS conquista Câmara, Assembleia Municipal e sete das dez Freguesias
Tal como no distrito, o  Partido Socialista foi o grande vencedor e com votação esmagadora (que não voltaria a repetir) nas principais autarquias do concelho.
Elegeu António Pires Bento como presidente da Câmara e mais dois vereadores; elegeu Arménio de Almeida como presidente da Assembleia Municipal e conquistou a presidência das Juntas de Freguesia de Alpalhão, Amieira do Tejo, Arez, Espírito Santo, Senhora da Graça, Santana e S. Matias.
A FEPU - Frente Eleitoral Povo Unido que integrava o PCP, MDP/CDE e FSP elegeu um vereador, dois deputados municipais e conquistou a presidência das Juntas de Freguesia de Montalvão e S. Simão, esta através de um Plenário de Eleitores.
Nas primeiras eleições autárquicas (1976) diversas foram as candidaturas de cidadãos eleitores ou de independentes no distrito e a nível nacional. No concelho de Nisa, foi Tolosa a "estrear" esta forma de candidatura fora dos partidos e que anos mais tarde haveria de ganhar outra projecção. A lista de Tolosa ganhou, com maioria absoluta, a presidência da Junta e da Assembleia de Freguesia.
O primeiro executivo municipal saído de eleições livres ficou assim constituído, para administrar a autarquia durante o mandato 1976- 1979:
* António Pires Bento (PS) - Presidente
* Manuel Vences Cordeiro (PS) - Vereador
* Júlio de Almeida Pires (FEPU) -    "
* Anselmo Semedo Louro (CDS)     "
* Francisco Pereira Trindade (PS) -  "


Deixamos, para registo histórico e curiosidade dos interessados, alguns quadros retirados quer da Wikipédia, quer do site da CNE. Faltará aqui registar o nome de todos os presidentes de Junta de Freguesia do nosso concelho, eleitos nesse acto pioneiro do poder local português, o que só não fazemos por nos faltar o nome de um dos eleitos. A breve prazo, prometemos corrigir esta anomalia. 
As eleições autárquicas portuguesas de 1976 foram realizadas a 12 de Dezembro.
Foram as primeiras eleições para eleger os órgãos locais, depois, da Revolução dos Cravos. Nestas eleições foram eleitos 304 presidentes de câmara municipais, 5135 deputados municipais e, cerca, de 26 mil deputados para as assembleias de freguesia.
Os resultados destas eleições deram a vitória ao PS, que conseguiu, cerca de 33% dos votos, apesar de, ter empatado com o PPD em número de presidentes de câmara: 115. De realçar, também, a abstenção, que rondou os 35%, número alto, tendo em conta, que, nas eleições legislativas portuguesas de 1976, a abstenção foi de, aproximadamente, 16%.

11.12.15

Natal de Nisa na poesia popular de Maria Pinto

Numa pobre manjedoura
nasce o Menino Jesus.
Filho de Virgem Maria
veio ao Mundo dar a luz.

A Virgem o adorava,
com prazer e alegria.
Nasce o Redentor do Mundo
aos pés da Virgem Maria.

Fica a Virgem sempre virgem,
a Mãe de todo o Poder.
São José a acompanhá-la
e o Deus Menino a nascer.

Brilham no céu as estrelas
ao nascer o Deus Menino.
Todos iam adorar
o bom Deus tão pequenino.

Ovelhinhas e pastores
nosso Deus vão adorar;
a mula impaciente
o que faz é resmungar.

A vaquinha bafejava,
aquecendo o nosso Deus.
Já nasceu o Deus Menino,
Rei da Terra e Rei dos Céus.

Vêm logo os pastorinhos,
com leite, mirra e incenso,
of´recê-los aos Menino
Que tem um poder imenso.

Vêm os reis adorar
Nosso Menino Jesus.
Ele é o nosso bem,
nosso guia e nossa Luz.

Este dia do Natal
é um dia de alegria,
é por todos festejado,
benvindo seja este dia.

Ó meu Menino Jesus,
de beleza sem igual,
este teu dia é ventura
neste nosso Portugal.
Há jantares melhorados,
tudo faz por comer bem,
pois nasceu o Redentor
num cantinho de Belém.

Há assados com bons molhos,
há filhós, há azevias.
Este dia de Natal
a todos traz alegrias.

Toca à missa; é meia-noite,
começa o galo a cantar;
já nasceu o Deus Menino
nasceu para nos salvar.

Ó meu menino Jesus,
meu Menino delicado!
Dêem-lhe um vestidinho
no dia do baptizado.

Assim diziam os antigos:
- Traça-traca, esmola ao saco;
quem não quiser dar vintém
que nos dê mesmo um pataco.

Todos cantam nesta noite
debaixo da chaminé,
com lume grande a aquecer
Jesus, Maria, José.

Debaixo da chaminé,
Lá vão pôr o sapatinho,
À espera dos presentes
Que lhes traga o Deus Menino.

Alegres, no outro dia,
suas prendas vão mostrar.
Foi o Menino Jesus
que as veio cá ofertar.

Tudo faz por se juntar,
é um dia festejado.
Ó meu Menino Jesus,
por todos és adorado.

Dá saúde aos doentinhos,
Jesus, que tendes poder;
abençoai os soldados
que estão longe a combater.

Cantem, cantem, meus meninos
ao bom Menino Jesus
que nasceu para nos salvar,
para dar ao Mundo, luz.
Maria Pinto“Correio de Nisa”24/12/1966