Demorou, mas a verdade lá veio ao
de cima: afinal, era mesmo um “contratado” de José Sócrates que escrevia o blog
“Câmara Corporativa”, sob o pseudónimo Miguel Abrantes, com mais vigor entre
entre 2005 e 2010 (o blog manteve-se até 2015, está parado desde então).
Chama-se António Peixoto, e recebia, diz a imprensa, mais de 3500 euros mensais
para postar textos em defesa do Governo, de Sócrates, e altamente agressivos
para quem os criticava.
Surpreendia-me, mais do que a
rapidez na resposta aos críticos, o volume de informação que tinha sobre os
“adversários”. Conseguia encontrar contradições entre textos com anos de
distância, parecia ter uma memória brutal, e certamente tinha quem o ajudasse
na ciclópica tarefa de responder a tanta gente que cascava no Governo. Podia
dizer-se tudo sobre Miguel Abrantes - menos que não era dedicado, empenhado, e
altamente competente a desfazer aqueles que se metiam com o Governo da altura.
Quis entrevistá-lo na rádio, para
desfazer o mito e perceber a figura. O facto de usar um pseudónimo era
respeitável, e eu não tinha qualquer interesse em explorar esse facto, tanto
mais que só tinha de “dar” a voz - queria antes entender o que o movia, e até
que ponto era um porta-voz encapotado de José Sócrates na blogosfera.
Trocámos alguns e-mails, recusou
o convite, mas o essencial do que me disse reduz-se a estas linhas:
“Se a minha presença no programa
desfizesse o boato (de que era um braço “armado” de Sócrates), talvez se
justificasse a ida a Lisboa. Acontece que logo eu seria encarado como o
"porta-voz" do "grupo de assessores”. Um dia, se quiser, dou-lhe
a minha opinião de como deveria ser feito um blogue de assessores. É estranho
que um "blogue de assessores" não escreva uma linha a defender
ministros como o da Saúde, a da Educação, a da Cultura e por aí fora, que
estiveram sob fogo”.
Miguel Abrantes, o homem que não
era assessor mas afinal recebia mais de 3500 euros por mês para escrever o
blog, levava a sério a função ao ponto de se justificar desta forma - ou de me
dizer, noutro e-mail, “algo me diz que deveria aceitar o convite, para de uma
vez por todas acabar com as histórias de que sou um fantasma. Não sou”.
Mais do que um fantasma, Miguel
Abrantes foi uma sombra e arma de arremesso a coberto de um pseudónimo, e um
realíssimo aldrabão para pessoas de boa-fé, como foi o meu caso. Fácil, eficaz,
e mais barato do que um contrato com uma agência de comunicação: usar as mesmas
armas, mas sem dar a cara. Isto diz muito sobre a forma como José Sócrates
encarou o poder, os media, e a opinião publica.
Infelizmente, não esteve sozinho
- e quando se questionou a existência de tal blogger, uma jornalista militante
da ética, da verdade e da deontologia, chegou-se à frente. Chama-se Fernanda
Câncio e, no blog Jugular, no dia 22 de Fevereiro de 2008 - e posteriormente
editado a 7 de Novembro de 2008, foi peremptória: “Eu, como a maioria das
pessoas que escreveu no blogue “sim no referendo”, conheço o Miguel Abrantes. Vi-o, jantei com ele, sei onde trabalha. e sei que não é assessor do governo.
Mas, sendo as coisas e as acusações o que são, este meu affidavit não deve
servir de muito ao Miguel Abrantes (nem a mim, for that matter). Paciência -- é
a verdade”.
Oito anos depois, começamos a
perceber a noção de verdade que cercava Sócrates, o seu núcleo duro e alguns
jornalistas ditos “de referência”. Não surpreende. Pior é quando alguém se
lembra de ligar a ventoinha da memória mesmo em frente da lama…
Listas e mais listas…
Sempre gostei de listas. Seja de
ricos ou de supermercado, de discos ou de países. Neste site, quem for como eu
pode perder-se pelo infindável número de listas que se possa imaginar…
Lembrei-me de sugerir listas
porque esta semana a revista Time, que já publica regularmente tabelas com os
mais influentes ou os mais poderosos, avança para a invejável lista dos
teenagers mais influentes de 2016. Deliciem-se e… surpreendam-se!
É verdade que a montanha terá
parido um rato - mas o consórcio de jornalistas que trouxe para as primeiras
páginas dos jornais de todo o mundo os “Panama Papers”, não parou de trabalhar.
No site oficial do ICIJ, listas não faltam…
Pedro Rolo Duarte