6.7.17

INCÊNDIO CHEGOU A AMEAÇAR A VILA DE NISA (2007)

No dia 29 de Julho de 2007 - Pânico e prejuízos num incêndio de grandes dimensões *
Nisa voltou a sentir as sensações de medo, desespero e insegurança vividas em 2003 quando uma vaga de incêndios varreu o concelho.
No dia 29 de Julho, um violento incêndio deflagrou, pelas 14, 06 horas, na freguesia de S. Matias, próximo da localidade de Monte Claro, no terceiro dia da Feira de Artes Tradicionais, e rapidamente atingiu proporções alarmantes, face às altas temperaturas e à velocidade do vento que se fazia sentir, tendo sido mobilizadas para o local 46 entidades, entre as quais 14 corpos de bombeiros do distrito de Portalegre, dois grupos de apoio nacional, integrando 15 corpos de bombeiros, com 60 homens e 18 viaturas.
Para combate às chamas estiveram também no local cinco equipas de sapadores florestais, equipas da Afocelca, com seis viaturas e dois helicópteros, os “canarinhos” com um helicóptero e duas viaturas, uma ligeira e uma pesada, para além de associações florestais da região, efectivos que não conseguiram debelar a violência das chamas.
Inicialmente, apenas com uma frente, o fogo tomou duas direcções devido à intensidade do vento, dirigindo-se ambas para a periferia da vila de Nisa, que chegou a ameaçar a algumas casas na zona das urbanizações da Cevadeira, Amoreiras e Fonte da Aluada.
Em perigo estiveram também algumas áreas residenciais na Estrada do Monte Claro e na Estrada da Senhora da Graça, à saída de Nisa para Pé da Serra.
Baldados os esforços para apagar o fogo, que chegou a ser dado como controlado, na zona da Maria Dias, o comando operacional concentrou os meios humanos e viaturas de combate na defesa da vila de Nisa, tentando impedir que as chamas chegassem às habitações, o que foi conseguido, ainda que durante algumas horas o ar se tenha tornado quase irrespirável devido às densas e negras nuvens de fumo que rodearam toda a zona urbana de Nisa. Com o aproximar da noite de domingo e face à previsibilidade de cortes de energia eléctrica, a organização da Nisartes mandou encerrar o recinto onde a feira decorria, tendo, igualmente, cancelado os espectáculos agendados para este dia.
O efectivo de bombeiros no terreno foi reforçado com mais um grupo de Santarém, composto por seis viaturas e 25 homens e no que toca a meios aéreos, foram deslocados os aviões ligeiros, com base em Proença-a-Nova, o heli de Castelo Branco e mais dois de Seia, para além dos dois aviões russos Beriev, que actuaram este ano pela primeira vez, de acordo com as informações prestadas pela Protecção Civil de Portalegre.
O fogo foi dado como circunscrito às 23H30, mas só foi extinto na madrugada de segunda-feira, iniciando-se as operações de vigilância e rescaldo.
Segunda e terça-feira, estavam ainda destacados meios para o local, para continuar estas operações, permanecendo até quarta-feira de manhã, após o que foram desmobilizados.
Segundo o CDOS de Portalegre o fogo esteve mesmo às portas da vila, chegando a destruir alguns palheiros e casas desabitadas. Mas, a pronta intervenção dos aviões pesados levou a que se evitassem males maiores e a que o fogo progredisse para dentro de Nisa.
Neste incêndio morreram muitos animais, como ovelhas, porcos, galinhas e caça, embora não tivesse sido possível confirmar a quantidade de animais mortos.
Muitos foram também os agricultores e proprietários rurais que sofreram avultados prejuízos, com a destruição de pastagens e a perda de numerosas árvores de fruto, sobreiros, azinheiras, eucaliptos e outras, em consequência deste incêndio.
OPINIÃO: O FOGO DAS PALAVRAS
Ainda não se apagaram os ecos do violento incêndio que atingiu uma parcela considerável do concelho de Nisa. No rescaldo de tantas análises e conjecturas, do apontar de culpados e das pretensas"motivações" que estiveram na sua origem, urge perguntar: o que foi feito, no país e particularmente, no concelho, para impedir a repetição de uma tragédia como aquela que nos atingiu em 2003 e voltou, agora, a fazer evocar esse tenebroso cenário?
Onde estão as leis dos solos, o "novo" ordenamento do território, a reflorestação, tantas vezes prometida? Quem mete na ordem os agricultores que à revelia da lei, tomam como seus e vedam o acesso a caminhos públicos de pessoas e bens?
Quem actua contra um outro tipo de agricultores (ou apenas proprietários rurais) que chegam ao cúmulo de vedar com rede de arame, o acesso aos cursos de água (rios, ribeiras, ribeiros) e até, o que é escandaloso - porque implica a "vista grossa" das entidades que têm como obrigação zelar pela protecção da natureza - delimitarem "territórios" dentro dos próprios cursos de água.
Fogo contra a Feira de Artesanato? Retaliação contra a presidente da Câmara? E por que não "retaliação" contra o Estróia (mais de mil contos de prejuízo em lenhas para venda) e contra todos os agricultores que ficaram, num lapso de tempo, sem árvóres, pastagens, animais, utensílios, edifícios, o negrume da morte e da tristeza a sobrepor-se ao verde da vida e da esperança?
Muita tinta há-de correr, ainda, sobre o incêndio de 29 de Julho. Espera-se que os responsáveis pela Protecção Civil não se refugiem no rescaldo das palavras e dêem uma explicação cabal e clara sobre o que se passou, para dissiparem, de vez, todas as dúvidas.
Explicação às populações do concelho deve-a, também, o senhor ministro da Administração Interna. Um rigoroso inquérito ao que se passou é o mínimo que esperam os cidadãos do concelho ou que aqui têm bens, atingidos pelo fogo.
Mário Mendes