29.10.17
OUTUBRO: Mês Internacional do Idoso - In Memorian
REQUIEM POR MIM
Aproxima-se o fim.
E tenho pena de acabar assim,
Em vez de natureza consumada,
Ruína humana.
Inválido do corpo
E tolhido da alma.
Morto em todos os órgãos e
sentidos.
Longo foi o caminho e desmedidos
Os sonhos que nele tive.
Contra as leis do destino.
Mas ninguém vive
E o destino não quis
Que eu me cumprisse como porfiei
E caísse de pé, num desafio.
Rio feliz a ir de encontro ao mar
Desaguar,
E, em largo oceano, eternizar
O seu esplendor torrencial de
rio.
Miguel Torga, in 'Diário (1993)
27.10.17
Cruz Malpique evocado em tertúlia na Escola Augusto Cabrita no Barreiro
A figura e o percurso do professor, escritor e pedagogo nisense Dr. Manuel da Cruz Malpique vai ser evocada esta tarde no auditório da Escola Secundária Augusto Cabrita, no Barreiro, numa das Tertúlias que com o nome do seu patrono, Augusto Cabrita, aquele agrupamento de escolas organiza regularmente.A sessão tertuliana tem início às 17 horas com apresentação e moderação do engº Leal da Silva, estando a cargo do dr. Rui Abrunhosa a intervenção evocativa do nosso conterrâneo, durante muitos anos professor no liceu Alexandre Herculano no Porto, cidade onde faleceu e cujo município o homenageou com a atribuição do seu nome a uma rua da freguesia de Ramalde. O escritor nisense já havia sido homenageado pela Câmara Municipal de Nisa, ainda em vida, em 1987, com a atribuição do seu nome, Rua Dr. Cruz Malpique, à artéria de ligação entre o Largo da Fonte da Pipa e o Centro de Saúde. Por sua vez, em 2002, o "Jornal de Nisa" por ocasião do centenário do seu nascimento elaborou um Suplemento dedicado a tão ilustre cidadão nisense, tendo proposto, inclusive, a realização de um programa comemorativo, não só evocando o papel de Cruz Malpique enquanto prestigiado "Homem de Letras", mas, principalmente, dando a conhecer a sua obra às novas gerações e aos alunos das escolas de Nisa.
Quase esquecido na terra que o viu nascer, Cruz Malpique tem ainda, felizmente, quem dele se lembre e lhe faça o merecido tributo à sua memória e ao seu papel de educador.
26.10.17
HISTÓRIA: Há 28 anos um povo lutou contra os eucaliptos. E a terra nunca mais ardeu
Em 1989 houve uma guerra no vale do Lila, em Valpaços. Centenas
de pessoas juntaram-se para destruir 200 hectares de
eucaliptal, com medo que as árvores lhes roubassem a água e trouxessem o fogo.
A polícia carregou sobre a população, mas o povo não se demoveu.
A 31 de março de 1989 o povo de Valpaços invadiu uma quinta
no vale do Lila para arrancar os 200 hectares de eucalipto que a Soporcel tinha
plantado na região. [Arquivo JN]
«Foi o nosso 25 de Abril», diz Maria João Sousa, que tinha
15 anos quando a revolução chegou à sua terra. No dia 31 de março de 1989, a rebate do sino, 800
pessoas juntaram-se na Veiga do Lila, uma pequena aldeia de Valpaços, e
protagonizaram um dos maiores protestos ambientais que alguma vez aconteceram
em Portugal.
A ação fora concertada entre sete ou oito povoações de um
escondidíssimo vale transmontano, e depois juntaram-se ecologistas do Porto e
de Bragança à causa. Numa tarde de domingo, largaram todos para destruir os 200 hectares de
eucalipto que uma empresa de celulose andava a plantar na quinta do Ermeiro, a
maior propiedade agrícola da região.
À sua espera tinham a GNR, duas centenas de agentes.
Formavam uma primeira barreira com o objetivo de impedir o povo de arrancar os
pés das árvores, mas eram poucos para uma revolta tão grande.
A polícia respondeu com uma carga à população, mas
revelou-se incapaz de travar os avanços de 800 populares sobre a propriedade.
[Arquivo JN]
«Naquele dia ninguém sentia medo. Eles atiravam tiros para o
ar e parecia que tínhamos uma força qualquer a fazer-nos avançar», lembra Maria
João Sousa.
Maria João, que nesse dia usava uma camisola vermelha
impressa com a figura do Rato Mickey, nem deu pelo polícia que lhe agarrou no
braço. «Ide para casa ver os desenhos animados», atirou-lhe, mas a rapariga
restaurou a liberdade de movimentos com um safanão: «Estava tão convicta que
não sentia medo nenhum. Naquele dia ninguém sentia medo nenhum. Eles atiravam
tiros para o ar e parecia que tínhamos uma força qualquer a fazer-nos avançar.»
A tensão subiria de tom ao longo da tarde. «Houve ali uma
altura em que pensei que as coisas podiam correr para o torto», diz agora
António Morais, o cabecilha dos protestos. Havia agentes de Trás os Montes
inteiros, da Régua e de Chaves, de Vila Real e Mirandela.
Mas também lá estava a imprensa, e ainda hoje o homem
acredita que foi por isso que a violência não escalou mais. Algumas cargas,
pedrada de um lado, cacetadas do outro, mas nada que conseguisse calar um coro
de homens e mulheres, canalha e velharia: «Oliveiras sim, eucaliptos não».
«Não queríamos arder aqui todos»
A guerra tinha começado a ser preparada um par de meses
antes, quando António Morais, proprietário de vários hectares de olival no
Lila, percebeu que uma empresa subsidiária da Soporcel se preparava para
substituir 200 hectares
de oliveiras por eucaliptal para a indústria do papel. «Tinham recebido fundos
perdidos do Estado para reflorestar o vale sem sequer consultarem a população»,
revolta-se ainda, 28 anos depois.
«Nessa altura o ministério da agricultura defendia com unhas
e dentes a plantação de eucalipto.» Álvaro Barreto, titular da pasta, fora anos
antes presidente do conselho de administração da Soporcel e tornaria ao cargo
em 1990, pouco depois das gentes de Valpaços lhe fazerem frente.
António Morais foi o cabecilha dos protestos. Percorrendo as
aldeias depois da missa foi convencendo o povo que o lucro fácil trairia
prejuízos a médio prazo.
«A tese dominante dos governos de Cavaco Silva era que urgia
substituir o minifúndio e a agricultura de subsistência por monoculturas mais
rentáveis, era preciso rentabilizar a floresta em grande escala», diz António
Morais. O eucalipto adivinhava-se uma solução fácil.
Crescia rápido e tinha boas margens de lucro. Portugal,
aliás, ganharia em poucos anos um papel de destaque na indústria de celulose e
os pequenos proprietários poderiam resolver muitos problemas de insolvência
abastecendo as grandes empresas com uma floresta renovada. A teoria acabaria
por vingar em todo o país, sobretudo no interior centro e norte. Mas não em
Valpaços.
«Numa região onde a água é tudo menos abundante, teríamos
[por causa do eucalipto] problemas de viabilidade das outras culturas», diz
António Morais.
«Comecei a ler coisas e percebi que o eucalipto nos traria
grandes problemas», continua António Morais. «Por um lado, numa região onde a
água é tudo menos abundante, teríamos grandes problemas de viabilidade das
outras culturas. Nomeadamente o olival, que sempre foi a riqueza deste povo. E
depois havia os incêndios, que eram o diabo. São árvores altamente combustíveis
e que atingem uma altura muito grande.»
Na terra quente transmontana o ano são oito meses de inverno
e quatro de inferno. O fogo, tinha ele a certeza, chegaria com aquele arvoredo.
Uns meses antes da guerra, começou a conversar sobre o seu
medo com algumas das mais relevantes personalidades do vale. Grandes
proprietários, políticos da terra, as famílias mais reconhecidas. «Lentamente
começou a formar-se um consenso de que o lucro fácil do eucalipto seria a médio
prazo a nossa desgraça. Não queríamos deixar secar a nossa terra. E não
queríamos arder aqui todos. Tínhamos de destruir aquele eucaliptal, custasse o
que custasse.»
Anatomia da conspiração
O núcleo duro estava formado, era constituído por dezena e
meia de agricultores capazes de mobilizar o resto do povo. «Aos domingos, íamos
às aldeias e no fim da missa explicávamos às pessoas o que podia acontecer à
nossa terra», lembra Natália Esteves, descendente de uma família de grandes
produtores de azeite feita de repente líder de protesto ecológico. «E também
íamos de casa em casa, esclarecer quem não tinha estado nas assembleias.»
Ao início houve renitência, a madeira valeria sempre mais do
que a azeitona, e a castanha ainda não rendia o que rende hoje. «Mas tentámos
sempre centrar a conversa no que aconteceria daí a uns anos, dizer que os
eucaliptos secariam os solos e o povo ficaria refém de uma única cultura, que
se alguma coisa corresse mal não teriam mais nada.»
João Sousa esteve na organização dos protestos à socapa, era
presidente da freguesia da Veiga do Lila. «Dizem que somos um povo sem educação
mas afinal nós é que estávamos certos.»
O que mais assustava aquela gente, no entanto, era o fogo.
«Onde há eucalipto, tudo arde. E então o povo já não chamava a árvore pelo
nome, mas por fósforos.» A primeira batalha estava ganha: tinham o apoio da
população.
João Sousa era nessa altura presidente da junta da Veiga do
Lila. «Oficialmente não podia dizer que era contra os eucaliptos, nem ir contra
a polícia. Mas, quando falava com as pessoas, dizia-lhes o que haviam de
fazer», conta agora com uma gargalhada e sem ponta de medo.
«Vê, nem um eucalipto plantado. E o nosso vale há mais de 30
anos que não arde», diz João de Sousa.
«Então se tínhamos o melhor azeite do país íamos dar cabo
dele para enriquecer uns ricalhaços de fora?» Tem 86 anos e uma destreza de 30,
hoje estuga o passo para mostrar a zona que podia ter sido caixa de fósforos.
«Vê, nem um eucalipto plantado. E o nosso vale há mais de 30 anos que não arde.
Se o povo não se tem unido hoje estávamos a viver a mesma desgraça que vimos
por esse país fora.»
Essa é aliás a conversa mais recorrente por estes dias no
vale do Lila. A tragédia florestal portuguesa dá a este povo a impressão que
eles sim, tinham razão há muitos anos, quando o governo e as autoridades lhes
diziam o contrário.
«Podem achar que somos gente do campo, sem educação nem
conhecimento, mas nós cá soubemos defender a nossa terra», diz o velhote.
«Temos chorado muito por esta gente que perdeu vidas e animais e casas. E há
uma coisa que o meu povo sabe: se temos deixado ficar os eucaliptos, também
hoje choraríamos pelos nossos.»
A guerra
Há uns dias que os combates tinham começado. Ataques
furtivos do povo, desorganizadamente, para arrancar pés de eucalipto nos
limites do Ermeiro. Duas semanas antes da guerra, no Domingo de Ramos, as
coisas aqueceram.
«Juntámos duas centenas de pessoas aqui destas aldeias e os
donos da empresa chamaram a GNR», lembra António Morais. «Quando eles chegaram
já tínhamos dado cabo de uns bons 50 hectares de eucaliptal.» Nesse dia não houve
confrontos, porque o povo fugiu. Mas anunciaram a alto e bom som que voltariam
depois da Páscoa.
Esse ataque tinha feito notícia no Jornal de Notícias e
trazido uma mão-cheia de jornalistas à terra, nomeadamente Miguel Sousa
Tavares, da RTP. «Percebi que as coisas estavam a tornar-se muito grandes e foi
então que contactei a Quercus. Precisávamos de ajuda.»
A 31 de março de 1989 o povo de Valpaços invadiu uma quinta
no vale do Lila para arrancar os 200 hectares de eucalipto que a Soporcel tinha
plantado na região. [Arquivo JN]
Do outro lado da linha atendeu Serafim Riem, que dirigia o
núcleo do Porto da organização ambientalista. O ecologista partiu imediatamente
para o terreno. Nesses dias ouviriam do parlamento em Lisboa várias palavras de
solidariedade. Sobretudo do PCP, d’Os Verdes e de um jovem deputado socialista
chamado José Sócrates.
Agora não valia a pena esconder mais nada. A 31 de março de
1989, domingo depois da Páscoa, o povo juntar-se-ia todo na Veiga do Lila para
dar cabo do eucaliptal que restasse. A aldeia enchera-se de jornalistas, havia
até um helicóptero a cobrir os acontecimentos do ar.
A direção nacional da Quercus demarcar-se-ia da organização
dos protestos através de um comunicado, mas os núcleos do Porto e Bragança
encheriam cada um o seu autocarro de ambientalistas carregados de cartazes. Às
duas da tarde o sino começou a tocar a rebate. Oito centenas de vozes entoavam
«oliveiras sim, eucaliptos não» e largaram por um caminho de terra batida para
a quinta do Ermeiro.
Numa hora, foram arrancados 180 hectares de
pequenas árvores. «Alguns gozavam com os agentes na cara e levaram umas
bastonadas», recorda Natália Esteves.
Não era preciso usar enchadas nem sacholas, os eucaliptos
tinham sido plantados há pouco tempo e arrancavam-se com as mãos. A polícia
tentava fazer uma linha de defesa, mas duas centenas de agentes não chegavam
para aquela gente toda.
Numa hora, foram arrancados 180 hectares de
pequenas árvores. «Alguns gozavam com os agentes na cara e levaram umas
bastonadas das boas», recorda Natália Esteves. Os que eram de perto diziam-lhes
assim: «Tendes razão, por isso vamos fingir que não vemos.» Viravam as costas e
o povo ia subindo o terreno.
Num instante, o casario da quinta tornava-se no último
reduto da investida. Uma dezena de guardas saíram a cavalo, era demonstração de
força mas não surtiu resultado. A Soporcel tinha construído socalcos para
plantar os eucaliptos e, agora, os animais não conseguiam descê-los.
«O povo ia atirando pedras aos guardas, houve um que acertou
no cavalo e mandou-o abaixo», diz João Morais. Foi nesse momento que entrou em
campo o corpo de intervenção, disposto a levar toda a gente pela frente. «Aí as
coisas podiam ter descambado definitivamente.»
Todos por um
A guarda especializada avançava agora colina abaixo com
escudos e capacetes. José Oliveira, um agricultor da pequena aldeia de Émeres,
tentou escapar pela lateral, mas foi logo caçado pela guarda. No bolso trazia
um revólver e foi isso que o tramou. «Levaram-no logo detido para dentro do
jipe por posse de arma ilegal», conta agora a sua viúva, Ester.
Aquela detenção marcaria o início do fim da guerra. «As
pessoas tinham recuado por causa do corpo de intervenção, mas quando se
aperceberam que um dos nossos estava preso começaram a gritar que não
arredariam pé enquanto ele não fosse solto», diz João Morais. Ester anui, «foi
o vale inteiro que salvou o meu homem.» Agora já não havia pedras, havia
gritos. Que libertassem o tio Zé e rápido.
Ester Oliveira viu o marido, José Oliveira, ser detido
durante os confrontos por posse de arma ilegal. «Foi o povo que o salvou por
dizer que não arredava pé enquanto ele não fosse libertado.»
Serafim Reim, o homem da Quercus, é que foi lá negociar a
libertação com os guardas. Sobravam menos de 20 hectares de
eucalipto, o povo deixá-los-ia em paz se soltassem o velhote. Uma hora depois,
houve consenso. Identificaram José Oliveira, caçaram-lhe a arma e mais tarde
levaram-no a tribunal, mas naquele dia saiu pelo seu pé para os braços da
mulher, e daí para casa.
António Morais, Natália Esteves, João Sousa e mais uma
dezena de organizadores do protesto também seriam chamados à barra da justiça,
um ano depois enfrentaram acusação de invasão de propriedade privada e foram
condenados com pena suspensa.
«Ainda vieram uns engenheiros da Soporcel dizer que
retirariam a queixa se nos comprometêssemos a não destruir uma nova plantação
de eucalipto. Disse-lhes que nem pensar, aqui nunca teríamos árvores dessas no
nosso vale.»
Nas noites seguintes arrancou-se à socapa quase tudo o que
faltava, ficaram apenas meia dúzia de hectares a rodear o casario da quinta,
mais passível de vigia. A Soporcel acabaria por desistir e vender a propriedade
e a família que a comprou, quando ousou confessar a Natália Esteves que
pensavam plantar eucaliptos, foram logo avisados: «Se os botais nós os
arrancamos.»
«A única maneira de travar os incêndios em Portugal é
reduzir o eucaliptal e substituí-lo pela floresta autóctone», diz o
ambientalista Serafim Riem.
Hoje, o Ermeiro é terra de nogueiras e amendoeiras,
oliveiras e pinho. Nunca ardeu. Serafim Riem, o ambientalista da Quercus, diz
que até hoje a guerra do povo de Valpaços é um marco, a maior ligação jamais
vista no país entre o mundo rural e o ativismo ecológico.
«A única maneira de travar os incêndios em Portugal é reduzir
drasticamente o eucaliptal e substituí-lo pela floresta autóctone, que não só
tem melhor imunidade ao fogo como gera uma riqueza mais diversificada para as
populações.»
Naquele 31 de março de 1989, o povo uniu-se e, diz agora,
salvou-se. «Nós é que tínhamos razão», repetem uma e outra vez, repetem todos.
Às seis da tarde, depois de José Oliveira ser libertado, um vale inteiro voltou
pelo mesmo caminho e juntou-se no principal largo de Veiga do Lila. Mataram-se
dois borregos e um leitão, abriram-se presuntos e deitaram-se alheiras à brasa,
houve até quem trouxesse uma pipa de vinho. A festa durou noite dentro e foi
maior do que qualquer romaria de Santa Bárbara.
À volta da fogueira acabariam por juntar-se também os
guardas que horas antes defendiam o Ermeiro. E ali ficaram a comer e beber,
vencedores e vencidos, que em Trás-os-Montes nunca se nega hospitalidade. Maria
João Sousa nunca tinha visto uma coisa daquelas, nem nunca voltaria a vê-la na
sua terra. Foi o 25 de Abril da sua gente. «Há lá coisa mais bonita do que uma
revolução.»
Texto de Ricardo J. Rodrigues | Fotografia de Rui Oliveira /
Global Imagens
25.10.17
CRÓNICAS DA TABANCA: Isaltina tem um sonho
Isaltina Trovoada tem vários sonhos. Falemos daquele que
manifestou em público no último domingo, em plena tomada de posse dos órgãos
municipais.
Disse a senhora, mais ou menos nestes termos que “Néza não é
a Coreia do Norte”. Eu acrescento-lhe “ainda”. Isaltina poderia falar do
Bangladesh, da Birmânia, da Roménia de Ceaucescu que o seu ideólogo Soares
tanto gabava e de tantos outros países no mundo onde a liberdade é mitigada. A
Coreia do Norte tem, para ela, um fascínio especial e por isso a ele recorre
com frequência. Lá, na dita Coreia, que vergou a arrogância e a ambição dos
“senhores da guerra” yanques, Isaltina seria tratada como Tro-Ka-Mona e
dispensaria uma cerimónia como a que ocorreu no Cine Teatro. Tão pouco teria
que se sujeitar a essa coisa ultrapassada que dá pelo nome de eleições.
Perpetuar-se-ia no poder até lhe apetecer e chegada a hora,
passá-lo-ia ao delfim escolhido.
Na Coreia nézense com que Isaltina, aliás, Tro-Ka-Mona,
sonha, não seriam necessários concursos fantasmas para fatos feitos por
encomenda e destinados a compor a galeria dos yes men. Dispensaria as longas
horas das sessões da Câmara e da Assembleia Municipal, a que, aliás, não passa
cavaco nenhum. Falaria – como fala – quando quisesse, pois isso é uma
prerrogativa dos ditadores. De outra forma e se não pensasse que estava na
Coreia do Norte, o recém-eleito presidente da AM, outro “coreano” como ela,
teria dirigido a sessão como mandam as leis do país – que ainda não chegou à
Coreia com que a Isaltina sonha - do poder local e das próprias normas da
tomada de posse dos órgãos autárquicos. Teria dirigido a sessão pública da
Assembleia Municipal com competência, equilíbrio e equidistância, dando a
palavra a cada um dos representantes das forças políticas eleitas para a Câmara
e a Assembleia Municipal, sobretudo, não deixaria que a dirigente máxima
debitasse todos os insultos e atropelos que proferiu sem que fosse permitido
que a parte ofendida pudesse responder e contrapor os argumentos caluniosos
feitos numa sessão pública em que, geralmente, se apela à paz e união de
esforços de todos os eleitos.
Não deixaria, por isso e sobre nenhum pretexto, que fosse a Isaltina
a exigir e a impor o direito de falar – não sei se para mostrar o vestido novo,
como alguém alvitrou -, direito esse que era (é) extensivo a todas as forças
políticas e não apenas aquela que venceu as eleições. Estas são as bases do
modelo de vivência democrática que o 25 de Abril instaurou, diferentes, muito
diferentes daquelas com que a Isaltina, aliás, Tro-Ka-Mona sonha para a sua
Coreia do Norte nisense.
As redes sociais que tanto a incomodam e que não existem na
Coreia com que Isaltina sonha, vão continuar a desempenhar o seu papel. Não
estão confinadas, apenas, à propaganda governamental ou municipal como tanto
gostaria. Estão muito para além da página facebookiana que elaborou com o título
de “Nisa Punitiva” onde com o nome de Maria Graça, tece loas a si própria e ao
nascer do sol que não existiria sem a veia inspiradora da Mãe de Todas as Criações.
Isaltina, aliás, Tro-Ka-Mona pode ter todos os sonhos do mundo.
Pelo sonho é que vamos, como escreveu Sebastião da Gama. Sonhar é, sem dúvida,
um dos maiores atributos do ser humano. Os sonhos podem (e devem) ser a semente
de um mundo melhor, em paz, sem guerras, sem Coreias e todas as Coreias, tenham
o nome que tiverem, em todo o mundo, que representem grilhões, opressão e
tirania.
Este, um princípio que Isaltina, aliás, Tro-Ka-Mona, podia
começar a cultivar desde já.
Ainda está a tempo de aprender as regras básicas da
convivência democrática e do respeito por quem tem ideias diferentes das suas.
Deixe a Coreia do Norte em paz. Respeite os
cidadãos do concelho, tanto aqueles que a elegeram – porque não estamos, como
gostaria na Coreia – como aqueles que tiveram outras preferências.
As eleições são isso mesmo: o direito a escolher e a
decidir.
Só assim não entende quem, por um lado, abjura a Coreia, mas
se sente como peixe na água na pele de um qualquer Kim-Il-Sung.
Mário Mendes
24.10.17
MEMÓRIA: Nisa Viva promove Passeio em Alpalhão (2006)
“À Descoberta do Património. Pelas vias da Lusitânia -
Rumo ao Sul”
Manhã
aprazível, luminosa.
O relógio de
sol marcava 7 horas e meia mais um pedacinho de sombra. Havia três horas, mais
um pouco, que o astro rei despontara lá longe nas cercanias de Marvão e Castelo
de Vide.
24 de Junho.
Dia de S. João, santo popular que terá pedido ao seu colega Pedro para que a
manhã não fosse quente para os caminheiros.
Dezanove caminheiros
meteram-se ao caminho da Marja Fanzira. Tomaram-na ali aos Sarangonheiros, à
esquerda da estrada de quem vai de Alpalhão para Nisa, ao quilómetro 5, mais
metro, menos metro. Rumaram para Sul.
Roupas leves,
boa disposição. Alguns levavam bordão. Arêz 2006 se lia num, e Jacobeo
2004 noutro. Arez, antiga vila, é povoação do actual concelho de Nisa. Jacobeo
é uma alusão às peregrinações a Santiago de Compostela quando a festividade
do apóstolo Tiago, que é a 25 de Julho, coincide com Domingo. Se quiser pode
confirmar: 25 de Julho de 2004 foi Domingo e o próximo Jacobeo será em 2010.
Se voltassem
atrás 800, 700 anos, talvez se cruzassem com peregrinos que seguiriam para
Norte, para Compostela, lá longe em terras do antigo reino de Leão, para o
sepulcro de Santiago, santo que tem no céu a sua estrada – Estrada de Santiago
(Via Láctea) - para que os devotos, cá na terra, se não percam, nos seus
Caminhos de Santiago, e, entre outros, aqui à Margem Fanzira, Vereda da
Sardinheira ou Caminho Sardinheiro,
Aqueles
seguiriam para cumprir promessas ao evangelizador da Hispânia, agradecer graças
divinas, dar, lá na catedral, a marradinha. Teriam largos e
longos dias pela frente. Estes, numa manhã, sem pressas nem correrias, iam para
combater o stress, contemplar a natureza, conhecer património,
paisagens, fauna, flora, para o convívio. Respondiam ao convite de Nisa Viva
– Associação dos naturais e amigos do Município de Nisa, que em cartaz
anunciara “À Descoberta do Património. Pelas vias da Lusitânia - Rumo ao
Sul”.
E à margem
esquerda da Margem, que corria entre paredes de pedra tosca, aos Rombeiros, viram
sepultura escavada na rocha a lembrar que há um milhar de anos, mais coisa,
menos coisa, ali sepultaram alguém que não deixara registo escrito e a lembrar
que, naqueles tempos, aquelas paragens eram habitadas, como já o tinham sido há
quatro, cinco mil anos pelos homens que ergueram, ali perto aos Sarangonheiros
e lá mais adiante ao S. Gens, algumas antas. Uma fonte, no caminho, terá
enchido dezenas, centenas de cabaças de pastores e peregrinos, mas que os
caminheiros só a admiraram já que, prevenidos, levavam água engarrafada em
plásticos, sabe Deus e o rótulo onde.
Campos
desarborizados, de pastagem. Terão sido estes os campos de pastos comuns para
gados dos antigos concelhos de Nisa e Alpalhão? Terão sido estes campos que em
meados do séc. XVIII, quando o arame farpado, agora ali estendido, não definia
nem limitava espaços, originaram desavenças entre as gentes de Alpalhão e de
Nisa, desavenças que subiram a Lisboa e se resolveram a contento dos primeiros?
Entre giestas e
codessos, apontaram a direcção para pontões, obras da engenharia local, quando
a pedra era cortada à mão, pontões na Ribeira do Figueiró e no afluente Mourela.
Uns largos, outros estreitos, todos sem parapeitos, mas todos em matéria-prima
da região, do mesmo granito que hoje leva longe o nome de Alpalhão e dá pão a
muita gente. E num, construído nos campos João Viegas, o grupo posou para a
fotografia.
Ali jazem
esquecidos, sem préstimo, se, assim, o entenderem.
Ali esquecidos,
cumprida a missão para a qual nasceram há centenas de anos, fazer a pé enxuto a
ligação entre margens, aguardam, hoje, os roteiros, a publicidade turística, as
informações, para serem admirados contemplados, já que mais não podem dar.
Assim o queiram os homens de hoje.
Alguns
caminhantes, subindo com alegria, passaram por baixo de pontões que para ali
estão, passaram por vãos, falsos arcos, arcos rectos ou lá como lhe queiram
chamar. Mas, descendo de enxurrada, não passarão na próxima invernia as águas
se alguns vãos não forem desimpedidos dos inúmeros ramos que fazem barragem.
Assim começa a ruína do nosso património. Conscientes ficaram os que ali
estavam à torreira do Sol. O que dirão e farão os do ar condicionado? Fica o
alerta.
A Ribeira, da
qual se diz “os peixes do Figueiró quem os apanha come-os só”, já não
corria, nas planuras do Carvalhal.
Mas corriam
loucas as vacas-louras. Mas que diacho! Quem deu nome a estes bichos, minúsculos
insectos comparados com as vacas que ali pastavam? E por que loura se o comprido
corpo de preto pintado tem listras encarnadas de atravessado?
Passagem de
peregrinos nos tempos antigos onde alguns foram violentados por vaqueiros da
região. Coisa forte que originou queixa ao rei.
Terras de
lavoura!
Caminhos
importantes que os franceses estudaram, mas que não vieram a utilizar aquando
das invasões que fizeram em 1807/11.
Marcos marcam,
em alinhamento no terreno, divisões administrativas de concelhos - Nisa,
Castelo de Vide – e de freguesias - Alpalhão, Espírito Santo, S. João.
Couto da
Figueirinha de eucaliptos está hoje arborizado.
Caminhos
murados de pedra. Sobreiros mortos, em pé. Gado bravo pastava.
Ribeiro do
Castelo, Fonte Velha. Terras de muita água, terras ricas que deram muita
batata, azeite e pão.
E o passeio
pedestre terminou, sem martírio, ao Mártir Santo, à ermida de S. Sebastião,
séc. XVI/XVII, cuja porta aberta dá vistas ao martirizado, quase desnudo, para
Alpalhão, e onde os ex-votos, em cera, lembram que o moço proprietário ajuda
aqueles que a ele recorrem em horas de aflição.
Era, pelo Sol,
uma hora para o meio-dia. Em outros tempos já se tinha almoçado e já se pensava
no jantar e na sesta, que a dona Rosa na primeira quinta-feira de Maio trouxera
a Alpalhão.
O retempero das
forças foi, depois de visita ao Museu da Misericórdia de Alpalhão, nas antigas
instalações desta irmandade.
As gentes de Alpalhão
sabem receber - receber bem as pessoas - e dar - dar da sua alegria, da sua companhia
e do seu farnel. Não há como agradecer!
José
Dinis Murta in "Jornal de Nisa" nº211 - Julho 2006
23.10.17
MEMÓRIA: Quatro dias de encanto na Madeira (Junho de 2006)
AVÓS E NETOS TIVERAM BAPTISMO DE VOO
Mais de trinta pessoas
do concelho de Nisa tiveram o seu “baptismo de voo” e passaram quatro dias de
encanto na Ilha da Madeira, de acordo com a nota do Gabinete de Acção Social da
Câmara de Nisa que transcrevemos.
“O Gabinete de Acção Social, da Divisão de Desenvolvimento
Social e Cultural da Câmara Municipal de Nisa, promoveu o Baptismo de Voo (Avós
e Netos) à Ilha da Madeira nos dias 15, 16, 17 e 18 de Junho 2006.
A acção tinha como objectivos: sensibilizar as crianças e os
avós a realizar acções em conjunto, estabelecer um bom relacionamento entre
avós e netos e proporcionar 4 dias de lazer e cultura.
Participaram 31 pessoas do Concelho de Nisa, com várias
faixas etárias: desde os 17 anos até aos 80 anos.
A Câmara Municipal de Nisa disponibilizou o autocarro para
levar e buscar o grupo ao aeroporto de Lisboa.
Foram 4 dias de muita animação e de muitos passeios guiados
(guia da Agência de Viagens Abreu) pela Ilha da Madeira.
Às 06:00 estava o grupo concentrado junto ao cine-teatro
para iniciarmos a nossa viagem.
Às 09:00 o autocarro da Câmara estava junto ao aeroporto de
Lisboa. O grupo estava ansioso pela partida, uma vez que para baptismo de voo e
estavam na expectativa de como seria o ambiente dentro do avião.
Às 12:30 partimos com rumo à Ilha da Madeira.
Chegamos ao aeroporto às 14:00 e estava o guia à espera do
grupo no aeroporto do Funchal.
Seguimos para o Hotel Buganvília (grupo Dorisol) no qual o
grupo ficou as 3 noites e 4 dias.
O dia 16 de Junho começou com a excursão
de dia inteiro pela zona oeste da ilha: Câmara de Lobos, Cabo Girão, Ribeira
Brava, Ponta do Sol, Paul da Serra e Porto Moniz (piscinas naturais de rara
beleza). Ao longo da costa norte, continuação até São Vicente e almoço.
Continuação para sul por Chão dos Louros (floresta única de árvores raras) e
Encumeada e regresso ao Funchal.
O jantar foi num
restaurante típico madeirense com exibição de um grupo folclórico de danças e
cantares da Madeira.
Breve paragem no
miradouro do Pico de Barcelos para admirar o Funchal à noite.
O dia 17 de Junho começou com a excursão de
dia inteiro pela zona leste da ilha: Camacha (visita à fábrica de artesanato
local), Poiso, Pico do Areeiro (a segunda montanha mais alta da ilha – 1810m),
Ribeiro Frio (viveiros de trutas) e Santana e almoço. Continuação pelo Faial e
Porto da Cruz, Miradouro da Portela, Machico e ao longo da costa sul até ao
Funchal.
Jantar no hotel e
saída até à marina do Funchal para o Festival do Atlântico (o país que
organizou o festival sábado foi a Alemanha).
No último dia, os
passeios foram facultativos, uns optaram por andar na Nau Santa Maria de
Colombo, outros no Teleférico, outros visitar o Jardim Botânico e a Sé e outros
optaram por realizar as últimas compras para trazer lembranças da Ilha da
Madeira.
Foram 4 dias de
encanto!”
in "Jornal de Nisa" nº 211 - Junho 2006
Convívio anual Pé da Serra /Monte Claro (Julho 2006)
Há já sete anos, consecutivos,
que se vem realizando, um jogo de futebol amigável, entre as povoações do Pé da
Serra e do Monte Claro, com a finalidade principal de relembrar as décadas 50 e
60 do século passado, visto que, o futebol foi o principal responsável por
vários casamentos entre as duas populações.
O convívio deste ano realizou-se
em 29 de Julho e como anfitriões, a organização era da responsabilidade do
Monte Claro.
Houve algumas incertezas quanto à
realização do evento, em virtude de um dos seus maiores impulsionadores, o
senhor Francisco Manuel ter falecido num acidente rodoviário no passado mês de
Maio.
Em boa hora se decidiram pelo
sim, sustentando que a melhor maneira de o lembrar e homenagear era dar
continuidade àquilo que ele ajudou a nascer e a desenvolver.
No cemitério local, às dez horas,
foi-lhe prestada uma sentida homenagem, por muitos amigos das duas aldeias, tendo
o signatário sido convidado a colocar uma coroa de flores na campa respectiva e
a usar da palavra.
Depois de enaltecer as qualidades
de um homem bom, que tudo fez para engrandecer a sua terra, salientando ainda a
grande perda para todos nós e desejando à sua filha – que, como é natural,
estava muito emocionada – muita coragem para vencer tão grande adversidade, foi
guardado um minuto de silêncio em sua memória.
Seguiu-se a tradicional
“futebolada”, no campo do Nisa e Benfica, visto que o relvado do campo da
Freguesia de S. Matias não se apresentava nas melhores condições, de modo a
permitir que elementos de alta craveira técnica, pudessem mostrar ao numeroso
público todo o seu potencial. Houve vários foras de jogo, bem assinalados ao
ponta de lança, João Martinho, visto que estávamos num campo de futebol e não
num parque de campismo.
O resultado final foi, como de
costume, uma vitória para quem praticou desporto.
Na quinta do senhor João
Martinho, após oferta de um galhardete pelo presidente da Junta de Freguesia de
S. Simão, aí sim as equipas encaixaram-se na perfeição, num harmonioso 4.4.2,
isto é, quatro tintos, quatro sardinhas, duas garfadas num saboroso borrego
guisado.
Enquanto uns jogavam uma
“suecada”, outros cantaram o fado e ao desafio. A camisola foi atribuída a um
elemento da equipa anfitriã.
in "Jornal de Nisa" - nº 213 - 2006
22.10.17
OUTUBRO: Mês Internacional do Idoso
Não somos mais aqueles cujo amor
imaginou a juventude eterna.
Hoje, idosos, os corpos sem
calor...
O fogo da paixão agora hiberna.
Somente o amor, essa visão
interna
consegue ainda ver todo o
esplendor
da convivência cada vez mais
terna
em saudades diárias a compor
e recompor, história por
história,
as imagens dos dias consumidos
a fim de preservar mútua memória.
Mesmo que restem fatos
esquecidos,
no turbilhão da vida transitória,
jamais se perderão, porque
vividos.
Valter da Rosa Borges
NISA: As Modas do Rancho da Casa do Povo (III)
VIRA DE OITO
I
Bairro da Graça é a rua
Onde o meu amor passeia
P´ra baixo à luz do petróleo
P´ra cima à luz da candeia
II
Se me casar eu prometo
Ir à Senhora da Graça
Vou levar-lhe o meu grilhão
Que é uma boa afogaça
III
Chamastes à minha terra
Terra dos cães de má raça
É verdade, sim, senhora
Mas é dos que por cá passam.
21.10.17
OPINIÃO: Mais do mesmo ou pior do mesmo?
Já tinha este balanço eleitoral pronto há quatro ou cinco meses atrás. E posso dizer tal qual o João Pinto (o do Porto) que "prognósticos só no fim do jogo" e por isso, só agora, em véspera das equipas entrarem em campo é que resolvi publicar o artigo.
1. Quem ganhou e quem perdeu as eleições?
Ganhou quem se esperava que ganhasse, isto é, quem mais e afanosamente trabalhou para isso, utilizando os meios próprios e, sobretudo, impróprios, isto é, toda a parafernália informática e de propaganda municipal posta ao serviço de uma pessoa e de uma ideia partidária. Nunca como neste mandato se gastou tanto em publicidade, em propaganda gratuita visando dourar a pílula, ou seja, recauchutar a imagem de uma pessoa.
Ganhou quem definiu, diz o LV (será Lourenço Vidente?) no seu texto "Falta um ano para as eleições e eu já sei quem vai ganhar" como fundamentais "as obras de dimensão suficiente" (leia-se obras que qualquer Junta de Freguesia a quem não fossem surripiadas verbas, poderia fazer) e de "encher o olho" pois, é ainda o LV, as outras, aquelas de que o concelho realmente necessitava "só viriam a empatar a dinâmica mais fácil que foi definida". E o que foi definido nas reuniões socialistas, foi fazer aquilo que em política se chama populismo: festas e bolos para enganar tolos, flores, pinturas, arranjos e conclusão de pequenos projectos vindos do executivo anterior, obras estratégicas (Alpalhão e Tolosa, sobretudo) onde a contagem de votos podia decidir, e propaganda a rodos. Obras, é bom dizê-lo, feitas a contra-relógio, pensadas e executadas pela cabeça-mor e sem o indispensável envolvimento dos restantes eleitos e das populações. Gestão autocrática da coisa pública e dos dinheiros públicos, feitas sem base programática e alicerçadas num orçamento de mercearia, com o deve-haver gerido pela administradora do concelho.
Quem assim procede sem ter a maioria dos eleitos no executivo, de que lhe serve uma maioria absoluta? Contar com mais um ajudante de campo ou passar à fase seguinte de prepotência absoluta?
Dizem os entendidos da bola que "em equipa que ganha não se mexe" o equivalente a dizer que "estratégia ganhadora é para manter". Afastadas as principais cabeças pensadoras socialistas da Assembleia Municipal, o que aí vem não augura nada de bom. O populismo autárquico socialista vai engrossar, na voz e nas atitudes. Em 2019 haverá eleições legislativas, Costa começou a perder, com a insensatez revelada na "crise incendiária", a auréola de governante sagaz de que dava mostras. Perdeu a confiança do Presidente da República, a ministra insonsa foi de férias forçadas, as tensões sociais e institucionais vão, de certo, aumentar. É certo que virá mais dinheiro para as autarquias e a de Nisa (socialista) já arreganha os dentes. Seria motivo de contentamento para os nisenses se um aumento de verbas pudesse corresponder à satisfação de obras essenciais ao desenvolvimento do concelho, à criação de emprego e fixação de pessoas. Mas a "lição" deste mandato mostra que a edil não olhará a meios para atingir os fins e estes passam, inevitavelmente, pela realização de mais obras de "dimensão suficiente", de encher o olho, mais flores para a propaganda eleitoral que já começou.
O PS ganhou as eleições de 2017. Com maioria absoluta, recuperando duas freguesias. Não ganhou - um objectivo central, a seguir à Câmara -, a maior das freguesias do concelho. Não adianto razões. Os dirigentes socialistas locais sabem porquê, tão bem como eu sei as razões que levaram à conquista do poder em 2013. Bem ou mal, o povo é soberano e fez as suas escolhas.
A CDU, contrariamente ao que o Luís Vidente preconizou há 5 ou 6 meses, não perdeu votos para a Câmara. "Segurou-se" bem, num contexto difícil, embora perdendo três juntas de freguesia, uma delas, de forma inesperada. Mas as eleições são como o futebol, nem sempre ganha a melhor equipa.
O PSD sofreu uma autêntica erosão. Ganhou a Junta de S. Matias, vitória de certo modo esperada, mas claudicou em todo o concelho e nas eleições para todos os órgãos autárquicos. Não me cabe apontar razões ou justificações, que seriam sempre subjectivas e insuficientes. Os seus dirigentes locais devem analisar o que se passou neste "terramoto" eleitoral.
Por último: a mais pequena freguesia do concelho, a de menor número de eleitores e, porventura, a mais envelhecida, foi aquela que apresentou maior número de listas concorrentes, entre estas uma de Cidadãos Independentes. Não conheço, em pormenor, as motivações, mas algo não vai bem no "Reino da Dinamarca" e os partidos não respondem a todos os anseios das populações.
2. O futuro que nos espera
O futuro é aquilo que nós, cidadãos, queiramos que seja. Não depende, apenas, da vontade de uma pessoa ou de uma instituição por mais legitimada que esteja. Cabe a todos nós, munícipes, com o nosso esforço, com a nossa participação, construir o amanhã que desejamos. Sejam amanhãs que cantem ou que assobiem, mas que não seja amanhãs repletos de subserviência, de resignação ou cinzentismo. O Poder Local Democrático tal como foi instituído não é o poder de uma pessoa, é o poder e o direito constitucional de todos participarmos na construção das nossas vilas e aldeias, do nosso país e do nosso próprio futuro. Uma equipa só joga o que a outra deixa jogar e quanto mais recuarmos, quanto mais abdicarmos dos nossos direitos, entre estes o de intervir e o de criticar a acção governativa (seja a que nível for) mais depressa os nossos anseios, as nossas aspirações são espezinhados. Os governantes locais, ao contrário do que alguns possam pensar, não governam para eles, para a satisfação dos seus egos ou para a realização dos sonhos mirabolantes de uma noite mal dormida. Governam, administram, verbas e territórios que são de todos e têm o dever, em primeira instância, de trabalhar para "melhorar as condições de vida das populações". De todas. Não apenas daquelas onde farejam votos e apaniguados.
A uma governação autocrática e autista, virada para o próprio umbigo. como aquela que nos espera, devemos contrapor a força da razão e dos argumentos de um desenvolvimento harmonioso para o concelho. O país não tem assim tantos recursos para esbanjar em obras de faz de conta, para encher o olho e garantir o score eleitoral. O concelho tem problemas gritantes a precisarem de resolução. Desde logo, os decorrentes com a vaga de incêndios deste Verão. Problemas como os da qualidade e quantidade do abastecimento público de água. Ouvir-se dizer que a povoação xis ou ípsilon foi abastecida com um camião-cisterna dos bombeiros não é honroso para quem governa, muito menos para quem tem de beber água de qualidade duvidosa. Há problemas ambientais para resolver de forma adequada e definitiva. Etars com mau funcionamento (ou sem funcionamento nenhum), esgotos sem tratamento, poluição de rios e ribeiras. As escombreiras a céu aberto na Maria Dias (urânio) têm de ser requalificadas. Custa dinheiro, projectos e se calhar é obra para "empatar a dinâmica definida". A estrada entre Arneiro e Velada, com a ponte construída há muitos anos e que era o maior investimento, tem de avançar. Não faz sentido, é vergonhoso até, que a sede do concelho não tenha uma ligação directa ao IP2 para quem vem (vai) para a A23. Qualquer aldeia da Beira Baixa na estrada para Castelo Branco tem entradas e saídas para essa via.
A actual e futura edil matou a participação de Nisa na Naturtejo; liquidou a Etaproni e a ADN (esta, com alguma razão) mandou os alunos interessados no ensino profissional para o Crato e continua a falar no projecto do Tejo, despejando uma associação de uma escola onde instalou o "tal" museu que o Costa visitou e que, provavelmente, lhe deu a vitória em Santana.
O "colete de forças" com as associações vai continuar, ainda com maior intensidade, dividindo-as em duas "áreas": as nossas (as do emblema PS) e as outras, as "hostis" e que não alinham com as nossas cores. Montalvão vai ser a próxima "batalha". Lamentavelmente, quando há tantas instalações devolutas e que poderiam servir para mil e um projectos em diversas áreas. Mas com a "maioria absoluta" a prepotência tem o mesmo sentido. Não faltará dinheiro para o supérfluo (as flores), mas será escasso para o essencial e necessário. A Câmara irá explicar por estes dias, qual a finalidade dos lavadouros da Fonte do Frade. Esperemos que não seja para pôr lá algum eleito da sua cor a "lavar a roupa"...
Mário Mendes
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