30.12.18

MONTALVÃO: IV Concerto de Natal e de Janeiras

Mais uma edição do habitual concerto de início de ano, promovida e organizada pelo Grupo Coral EmCanto, com a inestimável colaboração da Junta de Freguesia de Montalvão, em parceria com a Fábrica da Igreja Paroquial de Montalvão, sempre no âmbito da campanha para o restauro da Igreja Matriz.
Atuam neste concerto, por esta ordem:
- Grupo Coral EmCanto - direção de Luís Gonçalves Gomes;
- Ensemble Vocal Notas Soltas (Conservatório de Música da Maia - direção de Professor-Maestro Pedro Sousa;
- Coro Polifónico da Golegã "Cantar Nosso" - direção de Professor Maestro José Dias.
Como habitualmente, a encerrar o concerto os três agrupamentos interpretarão em conjunto "Canticorum Jubilo", de G.F. Haendel, seguindo-se a protocolar troca de lembranças entre os coros.

28.12.18

MEMÓRIA: 30 Anos da Escola Prof. Mendes dos Remédios - Suplemento do "Jornal de Nisa" - Dez. 2000





A 1ª edição do mês de Dezembro de 2000 do "Jornal de Nisa" integrava um Suplemento ou Destacável de 8 páginas sobre os 30 Anos da Escola Prof. Mendes dos Remédios. Foi um trabalho de grande profundidade e realizado com parcos meios, mas que serviu para fazer a história deste estabelecimento de ensino e dos principais obreiros que estiveram na sua origem. 
Na esteira de outros trabalhos, como os destacáveis sobre os professores Cruz Malpique - com que assinalámos, em 2002, o centenário do nascimento, após termos sugerido à autarquia a realização de comemorações condignas -, e Mendes dos Remédios, o quinzenário regionalista e independente de Nisa, procurou sempre dar relevo, tanto às figuras das artes e das letras que prestigiaram esta terra e concelho, como às associações e acontecimentos que contribuíram para o desenvolvimento ou marcaram a história deste território em que vivemos.

NISA: A festa do Mártir Santo em 2013 (I)












Fotos: Mário Mendes

27.12.18

MEMÓRIA DO JORNAL DE NISA - 1º Passeio TT INIJOVEM/REMAX (2006)

O Concelho Profundo Visto de 4 Rodas
Aquilo que começou por ser uma ideia e proposta de um grupo de sócios desta associação acabou por se traduzir numa das iniciativas de maior sucesso em 2006: O 1º Passeio Todo-o-Terreno INIJOVEM, sucesso a que não é alheio o intenso trabalho de gestação, preparação e de logística levado a cabo com quase 2 meses de antecedência, não só pela Direcção, mas acima de tudo por um grupo de sócios que quiseram também chamar a si a organização deste evento, bem como alguns voluntários que também prestaram a sua colaboração, se exemplos existem para ilustrar o que deve ser o ASSOCIATIVISMO, este é com toda a certeza um dos melhores!
Participaram 80 pessoas: 56 do Concelho de Nisa (Nisa, Alpalhão, Arez e Monte Claro), 9 de Alagoa, 9 de Portalegre, 2 de Abrantes e 4 de Lisboa, distribuídas por 28 viaturas que desfrutaram de uma oportunidade única para conhecerem o Concelho de Nisa de uma forma mais profunda, que até então a INIJOVEM só tinha dado a conhecer através da perspectiva pedestrianista/montanheira.
Foi marcado um percurso com cerca de 100 km entre Nisa, Termas da Fadagosa de Nisa, Arez, Amieira do Tejo, Vila Flor, Falagueira, Monte Claro (lanche matinal), Velada, Arneiro (almoço no Túlio), Serra de S. Miguel, Cume da Serra de S. Miguel (464 m de altitude), Vinagra, Pé da Serra e Nisa.
O percurso tinha alguns pontos de adrenalina com a travessia de algumas linhas de água, com destaque para o Ribeiro de Arez e a Ribeira de Palhais.
Mas o ponto alto do dia em termos de adrenalina foi, sem margem para dúvidas, a seguir ao almoço, no Arneiro, ao ponto 223, km 67,620, na subida para a Serra de S. Miguel, em plena PR4: Trilhos do Conhal (percurso pedestre de pequena rota), local onde foram rebocadas 6 viaturas.
O Passeio terminou em Nisa por volta das 18h30, com uma volta da praxe pela sede de Concelho e com um lanche ajantarado de confraternização na Garagem da Junta de Freguesia do Espírito Santo na Zona Industrial, onde organização, participantes e patrocinadores em amena cavaqueira fizeram o rescaldo deste 1º Passeio Todo-o-Terreno da INIJOVEM que a avaliar pelas opiniões gerais tem todas as condições para continuar em próximas edições!
A Direcção da INIJOVEM quer ainda aproveitar esta oportunidade para a agradecer a todos os que a nível pessoal ou colectivo apoiaram e/ou patrocinaram esta iniciativa, a saber:
- Re/max Confiança Nisa; Café D. Dinis Nisa; Francisco Maria Pinheiro (Agente Sagres) Tolosa; Kálip’s Bar Nisa; Oc’Opus Bar Nisa; Écomarché SuperNisa Supermercados, SA; AzCar Comércio de Automóveis Nisa; Mobiladora Nisense; Aventurnis, Eventos, Aventura e Lazer, Lda.; Restaurante Flor do Alentejo Nisa; Salchinisa; Juntas de Freguesia de Amieira do Tejo, Espírito Santo, Nossa Senhora da Graça, Santana, S. Matias, S. Simão e Tolosa; Câmara Municipal de Nisa; Guarda Nacional Republicana (Destacamento Territorial de Nisa); Sócio André Carita (Moto1); João Ricardo Catarino (Moto 2); Fernando Carrilho Marques (Tractor 2 na Serra de S. Miguel);Aos sócios: David Ferreira, Rafael Cebola, Pedro Ferrer (Secção de Campismo e Montanhismo da INIJOVEM), Nuno Cebola, Mário Rui Macedo, António Miranda e Hugo Tremoço.
A todos os participantes por terem aceite este desafio!
“ Passeio ultrapassou as expectativas e é uma iniciativa para continuar”  
- Nuno Cebola ( Remax /Confiança)
Nuno Cebola, gerente da empresa que em parceria com a Inijovem levou a efeito este 1º Passeio TT “À Descoberta do Concelho de Nisa”, mostrava-se satisfeito com esta primeira experiência no Todo o Terreno e convicto de que outros Passeios se seguirão.   
Como surgiu a ideia deste Passeio TT, quais os objectivos e porque é que aparece como patrocinador?
 A ideia surgiu de um grupo de sócios da INIJOVEM, os quais propuseram que fosse a Associação a ser a organizadora do Passeio. Os objectivos seriam essencialmente preencher uma lacuna que existia no nosso concelho, visto haver vários passeios deste tipo nos concelhos limítrofes e fundamentalmente criar mais uma iniciativa inédita em Nisa, a par de outras que a INIJOVEM já realizou e continua a realizar (por exemplo o Festival de Cinema). A RE/MAX surge como principal patrocinador a convite da associação, sendo a agência de Nisa a promotora.
A iniciativa correspondeu às vossas expectativas? Quais os aspectos mais importantes a destacar?
 A iniciativa ultrapassou as expectativas. Por ser a primeira e haver algum receio e cuidado para que nada corresse mal. Penso que o aspecto principal a destacar foi o convívio e a confraternização entre todos os participantes.
A limitação do número de participantes, deveu-se a algum cuidado ou questão, em particular?
 Principalmente porque fomos aconselhados por pessoas que já organizaram outros passeios e por ser o primeiro achamos que tinha que ser com um número reduzido de participantes para que corresse tudo bem, dentro das possibilidades. Ultrapassado o número limite de inscrições ainda houve bastantes pedidos que infelizmente não puderam ser aceites.
Esta primeira experiência pode considerar-se uma aposta ganha e para continuar? Em que moldes?
 Uma aposta ganha em todos os aspectos, havendo várias pessoas no final a reclamar outro passeio para a Primavera. Penso que agora será um momento de reflexão para podermos pensar noutro passeio, no entanto a haver um próximo será com certeza ainda melhor que este!
 Quer deixar alguma mensagem aos participantes?
 Aproveito para felicitá-los, acima de tudo pelo companheirismo e contamos com todos para o próximo que se vier a realizar.
Mário Mendes - Jornal de Nisa - Dezembro 2006

23.12.18

Morreu Catalina Pestana, a voz das crianças da Casa Pia

A antiga provedora da Casa Pia Catalina Pestana morreu aos 72 anos num hospital em Lisboa, vítima de doença.
De acordo com Miguel Matias, advogado da Casa Pia, Catalina Pestana estava internada numa unidade hospitalar em Lisboa e "morreu durante a noite" vítima de uma infeção generalizada, revela a agência Lusa.
Catalina Pestana foi nomeada em 2002 pelo Ministério da Segurança Social e do Trabalho, na altura tutelado por Bagão Félix, provedora da Casa Pia e era uma das vozes de defesa das vítimas do processo de pedofilia que abalou a instituição.
Permaneceu à frente da instituição até maio de 2007, quando o julgamento do caso Casa Pia ainda decorria.
Nascida em 05 de maio de 1947, viveu no Barreiro e fez o liceu em Setúbal, antes de ir estudar Filosofia para a Universidade de Letras de Lisboa.
Em 1975, assumiu a direção do Colégio de Santa Catarina, em Lisboa, funções que exerceu durante cerca de doze anos, até 1987. Depois, começou a dar aulas de Análise Sócio-Histórica da Educação na Faculdade de Motricidade Humana.
in www.jn.pt - 22/12/2018

22.12.18

VIDAS: Dionísio da Piedade Cebola (3.Ago.1883 - 28.Jan.1966)

Durante a primeira metade do século XX, Dionísio da Piedade Cebola foi uma das figuras mais populares, senão mesmo carismática, da vila de Nisa.
Casado com Emília da Cruz Bicho, de quem teve dois filhos, José Dinis e João Augusto, muito cedo enviuvou; voltou a casar com Maria José Zacarias.
De forte compleição física, de gesto aberto aos cumprimentos, altruísta por natureza, foi uma pessoa virada para a amizade e para a alegria.
A Troupe Jazz “ Os Fixes “ foi a bandeira comunicativa do seu perfil psicológico, com a sua inseparável viola – banjo.
Pertencente à confraria de Dionysos, grego, ou de Baco, romano, tanto fazia; se bem gostava do branco, melhor bebia do tinto.
Vizinho da Igreja Matriz, foi seu sacristão. Lembrava-se de usar uma opa encarnada e, na Quaresma, uma roxa, de ajudar à missa em latim com seus tempos de genuflexões e de mudar o missal do lado da Epístola para o lado do Evangelho. Possuía uma especial acuidade auditiva e distinguia o significado do toque dos sinos: matinas, missa, casamento, baptizado, anjinho, enterro, sinal de ano e trindades. Os quatro sinos tinham nome; lembro o Castelhano e a Campainha, virados a nascente. À Elevação, tinha que haver sincronismo entre o tinir da campainha, no altar, e o toque dos sinos, na torre. Nos dias em que sobressaía o som da Campainha, era sinal de anjinho. Logo apareciam expostos os caixotes de palmitos a cinco tostões ou, só a rosinha branca, a dois tostões, à porta das lojas dos senhores João Mendes e João Rosa, no Largo da Porta da Vila, nº 15 e 18, respectivamente.
Meu avô tinha a sua oficina de sapateiro na casa onde vivia, na Rua Direita, nº 12. Na loja trabalhavam oficiais, pagos à semana, e aprendizes que recebiam gorjeta pela entrega do calçado ao domicílio ou em dia festivo. O estatuto de oficial só se atingia com cinco anos de aprendiz. A disposição dos lugares na loja obedecia a certas regras. Havia hierarquia. À roda de pequenas mesas, sentava-se o mestre frente aos oficiais e de permeio os aprendizes. O mestre tinha o privilégio do melhor lugar, junto à janela, com o fim de não escapar algum bom-dia ou boa-tarde, a transeunte da Rua Direita.
Nesse tempo, esta zona urbana era a mais frequentada de Nisa, quer pelas inúmeras oficinas de sapateiro e de carpinteiro, tabernas e demais lojas, quer sobretudo pela afluência de pessoas aos serviços, tais como, a Câmara e as Finanças e suas Tesourarias, as sessões no Tribunal, a Igreja e o Hospital da Misericórdia, o Asilo de Nossa Senhora da Graça e ainda a Fonte da Praça, onde se bebia a cristalina água da Galiana ou se enchiam os cântaros pedrados, por vezes, com formação de bicha à sombra do frondoso plátano.
Das conversas com meu avô resultava, com frequência, o freguês ou o amigo serem convidados a visitar o seu mundo de coelhos, de pombos e de rolas.
Começava-se pela coelheira.
Acabara de apalpar a barriga da coelha preta e contara cinco coelhinhos. Era altura de arranjar uma loura de um caixote de barras de sabão, porque a gestação do mês estava no fim, e tinha de ir apanhar um punhado de leitugas ao Chão da Fonte da Aluada.
Seguia-se o pombal.
A pomba põe o primeiro ovo das quatro para as cinco da tarde e dois dias depois, passado o meio-dia, põe o segundo. A incubação dura cerca de dezoito dias. Cada postura pode gerar dois machos ou duas fêmeas. É casal quando os pelachos estão posicionados, no ninho, em sentidos opostos.
No pombal, o “ Fabri “ era a vedeta; este pombo chegou a ser largado de Coimbra, com escritos numa mortalha de cigarro, enrolada à anilha da Columbófila de Nisa de que meu avô era sócio fundador.
O pombal tinha o “ esqueleto “ que era uma gaiola montada no telhado para evitar a entrada de gatos e para apanhar pombos da vizinhança, ao chamariz de grãos de milho lançados a jeito. O que nunca tinha conseguido apanhar, dizia, tinham sido pombos-cambalhotas que passavam o dia inteirinho no cimo da torre (a que não tem sinos). Esta raça de pombos era única em Nisa e pertencia ao sr. Júlio Frade, morador paredes-meias com a Torre do Relógio.
Subia-se à varanda.
Neste patamar da visita, havia três gaiolas de casais de rolas penduradas na parede e uma gaiola grande, ao canto, onde coabitavam rolas mansas e bravas, pombos bravos com asas derreadas, vindos das caças de espera do Mato da Póvoa e do Azinhal, e um coelhinho bravo, apanhado à mão nuns juncos à Fonte da Cruz.
Como epílogo, por debaixo da latada, uns papa-ratos ainda quentinhos serviam de lastro a uns copinhos de vinho branco do sr. Sambado que tinha a adega na casa frente à Igreja Matriz.
O gosto de meu avô pelos animais já vinha de longa data.
Há cerca de cem anos, ainda havia um chabouco a poente do edifício da escola primária. Contava meu avô que tinha uns patos que ali passavam muito tempo e que iam e vinham para a sua capoeira.
Então comparava o que cinquenta anos depois acontecia com um rolo que tinha criado, resultante do cruzamento de um rolo bravo com uma rola dita da Índia (a fêmea brava não procria em cativeiro) e que ia às areinhas ao Jardim Municipal, sob a vigia do Ti Luís (Jardineiro). Este rolo chegava a ser largado do recinto de Nossa Senhora da Graça. O pobre do rolo acabou nas garras de um gato, ao entrar na gaiola da varanda.
Durante anos, as freguesias tinham um regedor cujas atribuições do cargo eram, por vezes, postas à prova. Contava meu avô, regedor da freguesia de Nossa Senhora da Graça que, um dia, em final de romaria de Nossa Senhora dos Prazeres, dois festeiros envolveram-se em grande sessão de pancadaria. O regedor da freguesia do Espírito Santo deu voz de prisão a um deles, mas constou logo que o dito preso pertencia à freguesia de Nossa Senhora da Graça. Foi o suficiente para meu avô intervir e dar ordem de soltura ao aprisionado. Restou-me saber se, no final da discussão, não teriam ido os quatro beber um copo na barraca mais próxima.
Em casa de meu avô, às segundas-feiras, aguardava-se a chegada do correio com os “Brados do Alentejo “, jornal estremocense que veiculava notícias do seu amigo Dr. António Garção, médico municipal, residente no Cano (Sousel).
Certo ano, o Jazz firmara contrato em ir abrilhantar os bailes de Carnaval ao Cano. O problema com os transportes era difícil de resolver por ser Domingo Gordo. Então, meu avô manda avançar o grupo para a paragem das camionetas e, num ápice, antes das nove horas, sai Rua Direita abaixo, bebe um copo de cinco no Henriques Esteves e, direito ao Dafundo, no Adelino Rascão, ainda o espera outro copo, agora acompanhado de uma sandes de atum (especialidade da casa). Já acelerado na Estrada das Amoreiras, passa à Curva da Morte e caminha até ao Alto de Palhais (a 2,5km) onde aguarda a carreira. Pouco espera. Chega a típica camioneta de cores encarnada e branca e, ao sinal de meu avô, pára. Ao entrar, logo abraça o Laurentino, o cobrador, a quem promete um copo em Fronteira (paragem para o almoço) e toca a ocupar um banco de dois lugares com a viola e outro com o estojo. A lotação estava assegurada. Chegados a Nisa, era uma chusma de gente para embarcar. O Jazz seguiu viagem e várias pessoas ficaram em terra.
A paragem das camionetas da Empresa Martins, concessionária das ligações Castelo Branco – Évora, situava-se em frente da actual Estação dos C.T.T., com horários às dez e duas e meia.
Frente a um programa de festas, meu avô comentava:
Às 8 horas – Alvorada pela Banda Municipal de Nisa (“É prá gente”)
Às 10 horas - Sessão de boas-vindas nos Paços do Concelho (“É p´ra eles”)
Às 11 horas – Missa solene na Igreja Matriz (“ É p´ra elas”)
Às 13 horas – Almoço (“É p´ra eles)
Às 16 horas – Procissão com o andor de Nossa Senhora da Graça (“ É p´ra gente”)
Que genuíno humor!!!
Arthur Odorico da Costa Raposo, chefe da Tipografia Borges Henrique que funcionou no local onde hoje é a garagem do prédio nº 9 da Praça da República, editou um opúsculo, em 1 de Dezembro de 1951 – Os Casamentos em Nisa – do qual transcrevo:
“Entre as pessoas presentes, há sempre alguém que se salienta mais, e, nesses casos está um sapateiro por ofício, músico nas horas vagas, excelente pessoa, estimadíssimo por todos, o qual atrai sobre si as vistas dos outros convivas, já pela sua apresentação alegre e folgasã, já pelas graças ditas a tempo e a propósito, já e ainda, pela sua movimentada actividade – transportando peças de carne, mexendo uma ou outra caçoula, onde a comida ferve, quer atiçando o lume, desta ou daquela fornalha, dando palmadinhas amigáveis aos presentes, saudando ruidosamente os amigos que chegam; numa palavra: é o grande – direi mesmo – o indispensável e exímio fomentador do riso, da alegria, em festas desta natureza, é ele, incontestavelmente, só por si, meia festa!” (pág. 23)
É ele, meu avô, Dionísio da Piedade Cebola.
Dionísio Cebola - in "Jornal de Nisa" nº 246 - Janeiro de 2008
Fotos- 1 - Com a segunda mulher e filhos
2 - Com o grupo jazz "Os Fixes"
3 - Na varanda, com outra das suas paixões: os pombos
4 - Dionísio da Piedade Cebola

NISA: Um poema, talvez, de Natal...


Lamentos de um sem-abrigo

A imensidão da luz solar, já não é minha
Ando perdido no Mundo. Nada tenho.
Não sei para onde vou, nem donde venho
Só me resta, o resto de uma vida pobrezinha.

É mórbida a vida que me definha
Já não tenho sonhos, nem fantasias
As noites são cada vez mais frias
E a minha alma penada vive sozinha.

Outrora, fui tocador de concertina
Trovador, poeta... um pouco louco!
Lentamente, de forma vaga e cretina

Tudo fui perdendo, pouco a pouco
Que só de me lembrar, me envergonho
Ficando sem direito ao amor e ao sonho.
José Hilário - Outubro de 2004

MEMÓRIA: Sessão Pública em Pé da Serra - Dezembro 2006

Casa cheia no lançamento de livro de José Hilário
Em Pé da Serra, aldeia do concelho de Nisa, decorreu no dia 23 de Dezembro, a sessão de apresentação do livro “Pinceladas de Poesia e Contos da Aldeia” da autoria de José Hilário.
A sessão teve lugar no Centro Cultural e Recreativo Amigos do Pé da Serra, um espaço amplo, mas que se tornou pequeno, face à afluência de amigos, conterrâneos e familiares do autor.
Numa sala cheia, de pessoas interessadas, iniciou-se, sem atrasos, a sessão cultural, com o grupo Filarmonisa, da Sociedade Musical Nisense, a fazer as honras da casa e a privilegiar toda a assistência, com meia hora de música de grande qualidade, sendo cada trecho sublinhado com fortes aplausos. Esta foi a melhor forma que a SMN - de que José Hilário foi presidente da direcção – encontrou para, na sua terra natal, lhe expressar a sua homenagem e associar-se a esta sessão de lançamento do livro, com pinceladas de música nos contos da aldeia. Atrás dos executantes, José Hilário, abria, também, as primeira páginas do primeiro livro a ser posto à disposição do público. Uma enorme fila de pessoas se dirigiram para o adquirir e logo ali, pelas mãos e pela caneta do autor, receberem o privilégio de uma dedicatória, de palavras simples e sentidas, a expressarem amizade e agradecimento.

A sessão de autógrafos foi interrompida, para dar lugar à sessão, propriamente dita, de apresentação do livro.
Na mesa da sessão, o autor, José Hilário, a vereadora do pelouro da Cultura da Câmara de Nisa, Fátima Moura e o director do Jornal de Nisa, Mário Mendes, autor do prefácio de “Pinceladas de Poesia, Contos da Aldeia”.
Numa sala ampla e fria, embora cheia de calor humano, foram breves as palavras de Mário Mendes, recordando, alguns dos excertos do prefácio, e lembrando que o livro era o tributo de um menino nascido na aldeia e que um dia se fez marinheiro e descobridor de outros mundos, gentes e lugares, sem, contudo, esquecer o lugar recôndito onde nascera, as brincas e os companheiros de infância. Essa aldeia – Pé da Serra – povoou, sempre, o seu imaginário e a ela retornou, como filho pródigo de regresso ao lar, após a sua passagem à situação de reforma, que não de inactividade.
Mário Mendes falou dos poemas que integram o livro, assim como das histórias, algumas  das quais classificou como sendo de “fino sabor popular e etnográfico” e que ajudam a compreender a odisseia das gentes destes lugares quase inóspitos, para tirarem da terra  sustento para a família e para a alimentação do corpo e do espírito dos seus filhos. Destacou, entre outras, a história do “Ti Manel dos Caixotes” e, logo alguém, de entre a assistência, se mostrava “incomodado” com a alusão ao seu nome. Questionou a mesa e a história do livro e fez questão de deliciar a assistência com a sua “versão” do mesmo conto da aldeia. Demorou ainda um pouco à assistência e ao próprio autor, perceberem, que estavam perante uma encenação, ensaiada para dar mais cor e vibração ao lançamento do livro, e interpretada pela jovem, Ana Margarida Marzia, animadora sócio-cultural pela Etaproni. Após a surpresa inicial, as pessoas reagiram, com manifestações de alegria e carinho, sendo o seu desempenho alvo de vibrantes aplausos.
José Hilário, emocionado, agradeceu a presença da população, dos músicos, dos colegas autarcas e dos amigos, dizendo que o livro era a concretização de um sonho antigo, só possível pelo apoio da família e de várias pessoas.
Fátima Moura, disse estar sensibilizada pelo convite à Câmara e que não podia faltar ao lançamento de uma obra de inegável valor, quer para a freguesia, quer para o concelho, e desta forma, associar-se a esta sessão cultural e de homenagem ao senhor José Hilário, uma pessoa bastante conhecida e a quem desejou os maiores êxitos na divulgação da obra.
Mário Mendes voltou ao uso da palavra para deixar três mensagens em forma de lembrança.
A primeira – disse – “para recordar, aqui, nesta aldeia, Carlos Franco Figueiredo, recentemente, falecido. O Carlos Figueiredo, foi um dos primeiros colaboradores do Jornal de Nisa e lembrá-lo, aqui, tem um significado especial. Ele escreveu, há 50 anos, talvez, uma das mais belas poesias sobre o Pé da Serra: o Poema da Aldeia em Festa.
A segunda – prosseguiu – “para homenagear os autarcas do concelho e do país, pelo que de bom fizeram para tornar cada lugar, aldeia, vila e cidade, com melhores condições de vida. É um tributo justo quando se assinalam 30 anos sobre as primeiras eleições para o poder local”.
A última lembrança, referiu, emocionado, “vai para um grande amigo e filho desta terra e que há muito nos deixou: Carlos da Cruz Ribeiro.
O Carlos esteve comigo na tropa, durante a especialidade, em Paço de Arcos, e depois, durante dois anos, na Guiné-Bissau. Foram anos de convívio, mais do que suficientes para perceber que estava perante uma pessoa de carácter excepcional que fez questão de me distinguir com a sua amizade. Não ficaria de bem comigo se não o recordasse aqui, hoje”.
Ana Margarida, recitou, a finalizar, um dos poemas do livro, dedicado à mãe do autor. Este, profundamente comovido, agradeceu e convidou todos presentes a tomarem parte no lanche convívio que tinha preparado.
A festa, porque de uma festa popular se tratou, prosseguiu e nós ficámos a pensar, como é preciso tão pouco para animar uma aldeia, neste caso, Pé da Serra, e dar-lhes, ainda que por momentos, o frémito de vida por que tanto anseiam.

O livro de José Hilário, conseguiu operar este “milagre”. Que outros lhe sigam o exemplo e que consigam transmitir aos vindouros, como nesta obra, os pedaços de memórias e de histórias, que passam a integrar o património local e livro aberto para outros livros e outras histórias que ajudam a preservar a raiz e a identidade de gentes e lugares.
O Pé da Serra é, sem dúvida, um desses sítios de eleição.
Mário Mendes in “Jornal de Nisa” – nº 222 – Janeiro de 2007

21.12.18

NISA: Vem aí as Festas do Mártir Santo


NISA - Natal: O Silêncio dos Inocentes

Mais um ano dado por passado, mais uma consoada se aproxima: luzes, prendas, é este o espírito natalício.
Para nós é um Natal sem neve, mas nem por isso deixa de ser Natal, o que para alguns, com neve ou sem neve, esta época é sempre como outra triste qualquer. Que diferença lhes faz comer bacalhau com a respectiva couve e batatas? Pois talvez já não conheçam o seu sabor!
Perante o frio cortante, debaixo de mantas ou dentro de caixas de papelão, vêem os pinheiros brilhantes nas moradias; ouvem as badaladas da meia-noite, e esta gente, simplesmente permanece na consoada de todas as noites.
É nestas alturas, principalmente, que nos devemos imaginar nessas condições, só assim a nossa opinião sobre esta quadra começa a mudar.
Natal é Verdade!
Natal é Justiça!
Natal é Amor!
Natal é Liberdade!
Diz a velha canção que a cada ano que passa entra pelos nossos ouvidos, mas, em plenas ruas, em plenas esquinas, o Natal de muita gente resume-se simplesmente em “nada”.
Pessoas que talvez, já nem se lembrem de como é abrir um presente, de como é estar em família e dizer: Feliz Natal.
De facto ninguém é igual, nem todos nasceram com um lugar no mundo. Claro que nem sempre podemos ajudar o próximo, mas pensar nas diferentes formas de viver o Natal faz parte da palavra Solidariedade, a primeira regra do Ser Humano.
Patrícia Porto – Notícias de Nisa” – 24 Dez. 1997

... E o Inverno chegou!

Inverno
E partem os pássaros
Já não os oiço cantar
Se não os posso escutar
Como poderei amar?

Porque os sonhos partiram
Levando as esperanças
Que no céu se sumiram
P´ra nunca mais voltarem

Dóceis, negras e tristes
Andorinhas, a gritar
Mas tu ave sorriste,
Dizendo p´ra eu não chorar.

Pois logo a Primavera
Com a sua alegria,
Voltaria a regressar
Tudo de fresco a pintar

De verde as pradarias
D´um azul o céu e o mar
De dourado as alegrias
E de prata pura o ar.

Mas é triste o Inverno
Em todo o seu choro e dor,
Tudo acaba por morrer,
Por perder, toda a cor.

Maria Luísa Afonso

17.12.18

NISA: Poetas do Concelho - Ti Zé do Santo

JÁ ERA TEMPO DO HOME(M)
Já era tempo do home(m)
Já era tempo também,
De dar pão a quem tem fome,
Trabalho a quem não o tem.
I
Se a vida é um paraíso
Para os que vivemos na terra,
Fabricar armas de guerra,
A meu ver, não é preciso.
Tomem conta neste aviso,
A minha ideia não dorme,
Esta mágoa me consome.
Querer todo o mundo em sossego
Para acabar com o desemprego
Já era tempo do home(m)
II
Construir centrais eléctricas,
Fazer muita viatura,
Socorrer a agricultura
Em vez de minas magnéticas.
Da Ásia às duas Américas
Em armas não ter ninguém.
Explorar o que a terra tem
Para a vida mecanizar,
Dessalgar águas do mar,
Já era tempo também.
III
Há tanto que vem debatido
O mercado comum europeu,
Ainda alguns estão com receio
Que ele não seja resolvido.
Tragam trigo donde há trigo,
Onde o povo o não consome;
Levem-lhe cortiça, ou conforme
O que necessita a vida interna.
É dever de quem governa
Dar pão a quem tem fome.
IV
Sou cavador é verdade,
Mas rogo a vossas excelências,
Para que empreguem as ciências
A bem da humanidade.
Ponham as armas de lado,
Não queiram matar ninguém;
Cada um que filhos tem,
Não os quer ver na batalha.
Valorizem quem trabalha,
Trabalho a quem o não tem.
Ti Zé do Santo (José António Vitorino)

Já conhece a Adega de Nisa Restaurante? Faça-lhe uma visita!


A Adega de Nisa Restaurante surge na continuidade de um projecto familiar, criado a 14 de Abril de 2006 no Crato.
Localizado agora na vila de Nisa (na antiga “Churrasqueira”) apresenta uma cozinha com diferentes sabores, desde as entradas variadas, passando pelos pratos tradicionais, tais como: Migas de batata com entrecosto, ensopado de borrego, vitela alentejana com migas de espargos. Para aconchego da refeição não faltam os doces conventuais e o já famoso “Não me comas que sou fraco”. Ainda pode desfrutar de uma variada ementa de tradições, em que a Adega dá a conhecer outros sabores.
Durante a semana tem à sua disposição o "Menu Adega" que consiste numa refeição completa por apenas 7,50€.
A Adega de Nisa Restaurante serve comida vegetariana e para além disso, tem preços especiais para grupos, bem como adapta a ementa para cada ocasião.
A Adega dispõe de serviço TAKE WAY.
Situada na Rua Dr. João Maria Porto (antiga rua do Depósito das Águas), a Adega de Nisa Restaurante está preparada para o receber de Terça- Feira a Domingo das 12h ás 15h e das 19h ás 22h. Encerra às Segundas-Feiras.


Contactos: telemóvel 968 087 480 / telefone:  245 092 228
Sugerimos uma visita à página de facebook: Adega de Nisa – Restaurante

MEMÓRIA - Azeitona e produção de azeite em Amieira: Um pouco de história

A cultura mais antiga da freguesia de Amieira deve, porém, ser a da oliveira, de que ainda agora há exemplares velhíssimos que narram a história da oliveira desde tempos longínquos na nossa terra.
Já lá vão os tempos em que entre nós existiam muitos e velhos lagares de vara e fuso, quase todos situados ao longo da Costa da Ribeira, que mais tarde foram substituídos por outros mecânicos e mais aperfeiçoados e com capacidade para uma maior produção.
Ainda não há muitos anos era de 11 o número dos velhos lagares de Amieira e seu termo, sendo 8 na Ribeira da Maia, 1 em Vila Flor, 1 no Ribeiro das Correia e 1 na Fonte Branca. Dos da Ribeira da Maia estavam uns na margem direita junto à passagem para a Fonte da Cal e outros mais abaixo na margem esquerda, junto à ponte do rio.
Desde D. Afonso Henriques até 1834 pertenceu à Ordem de Malta o monopólio dos lagares de azeite, dando ela, todavia, autorização a quem lhe a solicitasse para a construção de lagares, mediante o pagamento de certa pensão ou renda.
Mas a oliveira é muitíssimo mais velha, remotamente muitíssimo mais velha em Amieira, desta circunstância vindo e da sua produtividade e excelência de frutos, o motivo de à Vila ser dado desde longe o qualificativo de Amieira do Azeite e aos seus habitantes a alcunha regional de “Bagaceiros”.
Deixando uma pouco para trás a sua história, Amieira não foi muito feliz na produção de Azeitona e Azeite em 1990. A azeitona foi pouca, de pouco aproveitamento porque muita desta se encontrava bichosa e podre. A acidez do Azeite foi bastante elevada, não nos permitindo ter o tão famoso e precioso líquido com tão elevada e acostumada qualidade.
Jorge Pires - “O Amieirense” – Dez. 1990

15.12.18

VIDAS - Manuel Malpique Rufino: Um artista do ferro

Nisa, terra de artes e artistas. Aqui damos a conhecer mais um artífice da “velha guarda”, daqueles que ainda aprendiam um ofício, cinco anos a trabalhar de borla, como compensação para o “pagamento” ao mestre, da aprendizagem e dos conhecimentos recebidos.
Manuel Malpique Rufino, 72 anos, nado e criado e Nisa é um verdadeiro artista e com propriedade se pode dizer que “foi talhado a ferro”. Na arte, vontade e espírito de criação que transmite a cada peça que transforma. A partir do ferro ou da “folha de flandres”.
Foram muitos os anos em que Manuel Malpique Rufino a prendeu e praticou como meio de vida e subsistência, a “arte do ferro”, num tempo em que ser ferreiro era sinónimo de vida dura e fraco sustento.
Ainda assim a arte alimentava a boca de muitas famílias e os trabalhos das oficinas existentes em Nisa que chegaram a ser mais de meia dúzia, eram sustentados pela vida rural e agrícola.
Alfaias, ferramentas, utensílios, grades, portões, noras, carroças e carretas, eram muitos os equipamentos a que davam assistência, reparando o fazendo de raiz, por vezes durante a noite, porque a vida no campo não podia parar.
Enxadas, picaretas, forquilhas, foices, tinham que estar bem afiadas no dia seguinte para retomar a faina nos campos.
“Comecei a aprender na oficina do meu pai e do meu tio na Rua da Devesa, ainda andava na escola, na 4ª classe. Ali aprendi o ofício e havia sempre trabalho para todos os ferreiros. O pessoal do campo só podia ter uma ferramenta, não tinha posses para mais e grande parte do nosso trabalho era aguçar ferramentas, à noite, para servirem no dia seguinte”.
A trabalhar na oficina desde os 11 anos e até aos 50, Manuel Rufino entrou depois para o serviço da autarquia nisense, onde se reformou.
A sua vida tomou um novo rumo, com muito tempo disponível e havia que definir o que fazer, entre o gosto pelas suas paixões: a leitura, a pesca e o andar de bicicleta.
Sobrava-lhe, ainda, muito tempo e esse foi canalizado para a sua arte. NUM canto da casa instalou uma oficina e sem calendário pré determinado meteu mãos à obra e foi fazendo “obras”, autênticas, de arte, em ferro ou folha de flandres.
Estão ali à mostra na sua casa que é, ela própria, um museu da arte do ferro. Móveis, estantes, mesas, portas, molduras de espelhos, tudo artisticamente trabalhado e em “bruto”, ornamentam e dão ao seu lar, um toque pessoal, diferente e de orgulho.
Mas foi na sua garagem que fomos encontrar o seu “Museu do Ferreiro”.
Ali estão, estrategicamente dispostas, peças únicas, em ferro, retratando cenas da vida rural, monumentos e sítios de Nisa, utensílios e ferramentas utilizadas na agricultura e até, calcule-se, uma reprodução das antigas oficinas de ferreiro onde não falta, sequer, a forja, esse instrumento de trabalho que poucas saudades deixava a quem a utilizava, tal a dureza da função.
Manuel Rufino diz que faz as peças para “estar entretido e não pensar noutras coisas”. É uma ocupação artística, que lhe preenche grande parte do dias e o estimula a novos desafios, procurando sempre fazer outras peças, a seguinte mais difícil e pormenorizada que a anterior.
Os seus trabalhos vão ser mostrados durante a Nisartes e bem merecem uma atenta visita do público. De Nisa e de outras partes do país, porque estão ali, embutidas no ferro, muitas histórias e memórias da nossa vida recente.
Mário Mendes in “Jornal de Nisa”nº 260 23/7/2008